Executivos de “private equity” preveem um forte aumento no volume de fusões e aquisições, porque as firmas especializadas em compras de participações controladoras, que vinham evitando vender ativos na esperança de uma alta nos preços, enfim, começam a ceder nas negociações.
Desde o pico em 2021, houve uma grande queda nas vendas do controle de empresas que fazem parte das carteiras de investimento das firmas de private equity, uma vez que a alta dos juros dificultou a captação de dinheiro pelos possíveis compradores e pressionou o valor das participações para baixo.
Agora, muitos cotistas que investiram em fundos especializados em comprar participações controladoras começam a aumentar a pressão para que vendam participações mantidas há muito tempo nos portfólios e comecem a dar-lhes retorno financeiro. Isso, no entanto, vem forçando os fundos a aceitarem preços mais baixos e garantir os retornos.
“Os vendedores têm aceitado [a ideia de] valores mais baixos, e a pressão para que atinjam um determinado retorno sobre o investimento está aumentando”, disse Pete Stavros, cochefe de private equity global da KKR, ao “Financial Times” no Fórum Econômico Mundial, em Davos.
As empresas começaram o ano com um recorde de US$ 2,8 trilhões em investimentos, criando o que a firma de consultoria Bain & Co chamou em 2023 de “um acúmulo gigantesco” de vendas potenciais. Muitos investidores em fundos de private equity começaram a exigir retornos financeiros antes de se comprometerem a investir dinheiro novo, o que aumenta a urgência das vendas de ativos.
“Nos últimos 24 meses, houve um descompasso entre as expectativas de valores dos compradores e as dos vendedores. Agora, há um senso real de pragmatismo se instalando”, disse Anna Skoglund, que lidera o departamento de investidores financeiros e estratégicos europeus no Goldman Sachs.
Em 2023, a Veritas Capital, firma de private equity dona da empresa de softwares de saúde Cotiviti, havia acertado a venda de uma participação de 50% para a Carlyle, em acordo que avaliava a empresa em até US$ 13 bilhões, mas a transação acabou sendo cancelada. Em dezembro, o “FT” noticiou que a KKR agora está em negociações, mas trabalhando com uma avaliação de US$ 11 bilhões.
Dados de captação de recursos sugerem que o dinheiro que antes fluía com facilidade para o setor começou a secar, agravando o problema para as firmas de private equity. O montante captado mundialmente pelos fundos setor em 2023 atingiu o menor nível em seis anos, segundo a S&P Global.
“Para que o negócio de alternativas funcione adequadamente, precisa haver um fluxo de dinheiro voltando para os [investidores], para que eles reinvistam na nova geração de fundos”, disse Skoglund.
Algumas firmas estão sentadas em pilhas de dinheiro, depois de terem acumulado quantias recorde de capital que ainda não usaram, o que agora lhes dá a oportunidade de impulsionar os retornos por meio de novos investimentos.
Os compradores estão prontos para assinar uma série de negócios, uma vez que os preços começam a refletir as novas realidades, como o custo de captação mais alto e as condições econômicas mais incertas, segundo executivos de alguns das maiores firmas do setor.
“Este é um bom momento para se aproximar”, disse Scott Nuttall, coexecutivo-chefe da KKR. “Há menos concorrência por negócios e os múltiplos [de preço em relação ao lucro almejados] diminuíram.”
Nuttall e outros líderes do setor acreditam que os mais beneficiados serão os fundos que estão justo começando a fazer novos investimentos. “É em períodos como este que historicamente alcançamos nossos maiores retornos”, disse Nuttall.
Especialistas em fusões e aquisições preveem que as vendas de ativos entre as próprias firmas de private equity terão uma retomada especialmente forte. Nos últimos anos, essas transações representaram cerca de metade da atividade total de fusões e aquisições, mas em 2023 caíram para o nível mais baixo nos Estados Unidos em dez anos, segundo a provedora de dados PitchBook.
“Haverá portfólios que estarão mais pressionados e você terá firmas de private equity em bom estado prontas para fazer lances por alguns desses ativos”, disse Rob Lucas, sócio-gerente da CVC Capital Partners.
Fonte: Valor Econômico

