Por Joe Leahy
Em Financial Times — Bo’ao
27/03/2024 13h19 Atualizado há 4 horas
A economia da China ainda não atingiu um “teto” e as perspectivas de crescimento continuam “brilhantes”, disse o presidente Xi Jinping durante encontro realizado nesta quarta-feira com executivos-chefes dos Estados Unidos, em meio aos esforços de Pequim para retomar a confiança do investidor estrangeiro na segunda maior economia do mundo.
Xi Jinping, reunido no Grande Salão do Povo, em Pequim, com um grupo de cerca de 20 importantes nomes do mundo empresarial dos EUA, como Evan Greenberg, da Chubb, Stephen Schwarzman, da Blackstone, e Cristiano Amon, da Qualcomm, reiterou que o governo chinês continua comprometido em aprovar reformas na economia.
“As reformas da China não vão parar e nossa abertura não vai parar”, disse ele, de acordo com a imprensa estatal.
A reunião, que incluiu uma foto em grupo, foi realizada em um momento de crescente preocupação entre os parceiros comerciais da China com os altos investimentos de Pequim na indústria local para superar a profunda desaceleração do setor imobiliário, o que pode levar a uma superprodução e à prática de dumping de produtos nos mercados internacionais.
A China manteve para 2024 a meta de crescimento do ano anterior, de cerca de 5%, a mais baixa em décadas. Ainda assim, analistas acreditam que, se não houver um aumento na demanda interna, será difícil alcançá-la.
“O desenvolvimento da China, tendo superado várias dificuldades e desafios, não colapsou […] no passado, nem chegará agora a um ‘teto’ “, disse Xi aos executivos.
Os participantes, entre os quais também estavam o presidente do conselho de administração da Bloomberg, Mark Carney, e Raj Subramaniam, da FedEx, foram à capital chinesa nesta semana para o Fórum de Desenvolvimento da China (FDC), a principal conferência de negócios organizada pelo governo chinês.
Em novembro, Xi havia se encontrado com líderes empresariais americanos em São Francisco, nos Estados Unidos, durante um jantar paralelo ao Fórum de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês), promovido pelo Conselho Empresarial EUA-China (USCBC) e pelo Comitê Nacional de Relações EUA-China (NCUSCR). Os chefes de ambas as organizações, Craig Allen e Stephen Orlins, também participaram da reunião com Xi realizada hoje. Greenberg, da Chubb, também é presidente do conselho do NCUSCR e diretor do USCBC.
Ainda estiveram presentes o executivo-chefe da Broadcom, Hock E. Tan, o coexecutivo-chefe da Kissinger Associates, Joshua Cooper Ramo, o executivo-chefe da Citadel Securities, Peng Zhao, e Bill Hornbuckle, da MGM China.
Executivos-chefes europeus também presentes em Pequim no fim de semana para o FDC não foram convidados para a reunião de hoje. O motivo, de acordo com fontes, é que o encontro foi organizado em resposta ao evento de São Francisco.
As relações EUA-China se estabilizaram em certa medida desde que Xi e o presidente dos EUA, Joe Biden, mantiveram conversas bilaterais à margem do encontro da Apec no ano passado.
As tensões, porém, continuam a provocar faíscas. Os EUA prometeram investigar se os veículos elétricos chineses importados constituem uma ameaça à segurança nacional, enquanto Pequim vetou o uso do iPhone, da Apple, e de veículos da Tesla, em escritórios públicos. Ontem, Pequim entrou com uma reclamação na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios americanos à indústria de veículos elétricos.
Nos últimos meses, a China tem se preocupado em apresentar uma imagem mais acolhedora para as empresas estrangeiras, na esteira da queda dos investimentos externos diretos em 2023 para o nível mais baixo em décadas.
Ontem, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, se encontrou com Greenberg e Orlins, e disse que as tensões bilaterais são decorrentes de uma “má percepção” dos EUA sobre a China como uma ameaça estratégica.
Sobre as relações bilaterais, Xi disse que “promover a recuperação da economia mundial e solucionar questões internacionais e regionais latentes é algo que precisa da coordenação e cooperação entre a China e os EUA”.
O líder chinês disse ainda que os países podem até discordar, mas deveriam “buscar pontos comuns enquanto mantêm diferenças”.
Na semana passada, antes do FDC, o país anunciou esclarecimentos sobre as novas leis de dados, o que foi bem recebido pelas empresas preocupadas com a questão da transferência de dados entre países.
“Acredito que as empresas [americanas] que estão aqui para atender ao mercado chinês ou vender para a China estão um pouco mais positivas do que estavam, digamos, há um ano “, disse Sean Stein, presidente da Câmara Americana de Comércio na China (AmCham China). “Ainda há questões estruturais profundas que estão segurando o crescimento da economia, mas a parte cíclica parece ter melhorado, então o ponto em que eles estão [agora] no ciclo de negócios é um lugar melhor.”
Normalmente, depois do FDC, os chefes de empresas se encontram com o segundo líder mais importante da China, o primeiro-ministro. Neste ano, não foi assim.
O primeiro-ministro do país, Li Qiang, tampouco fez a tradicional entrevista coletiva ao término da reunião anual do Parlamento neste mês. No passado, a coletiva de imprensa servia como uma rara oportunidade para a imprensa local e a internacional questionarem a autoridade encarregada da segunda maior economia do mundo.
Por outro lado, segundo os participantes do FDC, nesta ocasião foram feitas mais reuniões bilaterais entre ministros e as conversas foram mais diretas em comparação às do ano anterior.
Denis Depoux, diretor-gerente global da firma de consultoria Roland Berger, disse que houve mais visitantes estrangeiros no FDC deste ano e no Fórum de Bo’ao para a Ásia, outra conferência internacional, que começou na terça-feira na ilha de Hainan, na China.
“Está mais parecido com 2019”, disse Depoux. “Vi muitos mais executivos-chefes no FDC e eles estavam muito mais expressivos”.
A economia da China vem mostrando sinais de estabilização. O lucro das empresas do setor industrial no período de janeiro a fevereiro foi 10,2% maior do que no mesmo bimestre de 2023, de acordo com dados oficiais divulgados na quarta-feira, embora isso se deva, em parte, à base de comparação baixa de 2023.
O executivo-chefe de uma grande multinacional disse que tanto a retórica de Pequim quanto a de Li, que falou na abertura do FDC, foram mais “confiantes” que a de 2023.
Ele disse, contudo, que é difícil saber se isso é apenas uma tentativa de melhorar a confiança do investidor ou um sentimento genuíno da liderança, tendo em vista os desafios estruturais da economia chinesa.
“É muito difícil avaliar isso no momento”, disse.
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Fonte: Valor Econômico

