O homem escolhido para liderar o banco central da Argentina pelo presidente eleito, o ultradireitista Javier Milei, recusou o cargo devido a diferenças de política, em meio a sinais de que o próximo líder da nação sul-americana está se afastando de sua principal política de dolarizar a combalida economia.
Emilio Ocampo, professor de história econômica e ex-banqueiro de investimentos, era o principal defensor, dentro da equipe de Milei, de abandonar o peso argentino em favor do dólar. Autor de um recente artigo defendendo a dolarização, ele vinha trabalhando em um plano para implementar a proposta após a posse do novo governo, em 10 de dezembro.
Milei, admirador de Donald Trump, afirmou durante a campanha eleitoral que Ocampo lideraria o banco central com a missão de fechá-lo, acrescentando, ainda em setembro, que dolarizar a economia e fechar o banco “não era negociável”.
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— Foto: Erica Canepa/Bloomberg
No entanto, uma fonte próxima a Ocampo confirmou na quinta à noite, de acordo com relatos locais, que ele não aceitaria mais o cargo.
“A única razão para Ocampo estar no [banco central] era dolarizar”, disse a fonte. “Ele nunca iria para o banco central para implementar o plano de outra pessoa, com o qual ele não concorda.” Ocampo e a equipe de Milei se recusaram a comentar.
Eliminar o peso, que Milei disse em uma entrevista em outubro que valia “menos que excremento”, e “explodir” o banco central eram peças centrais do audacioso plano que ele apresentou durante sua campanha como uma maneira de revitalizar a economia argentina, reduzir a inflação anual de mais de 140% e reparar as finanças públicas.
O ex-comentarista econômico prometeu “usar uma motosserra no Estado” para equilibrar o orçamento e também prometeu ampla privatização.
Mas Milei disse em uma entrevista na noite de quarta-feira (22) que, embora gostasse do plano de Ocampo, “precisamos ver se a situação de mercado permite uma solução como a que Emilio propõe, e se ele está preparado para implementar um plano que não é o que ele havia planejado originalmente”. O escritório de Milei afirmou nesta sexta-feira (24), na rede social X, que o fechamento do banco central é uma “questão não negociável”, apesar de “rumores falsos que foram espalhados”, sem mencionar a dolarização.
Milei ainda não confirmou uma alternativa para o chefe do banco central, mas relatos da mídia local indicam que Demian Reidel, que foi vice-presidente da instituição no governo do então presidente Mauricio Macri, está sendo considerado.
O papel-chave de ministro da Economia é outra posição ainda não preenchida. Ao discutir possíveis nomeações para o cargo em sua entrevista, Milei elogiou Luis Caputo, ex-chefe de negociação para a América Latina no JPMorgan, nos anos 1990, que mais tarde trabalhou no Deutsche Bank.
Caputo foi ministro das Finanças de 2017 a 2018, durante a administração de centro-direita de Macri, que costumava descrevê-lo como um “Messi das finanças”, em referência ao famoso jogador de futebol argentino.
Enquanto estava no ministério, Caputo supervisionou a emissão de um título soberano de 100 anos, no auge do entusiasmo dos investidores pela Argentina, um instrumento cancelado pelo atual governo peronista pela situação de inadimplência.
Ele dirigiu o banco central por alguns meses, em 2018, antes de renunciar devido a divergências com o FMI sobre as condições estabelecidas para seu auxílio recorde de US$ 57 bilhões à Argentina naquele ano.
Caputo é “uma pessoa capaz de fazer o trabalho, sem dúvida alguma”, disse Milei. “Ele tem a experiência necessária para resolver o problema monetário e dar uma solução para o mercado financeiro.”
Milei não confirmou na entrevista o convite a Caputo, e relatos da mídia local dizem que o ex-ministro ainda não tomou uma decisão final sobre aceitar o cargo.
Os mercados financeiros locais estão mostrando sinais crescentes de estresse à medida que Milei trabalha para finalizar suas principais pautas econômicas antes de sua posse, em 10 de dezembro. O banco central está lutando para encontrar compradores para a dívida de curto prazo denominada em pesos que emite para retirar a moeda local do sistema, sinalizando que seus esforços para conter a inflação estão enfraquecendo diante da incerteza do mercado.
O dólar estava sendo negociado a cerca de 1.020 pesos no mercado paralelo na quinta, quase triplicando a taxa oficial fixada em 364 pesos por dólar.
Fonte: Valor Econômico

