O índice referencial dos gerentes de compras, uma medida da atividade dos setores industrial e de serviços, caiu para o menor nível em cinco meses (50,3 pontos) segundo dados divulgados nesta sexta-feira. O número do mês de maio foi de 52,8 pontos. A leitura de junho ficou abaixo da expectativa média de economistas consultados pela Reuters, que apontava para 52,5 pontos.
Ao cair para a marca dos 50 pontos, que separa a contração da expansão, o número diminui a esperança de uma recuperação econômica da zona do euro após dois trimestres de uma leve contração.
“É uma desaceleração forte”, diz Carsten Brzeski, economista do banco holandês ING. “Ela mostra que as previsões do BCE eram otimistas demais. Caminhamos claramente para mais um trimestre fraco, com um possível novo flerte com a recessão.”
O Banco Central Europeu previu que o PIB do bloco cresceria 0,9% este ano. Economistas afirmam que os dados instantâneos do índice dos gerentes de compras (PMI) poderão tornar os responsáveis pela definição das taxas de juros do BCE mais cautelosos com novos aumentos, além daquele que o banco central disse ser “muito provável” em julho.
Os investidores reduziram as apostas de outro aumento em setembro. Nesta sexta-feira, o rendimento dos bônus de dois anos do governo da Alemanha caiu 13 pontos-base para 3,09%, enquanto o euro recuou 0,6% em relação ao dólar, para US$ 1,089.
As ações europeias caíram depois do anúncio do PMI, encerrando aquela que deverá ser sua pior semana desde março. O índice amplo de ações Stoxx 600 caiu 0,4%, o Dax da Alemanha caiu 1,1% e o FTSE da Bolsa de Londres, 0,5%. O Stoxx 600 acumulou uma desvalorização de 2,9% na semana.
O sinal de enfraquecimento da economia surge num contexto de decisões duras do BCE no começo da semana, depois que Suíça, Noruega e Reino Unido elevaram suas taxas referenciais de juros para combater a inflação que teima em permanecer alta.
“Esses dados não são bons”, diz Claus Vistesen, economista da consultoria Pantheon Macroeconomics, sobre os números do PMI HCOB, acrescentando que eles são consistentes com o fato do crescimento da zona do euro permanecer “moderado” no segundo e terceiro trimestres desde ano.
A maior surpresa nos dados do PMI foi a grande desaceleração do setor de serviços, que tem sido uma das poucas áreas positivas da economia da zona do euro na maior parte deste ano.
A desaceleração foi particularmente acentuada na França, onde os níveis de atividade das empresas de serviços encolheram pela primeira vez desde o começo do ano. Isso contrastou com o setor de serviços do Reino Unido, que teve uma desaceleração menor, mas reforçou os temores de que a inflação está mais persistente do que o Banco da Inglaterra esperava.
Os custos dos insumos para os fabricantes na zona do euro tiveram a maior queda desde julho de 2009, sugerindo que a queda recente nos preços aos produtores industriais da região (3,2% entre março e abril) deverá prosseguir.
Mas os custos dos insumos continuaram subindo para as empresas de serviços bem acima do ritmo médio histórico. Os salários dos trabalhadores do bloco aumentaram mais de 5% no ano até o primeiro trimestre. A taxa de desemprego caiu para o patamar recorde de baixa de 6,5% em abril, o que segundo temem autoridades do BCE possa manter a inflação dos serviços em alta.
A inflação na zona do euro caiu para 6,1% em maio. Novos dados a serem divulgados na semana que vem deverão mostrar um declínio adicional para 5,7%.
Mas o BCE – que tem uma meta de inflação de 2% – deverá se concentrar no núcleo da inflação. Esta medida, que desconsidera os setores de energia e alimentos, deverá aumentar em relação aos 5,3% de maio.
Os PMIs também mostraram que empresas de todas as partes da zona do euro estão muito mais pessimistas com suas perspectivas. Os pedidos mais fracos começaram a afetar a demanda por trabalhadores, com o crescimento do emprego desacelerando em junho pelo segundo mês seguido.
Separadamente, os preços das moradias na Alemanha caíram para uma taxa anualizada recorde de 6,8% no primeiro trimestre do ano, com os custos mais altos dos empréstimos, a inflação e o crescimento econômico mais fraco cobrando seu preço sobre o maior mercado imobiliário da Europa.
Com base em uma pesquisa mensal com executivos graduados de centenas de empresas de cada país, o índice dos gerentes de compras mostra se a produção, o emprego, os pedidos, os prazos de entrega dos fornecedores e os estoques aumentaram, diminuíram ou permaneceram estáveis desde o mês anterior.
Mas mais oportuno do que o fornecimento de dados econômicos concretos, a pesquisa PMI é observada de perto pelos bancos centrais e analistas, em busca de sinais iniciais de que a economia está mudando de direção. As leituras acima de 50 pontos indicam que as empresas estão vendo um aumento da atividade, enquanto que as leituras inferiores a 50 sugerem o oposto.
Fonte: Valor Econômico

