De bancos globais a gestores de fundos alternativos, mais executivos seniores do setor financeiro alertam para fragilidades no crédito privado.
Nesta quarta-feira, durante um fórum em Hong Kong, a CEO do TCW Group, Katie Koch, disse estar “muito nervosa” em relação a alguns aspectos do crédito privado. Tony Yoseloff, diretor de investimentos da Davidson Kempner Capital Management, afirmou que houve uma “corrida para o fundo do poço” em termos de cláusulas contratuais.
Os comentários surgem no momento em que o crédito privado — ou seja, empréstimos concedidos fora do setor bancário altamente regulamentado — cresceu exponencialmente, para uma indústria de US$ 1,7 trilhão. Alguns bancos optam por colaborar com instituições de crédito privado para ganharem taxas e acessarem fontes cada vez maiores de capital, enquanto outros afirmam que essas parcerias são arriscadas e podem afetar negativamente o setor bancário.
A gestora de ativos TCW, com sede em Los Angeles, nos EUA, está atualmente com uma exposição ao crédito 15% underweight (abaixo da média do mercado), afirmou Koch na Cúpula de Investimentos dos Líderes Financeiros Globais. Yoseloff disse em outro painel que o impacto do crédito privado é particularmente sentido nos EUA, e “a realidade é que houve uma corrida para o fundo do poço em termos das cláusulas contratuais oferecidas e dos cupons obtidos”.
Eles conversaram um dia depois de o chairman do UBS Group, Colm Kelleher, ter destacado riscos na indústria de seguros nos EUA, e apontou a regulamentação frágil e complexa, enquanto o financiamento privado se expande.
Nos últimos anos, as seguradoras de vida dos EUA intensificaram seus investimentos em dívida privada, ao alocar quase um terço de seus US$ 5,6 trilhões em ativos para o setor no ano passado, ante 22% uma década atrás, segundo dados compilados pela empresa de pesquisa CreditSights.
Marc Rowan, CEO da Apollo Global Management, rebateu as declarações de Kelleher em uma teleconferência de resultados, e afirmou que ele estava “simplesmente errado”. A unidade de seguros Athene Holding, da Apollo, utiliza principalmente as três maiores agências de classificação de risco para avaliar seus ativos, enquanto a maioria dos balanços dos bancos não possui nota de crédito, disse Rowan.
Ainda assim, Rowan concordou que existem riscos representados por jurisdições offshore que não possuem os mesmos padrões regulatórios e de classificação que os EUA. Ele destacou as Ilhas Cayman, mas disse que existem outras também.
“Portanto, Colm não está errado neste momento do ciclo de crédito ao afirmar que existem riscos sistêmicos se acumulando”, disse Rowan na teleconferência com analistas.
Chris Gradel, cofundador da PAG, disse no fórum de Hong Kong que existem áreas que precisam ser monitoradas na dívida privada, como descasamentos de liquidez e financiamento por meio de veículos abertos. Na Austrália, existe até mesmo financiamento por meio de fundos de varejo que podem ser comprados e vendidos diariamente, afirmou.
“Sou extremamente cético em relação a esses produtos semilíquidos”, disse Gradel. “Gerenciar investimentos ilíquidos em uma estrutura aberta é extremamente difícil.”
Ele sugeriu maior supervisão regulatória, inclusive das seguradoras que financiam dívida privada e outras alternativas. Gradel acrescentou a ressalva de que o setor de dívida privada “ainda não é grande o suficiente para representar um risco sistêmico real”.
Fonte: Valor Econômico

