A candidatura do fundador da Foxconn, Terry Gou, tornou-se um ponto focal das manobras entre os Estados Unidos e a China sobre as próximas eleições presidenciais de Taiwan.
O Gabinete de Assuntos de Taiwan da China reconheceu na quarta-feira uma investigação das autoridades fiscais sobre as principais bases da Foxconn no continente, logo após reportagem publicada no domingo no “Global Times”, afiliado ao Partido Comunista da China.
“É uma prática normal que as autoridades da China continental conduzam investigações com base na lei, tratando todas as empresas igualmente”, disse o porta-voz do Departamento de Assuntos de Taiwan, Zhu Fenglian, em entrevista coletiva. Como as empresas taiwanesas partilham dos benefícios que desfrutam no continente, “devem assumir as responsabilidades sociais correspondentes”, disse ela.
Pequim está descontente com o campo lotado do lado da oposição na corrida presidencial, marcada para 13 de janeiro do próximo ano. Uma pesquisa realizada no fim de outubro pela emissora TVBS mostrou o vice-presidente Lai Ching-te, também conhecido como William Lai, na liderança, com 33% de apoio. Ele é o candidato do Partido Democrático Progressista (DPP), que está no poder e adota uma linha dura em relação à China.
Três candidatos anunciaram planos para concorrer contra Lai: Gou, que ficou atrás do resto do campo com 8%; O prefeito da cidade de Nova Taipei, Hou Yu-ih, do principal partido de oposição, Kuomintang, que obteve 22% dos votos; e o candidato de um terceiro partido, Ko Wen-je, chefe do Partido Popular de Taiwan, com 24%.
As discussões sobre uma aliança entre Hou e Ko estão num ponto crítico. Os números das pesquisas dos dois candidatos combinados superariam os de Lai. Mas há preocupações de que, mesmo que unissem forças, a votação ainda seria dividida em benefício de Lai, com Gou na disputa.
Um editorial desta semana no “China Times”, um meio de comunicação taiwanês pró-China, instou Gou a se retirar, argumentando que sua presença apenas aumenta as “variáveis” do lado da oposição. Acredita-se que a peça reflita as opiniões de Pequim.
Os Estados Unidos, entretanto, não parecem estar de braços cruzados.
O Kuomintang se surpreendeu na semana passada ao saber que a companheira de chapa de Gou, Tammy Lai, anteriormente com dupla cidadania Estados Unidos-Taiwan, renunciou à sua cidadania americana, tornando-a elegível para concorrer.
Houve dúvidas sobre se o processo terminaria a tempo para o prazo de inscrição de 24 de novembro. O lado americano havia dito anteriormente que a renúncia pode levar de três meses a meio ano. Mas, neste caso, foi concluído em apenas cerca de um mês.
Esta velocidade incomum levantou suspeitas entre a oposição de que Washington está encorajando a candidatura de Gou para ajudar Lai Ching-te a vencer por meio da divisão da votação.
Tem havido especulação de que a China também está de olho nas eleições legislativas de Taiwan, realizadas paralelamente à votação presidencial.
Esta semana, surgiram notícias de que um legislador do DPP teve um caso com uma mulher chinesa. O partido optou por não convidá-lo à reeleição devido à reação pública.
O papel que o legislador desempenhou na diplomacia e na segurança tornou este um golpe especialmente pesado para o DPP. Ainda não está claro se a situação acabará por passar. Alguns membros do DPP suspeitam que o escândalo pode ter sido o resultado da guerra de informação por parte de Pequim.
Os legisladores em Taiwan são responsáveis por deliberar e votar projetos de lei e propostas orçamentárias. Mesmo que Lai ganhe a presidência, o governo poderá acabar num impasse em questões que incluem a política da China se o DPP acabar em minoria no Legislativo.
A China era suspeita de tentar influenciar as últimas eleições de 2020 através de ataques cibernéticos, desinformação e espionagem. Os Estados Unidos trabalharam para combater esta situação, fornecendo apoio a organizações de verificação de fatos.
Fonte: Valor Econômico
