Por Oliver Telling, Valor — Financial Times, de Londres
18/06/2023 11h37 Atualizado há um dia
Indústrias de todas as partes do mundo estão adquirindo mais fábricas europeias apesar da desaceleração econômica na região. O motivo são as preocupações geopolíticas e com as cadeias de suprimentos, que estão levando as empresas a aproximar suas operações de seus clientes.
Companhias adquiriram ou alugaram 892 mil metros quadrados de espaço industrial na região em 2022, um aumento anual de 29%, aponta relatório da Cushman & Wakefield, que analisou transações de imóveis comerciais em nove países europeus, incluindo Reino Unido, França e Alemanha.
Tim Crighton, chefe de logística e indústria da Cushman na Europa, diz que recentemente viu clientes partindo para o “nearshoring”, investindo em produção na Europa com o objetivo de diminuir a dependência da China e de outros locais distantes.
Fabricantes da Ásia à Europa estão comprando fábricas europeias em resposta à demanda dos clientes no continente, que nas últimas décadas terceirizaram a produção de muitos dos produtos que compram para a China e outros centros industriais de custos baixos.
A demanda por novas fábricas ocorre no momento em que cai a ocupação geral de espaços industriais na Europa diante da queda nos gastos do consumidor, que levou varejistas e donos de depósitos a reduzir investimentos.
As empresas estão repensando suas estratégias à medida que aumentam as tensões entre governos ocidentais e a China, e também em razão das severas rupturas nas cadeias globais de suprimentos durante a pandemia de covid-19.
Crighton diz que o uso de robôs na produção industrial, que minimizou o custo-benefício de se produzir em regiões com mão de obra mais barata, criou um incentivo para as empresas europeias transferirem a produção para mais perto dos consumidores.
Apontando para os planos recentemente anunciados pela Mercedes-Benz de construir sua primeira fábrica dedicada a vans elétricas na Polônia, bem como os planos da BMW de aumentar a produção de carros elétricos em uma nova fábrica na Hungria, o relatório da Cushman diz que a Europa central e do leste, onde a mão de obra era relativamente barata, vêm registrando “grandes investimentos em manufatura”.
Bert Hesselink, diretor de relações com o cliente da gestora europeia de imóveis comerciais CTP, diz que as fábricas representam uma parcela crescente de sua carteira com a queda na demanda por espaço de armazenamento.
“Estão dizendo aos nossos clientes: ‘Se você quiser continuar fornecendo para nós, preferimos que você faça isso da Europa, em vez da China’”, acrescenta ele. Embora os investimentos em novas unidades estejam aumentando os custos dos fabricantes em um período de inflação alta, ele diz que as empresas estão preferindo proteger suas operações do próximo “desastre” nas cadeias de suprimentos.
Mas nem todas as empresas estão saindo da China. Muitas viram suas cadeias de suprimentos serem afetadas pelos custos elevados da energia, que recentemente levaram a Alemanha, a potência industrial da Europa, em uma recessão. Em abril, a Akzo Nobel, controladora da Dulux, disse que o grupo holandês está na verdade tendo que comprar mais da China, depois que os custos com energia forçaram fornecedores europeus a fechar fábricas.
Após anos investindo na China, líderes empresariais também alertam que a Europa carece de força de trabalho industrial à altura. “É um desafio [encontrar pessoas com as habilidades certas]”, diz Hesselink. “E precisamos enfrentar isso, trazendo, por exemplo, trabalhadores de outros países.”
Fonte: Valor Econômico