Após ter disparado durante as fases iniciais da pandemia, a produtividade praticamente não crescerá neste ano nas economias maduras, previu neste mês a organização de pesquisa empresarial mundial The Conference Board. O conselho acredita que essa fragilidade deverá persistir durante os próximos dez anos, atribuindo-a ao crescente custo do capital e à incerteza econômica e geopolítica.
As previsões chamam a atenção para os desafios com que se defrontam as economias avançadas, onde as dificuldades para aumentar a produtividade desde a crise financeira de 2008 refrearam o avanço da produção e dos salários.
Economistas, no entanto, consideram que o surto de crescimento dos investimentos em Inteligência Artificial (IA) – associado a várias tendências registradas nos locais de trabalho que decolaram durante a pandemia – acabará gerando resultados inegáveis.
O professor Chad Syverson, da Faculdade de Negócios Booth de Chicago, disse haver atualmente um “argumento em favor do otimismo puxado por dados” com relação à produtividade, com fatores como a IA, a formação de novas áreas de atuação e a troca de empregos pelas pessoas devendo, conjuntamente, gerar resultados.
Embora o crescimento da produtividade tenha teoricamente permanecido fraco, ele acredita que a compensação gerada pelas mudanças recentes das práticas nos locais de trabalho – mais as vantagens eventuais da IA – levará tempo para se refletir em dados.
“Nessas coisas, muito poucos (fatores) têm funcionamento imediato…as empresas têm de investir muitos recursos para reconfigurar seu modelo de negócios para essa coisa nova”, disse Syverson. “Software, problemas regulatórios novos, tudo isso tem de ser equacionado. Há um período em que a tecnologia está aí e você consegue ver os benefícios, mas, por muitos motivos… a produtividade cai.”
O professor John Haltiwanger, da Universidade de Maryland, concorda que os avanços revolucionários da IA envolvendo modelos de linguagem acabarão impulsionando a economia. Para ele, os EUA passam agora por uma transição semelhante à experimentada no fim da década de 1980, quando o economista Robert Solow disse: “Você pode ver a era do computador em todo lugar, menos na estatística de produtividade”.
As mudanças radicais promovidas pela IA generativa poderão eliminar o que o professor John Van Reenen, da London School of Ecoomics, descreveu como “excesso de labuta” nas práticas dos locais de trabalho, fomentando, no processo, a eficiência e o crescimento.
No entanto, os saltos tecnológicos anteriores levaram décadas para render compensações significativas em termos de produtividade.
“É necessário um enorme período para as empresas mudarem”, disse o professor Nick Bloom, da Universidade de Stanford, citando, por exemplo, a invenção dos motores elétricos em uma era em que a maioria das construções industriais tinha sido configurada para energia hidráulica ou a vapor.
Já há argumentos eloquentes sobre os efeitos transformadores da IA generativa sobre a produtividade. Recente estudo publicado pela Brookings Institution – escrito com a ajuda do modelo GPT4 – cita provas de que essa tecnologia tem capacidade de ajudar os codificadores a trabalhar ao dobro de sua velocidade anterior, reduzir à metade o tempo levado para concluir determinadas tarefas de escrita e aumentar em 14% a produtividade dos call-centers.
Já os bancos de investimento estimulam clientes a comprar ações de empresas de IA generativa. Pesquisadores do Morgan Stanley dizem que a produtividade dos EUA “tende a se recuperar”, em parte porque tendências demográficas, associadas a políticas de “friendshoring” (terceirização da produção para países amigos) do governo, vão dificultar para as multinacionais a tarefa de recorrer a uma grande oferta global de mão de obra barata a as obrigarão a se automatizar.
Uma “revolução da produtividade” concentrada em IA pode ser mais ampla do que a constatada após o lançamento dos computadores pessoais, sugeriram eles em nota recente, apontando para o fato de setores como o de varejo e da indústria de transformação estarem “preparados para investir”.
Haltiwanger apontou para a escalada da criação de novas empresas, com boa parte desse movimento impulsionado pela mudança a partir dos centros urbanos para polos nevrálgicos de trabalho em casa nos bairros periféricos de classe média.
Desde que essas empresas nascentes consigam suportar o amento das taxas de juros americanas e alguma turbulência nos bancos regionais, as recompensas serão sentidas. “Toda vez que se passa por uma mudança da maneira de atuar economicamente, tanto em termos espaciais quanto das áreas da economia, há crescimento de produtividade posterior”, disse ele.
Van Reenen mostrou-se mais cético com a possibilidade de episódios de escassez de mão de obra impulsionarem a inovação. Embora a queda da reserva de trabalhadores possa mudar a direção da mudança tecnológica — como ocorreu no Japão, em que uma população economicamente ativa em processo de envelhecimento estimulou os investimentos em robótica —, ela tende a gerar uma redução do volume de novas ideias.
O Conference Board também tentou moderar o fator que chamou de “empolgação” que cerca os grandes saltos revolucionários da tecnologia.
Já Bloom alertou ser difícil de prever o momento em que ocorrerão os grandes pontos de inflexão da produtividade. “O desenvolvimento do motor a vapor, do motor elétrico, do computador pessoal e da internet não geraram um impacto mensurável sobre a produtividade nos cinco anos seguintes. Portanto, é difícil imaginar o que poderá ter esse efeito. Incluo nisso a IA (generativa).”
Fonte: Valor Econômico

