Por Brooke Masters e Chris Flood, Financial Times — Nova York e Londres
10/09/2022 08h00 Atualizado há 2 dias
A Vanguard vem encurtando a diferença no mercado americano de ETFs (fundos de índice negociados em bolsa, como se fossem ações) em relação à líder BlackRock, em um terreno de batalha que conta com US$ 6,6 trilhões em ativos e é marcado pela concorrência acirrada entre as duas maiores gestoras de ativos do mundo.
Os ativos em ETFs sob gestão da Vanguard nos Estados Unidos somavam US$ 1,84 trilhão no fim de agosto, em comparação aos US$ 2,21 trilhões administrados pela iShares ETF, uma unidade da BlackRock, segundo dados recém-divulgados. A Vanguard liderou o setor no que se refere a atrair dinheiro novo para ETFs nos EUA em 2021 e continua à frente neste ano. Em agosto, captou quatro vezes mais que a BlackRock.
A BlackRock lidera o mercado de ETFs desde 2009, quando comprou a iShares do Barclays, mas a rival vem recuperando terreno a passos rápidos. Os ETFs da BlackRock nos EUA ainda têm 20% a mais de ativos do que os da Vanguard, mas em 2019 eram 50% maiores.
Enquanto brigam pelo domínio, as duas firmas têm deixado outras casas de investimento para trás. BlackRock e Vanguard controlam mais de 60% do mercado de ETFs dos EUA, que quase quintuplicou de tamanho nos últimos dez anos, passando de US$ 1,35 trilhão para US$ 6,6 trilhões.
O maior ETF em ativos pertence à State Street, o SPDR S&P 500, que acompanha o indicador referencial. Mas, na lista dos 16 seguintes, 15 são da BlackRock ou da Vangard. Elas também operam os dois maiores ETFs de títulos de dívida, o que as deixa em boa posição para aproveitar a onda de alta prevista pelos analistas para os produtos baseados em bônus.
Especialistas do setor projetam uma longa disputa pela liderança, enquanto as duas firmas procuram novos investidores em mercados turbulentos. Outras administradoras de ativos, como Invesco, J.P. Morgan Chase, Fidelity e Charles Schwab também brigam pelo interesse dos investidores em ETFs.
“A corrida no mercado americano de ETFs está longe de acabar, mesmo se o bastão da liderança passar da BlackRock para a Vanguard. Ambas as gestoras estão ganhando uma parte desproporcionalmente grande do bolo [dos ETFs], que continua crescendo”, disse Todd Rosenbluth, chefe de análises na VettaFi.
Vanguard e BlackRock procuram clientes diferentes e seguem estratégias distintas. Enquanto a Vanguard tem foco em uma série de produtos de baixo custo, relativamente pequenos, voltados para os investidores de varejo e seus assessores financeiros, a iShares, da BlackRock, oferece um conjunto mais amplo de fundos e também tenta atrair investidores institucionais.
“Estamos jogando uma partida diferente. Queremos liderar, mas também é uma questão de expandir o uso dos ETFs por todos os tipos de clientes. Isso é mais importante”, disse Armando Senra, chefe das operações de ETF nas Américas da BlackRock. Ele disse que, historicamente, os clientes institucionais usam mais a iShares no quarto trimestre, como parte de suas estratégias tributárias, e previu um aumento na entrada de dinheiro nesse período.
A BlackRock tem 399 ETFs nos EUA e 1.309 no mundo. “Somos totalmente a favor de expandir as opções e o acesso […] Outros competidores estão muito orientados a um segmento de clientes ou a um segmento de produtos”, disse Senra. “Os ETFs são um dos motores de crescimento da BlackRock, mas não são nosso único motor de crescimento.”
A Vanguard oferece 82 ETFs e não lança um novo há dois anos, segundo Dan Reyes, chefe do departamento da firma que desenvolve e supervisiona ETFs.
“Estamos continuamente pensando na expansão da oferta, mas seremos muitos cuidadosos”, disse. “Temos inclinação a ficar fora de versões temáticas ou muito segmentadas do universo.”
A BlackRock também goza de uma liderança considerável no mundo como um todo. Pelos dados comparáveis mais recentes, do fim de julho, a firma tinha ativos de US$ 2,96 trilhões em ETFs pelo mundo, em comparação aos US$ 2,04 trilhões da Vanguard.
As duas firmas continuaram tendo entrada de dinheiro novo, em termos líquidos, mesmo com os ativos sob administração do mercado como um todo diminuindo depois de a invasão da Ucrânia pela Rússia ter derrubado mercados de ações e de bônus. Os ativos totais em ETFs nos EUA chegaram ao recorde de US$ 7,2 trilhões em 2021 e recuaram para US$ 6,6 trilhões no fim de julho, segundo a firma de consultoria ETFGI.
“É realmente encorajador e reconfortante ver a linha de ETFs como um todo tendo repercussão com os investidores”, disse Reyes, da Vanguard.
Ben Phillips, chefe de serviços de assessoria à gestão de ativos na Broadride, uma firma de tecnologia de serviços financeiros, prevê que a queda nas comissões cobradas nos ETFs levará a Vanguard e a BlackRock a redobrar os esforços na busca por outras receitas.
A Vanguard fortaleceu recentemente sua oferta de serviços de assessoria, e o fundador da BlackRock, Larry Fink, disse que investimentos alternativos, como os imobiliários, os de private equity e os da divisão de tecnologia, podem ser motores adicionais de crescimento.
“À medida que os fornecedores de ETFs passivos consolidarem sua participação de mercado, eles ganharão fatias cada vez maiores de comissões cada vez menores”, disse Phillips.
Fonte: Valor Econômico

