João Carlos Mansur, fundador da Reag Investimentos, que reúne as atividades de gestão de fundos e de fortunas, acertou com os sócios-executivos a venda da sua participação na companhia, no chamado “management buyout”. O acordo foi assinado em reunião do conselho de administração no sábado e divulgado neste domingo em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A transação envolve 87,38% do capital social, num valor estimado de R$ 100 milhões, sujeito a parcela contingente variável vinculada à receita operacional líquida da companhia num prazo de cinco anos. Na sexta-feira, os papéis eram negociados no pregão da B3 a R$ 2,81, o que significa que a parcela de Mansur valeria cerca de R$ 345 milhões.
A companhia passou a listar seus papéis em janeiro, após uma série de arranjos societários e de um “IPO reverso”, decorrente da aquisição da GetNinjas. Na ocasião, estavam cotados a R$ 5,32. Não está previsto desembolso de caixa num primeiro momento, segundo fonte a par das tratativas.
A operação foi feita via Reag Asset Management e Reag Alpha Fundo de Investimento Financeiro em Ações, de um lado e, na ponta compradora a Arandu Partners Holding, entidade detida pelos principais executivos da companhia. Uma oferta pública de aquisição de ações deve ser realizada após cumpridos ritos comuns a esse tipo de negócio estendendo os efeitos aos minoritários.
O acionista controlador sai totalmente do negócio, mas permanece em outras empresas do grupo, como a Ciabrasf, que atua na administração de fundos e em serviços fiduciários. Mansur formalizou a renúncia ao cargo de presidente do conselho de administração da Reag Investimentos. Altair Tadeu Rossato também apresentou renúncia como membro independente e membro do comitê de auditoria, enquanto Fabiana Franco ao posto de diretora financeira da companhia.
O acordo de Mansur com os sócios busca estancar uma crise reputacional que atingiu o grupo após a Operação Carbono Oculto, que executou busca e apreensão na sede da Reag e da Ciabrasf, em 28 de agosto, e em outras instituições do circuito da Faria Lima, em São Paulo.
As investigações apontaram mais de uma dezena de fundos sob administração do grupo que teriam sido usados para fins ilícitos pelo crime organizado.
A Reag chegou a divulgar, em 2 de setembro, fato relevante em que informava negociar a venda do bloco de controle. Mas no meio de uma crise reputacional, fechar um negócio rapidamente com tantas questões pendentes mostrou-se algo de difícil execução.
A Reag Capital, holding do grupo, também divulgou fato relevante tratando do management buyout. “A decisão da operação foi tomada com o objetivo de proteger a integridade e a reputação da Reag Investimentos S/A, seus colaboradores, clientes e acionistas, diante das recentes e infundadas especulações às quais a companhia foi submetida, sendo esta a medida mais prudente para assegurar que a condução dos negócios e a governança corporativa permaneçam inabaláveis, sem qualquer interferência de tais narrativas.”
Com mais de R$ 340 bilhões sob o seu guarda chuva, a Reag teve crescimento acelerado nos últimos anos, com atalhos via aquisições, além de ganhar mandatos de fundos exclusivos, usados por indivíduos de alto patrimônio e por empresas para uma melhor eficiência tributária. Em 2020, tinha cerca de R$ 25 bilhões.
Como administradora, a companhia tem o dever de fazer processo de diligência, conhecer o cliente, a origem do patrimônio. Já como gestora tem de assegurar que os recursos não sejam usados para lavagem de dinheiro ou para financiar atividades ilícitas.
Dos 12 fundos citados na Operação Carbono Oculto, atribuídos à responsabilidade da Reag, boa parte efetivamente ligada a determinados cotistas, a casa renunciou à prestação de serviço de oito, desde maio de 2024, segundo fonte com conhecimento do assunto. Alguns foram transferidos para outros administradores. Na sua base, a Reag tem quase 1 mil fundos.
A empresa abriu uma sindicância interna para apurar se houve falhas de conformidade nas suas rotinas. Um funcionário que apareceu nas escutas da investigação da Polícia Federal se queixando do compliance já tinha sido desligado no primeiro semestre, diz esse interlocutor.
A companhia atrasou a divulgação de duas demonstrações financeiras e alguns fundos citados nas investigações foram também alvo de processo na CVM. O regulador também questionou a aquisição das ações da GetNinjas, tendo rejeitado um termo de compromisso proposto em processo sancionador
Fonte: Valor Econômico

