O investidor veterano Jonathan Heller lançou recentemente sua própria gestora de fundos hedge depois de conseguir levantar cerca de US$ 1 bilhão. Todo o dinheiro inicial veio de outro fundo hedge.
A Millennium Management, de Izzy Englander, ainda deu a Heller uma opção para comprometer mais dinheiro ao longo do tempo, segundo fontes a par do assunto. A firma de Heller, a Helix Partners Management, negocia títulos e derivativos ligados a empresas em dificuldades financeiras ou falidas, como a antiga controladora do Silicon Valley Bank (SVB).
Os maiores fundos hedge do mundo estão nadando em mais dinheiro do que nunca – é tanto capital que vários deles decidiram alocar bilhões de dólares em outras gestoras. Isso é um subproduto da divisão existente hoje entre os fundos hedge que “têm” e os que “não têm” capital. Nos últimos três anos, os ganhos dos 20 principais gestores de fundos hedge representaram 83% do total do setor, segundo a consultoria LCH Investments. Empresas com mais de US$ 5 bilhões sob gestão detêm quase 73% dos ativos de fundos hedge, de acordo com dados da HFR.
Grande parte dessa concentração resulta dos novos ativos que vêm se acumulando na mãos de fundos hedge do tipo multiestratégia. A Millennium, a Point72 Asset, de Steve Cohen, a Balyasny Asset e outras gestoras do tipo distribuem dinheiro por dezenas ou até centenas de equipes com estratégias de investimento distintas.
Entre as gestoras de fundos hedge de multiestratégia acompanhadas pelo Goldman Sachs, 61% agora alocam pelo menos algum capital para empresas ou gestoras externas. Em dezembro de 2022, a porcentagem era de 52%.
“Alguns desses grandes [fundos hedge] de multiestratégia têm mais capital do que capacidade”, disse Roark Stahler, chefe de consultoria estratégica nos EUA na unidade de corretagem do Barclays. “Fazer uma alocação externa é uma ótima maneira de colocar o dinheiro para trabalhar.”
Historicamente, os gestores de fundos hedge ocasionalmente terceirizavam uma parte do dinheiro para casas externas, em especial para funcionários que estavam criando as próprias empresas. O que mudou é a estrutura, o tamanho e o ritmo desses arranjos, assim como a capacidade de alavancar sistemas que dão suporte a milhares de profissionais de investimento.
Muitas gestoras de multiestratégia investem em terceiros por meio de contas gerenciadas separadamente, às quais podem dar financiamento e sobre as quais têm poder para definir controles e limites de risco e visualizar posições em uma carteira. Em vez de emitirem um cheque que vai para um fundo comum, muitas oferecem bilhões de dólares em poder de compra de seus próprios balanços para terceiros, de forma parecida ao que fariam com as próprias equipes de investimento.
Alimentar novas firmas de fundos hedge dessa maneira também dá às empresas de multiestratégia uma maneira de lucrar com gestores de portfólio de renome que não querem trabalhar formalmente para as gigantes, segundo Stahler, do Barclays.
Os fundos hedge costumam cobrar de seus investidores os custos com os gestores externos, assim como fazem com a remuneração de seus funcionários. Isso é mais aceitável para alguns investidores de fundos do que precisar pagar taxas separadas a um gestor externo além do que pagam a uma asset.
Alguns investidores da Woodline Partners, uma firma de fundos hedge com sede em São Francisco fundada por ex-funcionários da Citadel, criticaram as taxas adicionais que precisaram pagar quando a empresa investiu centenas de milhões de dólares em um fundo hedge comum lançado por outros ex-funcionários da Citadel, a Ilex Capital Partners, com sede em Londres, segundo fontes a par do assunto.
Uma das firmas de fundos hedge mais atuantes em fazer alocações externas é a Millennium Management, que atualmente administra cerca de US$ 68 bilhões, mas, incluindo dinheiro emprestado, tem uma presença de mercado de cerca de US$ 500 bilhões. Até há alguns anos, a firma fazia negócios, em menor quantidade, com gestores externos, como o financiamento aos ex-executivos Feng Guo e Michael Robinson de mais de US$ 1 bilhão quando eles lançaram a Symmetry Investments há cerca de dez anos.
Por volta de 2021, acelerou o ritmo dos investimentos externos, em particular com gestores de portfólio sem vínculos anteriores com a Millennium Management, muitas vezes como fornecedora exclusiva de capital por certo período, segundo fontes próximas à firma.
A Kodai Capital Management, que tem sede em Chicago e atua principalmente apostando em ações de tecnologia ou contra elas, e a Burkehill Global Management, uma empresa nova-iorquina de corretagem de ações, receberam dinheiro da Millennium Management naquela época, de acordo com a fontes.
Mais recentemente, a Millennium Management deu bilhões de dólares à Taula Capital, uma firma londrina de fundos hedge com orientação macroeconômica fundada pelo ex-operador da Millennium Management, Diego Megia. Alguns dos maiores lançamentos esperados para o fim de 2024 ou início de 2025, como a Sone Capital, de George Panos, estão em negociação com a Millennium Management para receber grandes alocações, segundo fontes.
Outras firmas de multiestratégia vêm fazendo transações semelhantes. A Balyasny recentemente deu dinheiro à Landmark Investment Partners, um fundo hedge com sede em West Palm Beach, na Flórida, especializado em ações no setor imobiliário, de acordo com fonte a par do assunto.
Uma exceção é a Citadel, de Ken Griffin, que raramente aloca dinheiro em outros fundos hedge e prefere se concentrar internamente no desenvolvimento de talentos. A empresa fez uma exceção para a Candlestick Capital, uma firma de fundos hedge fundada pelo ex-gestor de carteiras da Citadel, Jack Woodruff, em 2019, segundo fontes. Pelo acordo de investimento na Candlestick, a Citadel recebe uma parte das receitas da empresa.
Algumas grandes firmas de investimento quantitativo, como a Qube Research & Technologies e a Squarepoint Capital, estão financiando gestores externos de ações e títulos de dívida para complementar suas estratégias de apostas guiadas por algoritmos.
Fonte: Valor Econômico
