Empresas de investimento estão adquirindo companhias japonesas em ritmo recorde, impulsionando um verdadeiro frenesi de compras que agora alcança negócios de porte médio e pequeno.
As fusões e aquisições realizadas por fundos de investimento totalizaram 5,03 trilhões de ienes (US$ 33 bilhões) entre janeiro e setembro, segundo a Recofdata. Trata-se do maior valor já registrado para o período, um salto de 80% em relação ao ano anterior.
Os fundos estrangeiros lideraram o movimento: as aquisições feitas por esses investidores quase dobraram, atingindo 4,16 trilhões de ienes — superando o recorde anterior de 3,26 trilhões, estabelecido em 2022.
O interesse se expandiu além das grandes empresas listadas, chegando também a companhias regionais e de médio porte. O número de fusões e aquisições fora de Tóquio e Osaka ultrapassou 400 transações em 2024, o maior volume em pelo menos uma década — e a tendência segue firme.
Entre os exemplos mais recentes está o investimento do fundo americano L Catterton, vinculado ao grupo LVMH, na Seki Furniture, importante atacadista de móveis com sede na província de Fukuoka. Sob a nova liderança, a empresa pretende acelerar a abertura de lojas e ampliar as vendas corporativas. “A Seki Furniture está bem posicionada para captar a demanda do setor de restaurantes e hotéis”, afirmou um representante da L Catterton.
O fundo também adquiriu neste ano a Kisshokichi, uma rede de restaurantes especializada em carne bovina de Kobe.
Em agosto, a SMBC Capital Partners, braço de investimentos do grupo Sumitomo Mitsui Banking Cororation, anunciou a compra da NJT Copper Tube, fabricante de tubos de cobre e alumínio usados em trocadores de calor para ar-condicionado e aquecedores. A SMBC vê potencial para expandir as operações da NJT no exterior.
Outro movimento relevante veio da Mercuria Holdings, que decidiu adquirir a corretora imobiliária Big, de Sapporo. O fundo pretende apoiar a expansão nacional da empresa por meio da digitalização de suas operações.
Companhias não listadas em regiões periféricas tendem a ver nas aquisições uma forma de garantir parceiros com recursos para explorar novos mercados. A falta de sucessores também pesa nessa decisão: segundo o Teikoku Databank, mais da metade das 270 mil empresas pesquisadas em 2024 não tinha herdeiro designado.
Enquanto cresce a pressão dos acionistas por eficiência de capital, algumas empresas priorizam o crescimento de longo prazo — mesmo que isso signifique sair da bolsa.
A TechnoPro Holdings, grande empresa de recrutamento voltada à tecnologia, aceitou uma proposta de US$ 3 bilhões do grupo americano Blackstone para fechar o capital e continuar investindo em treinamento de engenheiros.
O interesse em operações de buyout e fechamento de capital segue forte. Uma pesquisa da Associação Japonesa de Private Equity mostra que 33% dos fundos esperam aumento desse tipo de aquisição, ante 25% no ano fiscal anterior.
Gigantes globais do setor reforçam o movimento. O Carlyle Group lançou recentemente um megafundo de 430 bilhões de ienes com foco no Japão, enquanto o Warburg Pincus abre um escritório em Tóquio.
O ambiente de fusões e aquisições, porém, não garante sucesso. A fabricante de semicondutores JS Foundry e a fornecedora automotiva Marelli Holdings, ambas controladas por fundos (Mercuria e KKR, respectivamente), recorreram à recuperação judicial neste ano.
Além disso, parte do capital estrangeiro está sendo redirecionada da China para o Japão, diante dos riscos geopolíticos no mercado chinês — o que levanta preocupações sobre uma possível supervalorização dos ativos. “Há muito dinheiro disponível, e a competição por aquisições está se acirrando”, alertou o chefe de um fundo de investimento japonês.
Fonte: Valor Econômico