Por Tom Wilson, Financial Times
25/05/2023 12h10 Atualizado há 18 horas
Os investimentos em energia solar deverão superar os gastos com a produção de petróleo este ano pela primeira vez, disse nesta quinta-feira (25) o chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), enfatizando um aumento no desenvolvimento de energias limpas que ajudará a conter as emissões globais se a tendência persistir.
“Se esses investimentos em energia limpa continuarem crescendo de acordo com o que vimos nos últimos anos, em breve começaremos a ver o surgimento de um sistema energético muito diferente e poderemos manter viva a meta de 1,5ºC”, disse Fatih Birol, diretor-executivo da AIE, ao “Financial Times”, referindo-se à meta de limite do aumento da temperatura global estabelecida pelo Acordo de Paris.
A previsão é de que este ano US$ 1,7 trilhão será aplicado em energias limpas, em comparação a US$ 1 trilhão nos combustíveis fósseis. Cinco anos atrás, os US$ 2 trilhões em investimentos anuais em energia estavam divididos igualmente entre os combustíveis fósseis e as tecnologias limpas, como as renováveis, os veículos elétricos e os combustíveis de baixas emissões.
Birol disse que “uma nova economia global de energia limpa está surgindo”, acrescentando que “para um homem como eu, que sujas as mãos com dados todos os dias, esta é uma mudança impressionante e dramática”.
O aumento dos gastos com energias limpas está sendo motivado por uma forte recuperação do crescimento econômico depois da pandemia de covid-19, bem como as preocupações com a volatilidade dos preços e a segurança energética desencadeadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, segundo aponta o relatório anual “World Energy Investment” da AIE, divulgado nesta quinta-feira.
O reforço das políticas de apoio, como a Lei de Redução da Inflação nos EUA, que está fornecendo US$ 369 bilhões em subsídios e créditos fiscais para tecnologias energéticas limpas, também ajudou, segundo o relatório.
Como resultado, a AIE acredita que os investimentos anuais em energias limpas aumentarão 24% em relação a 2021, enquanto os gastos com combustíveis fósseis aumentarão 15%.
A energia solar é a “estrela dos investimentos globais em energia”, com os gastos totais em 2023 devendo alcançar US$ 382 bilhões, superando os investimentos previstos de US$ 371 bilhões na produção de petróleo, segundo Birol. Em 2013, US$ 636 bilhões foram aplicados na produção de petróleo e US$ 127 bilhões na energia solar.
O diretor-executivo da AIE participou recentemente da cúpula do G-7 no Japão e disse ter ficado encorajado com o grau de alinhamento nas questões energéticas entre os membros do grupo e o convite a países como Brasil, Índia e Indonésia. “Poucas vezes vi uma visão tão homogênea sobre o futuro dos mercados energéticos”, acrescentou ele.
Mas para manter o ímpeto, os líderes do G-7 precisam assegurar que os investimentos atuais em energias limpas sejam ampliados para mais países emergentes e em desenvolvimento, disse Birol. “Se há um desafio, é a capacidade dos países emergentes conseguirem financiar sozinhos a transição para a energia limpa”, acrescentou ele.
Apesar do boom nos investimentos em energias limpas, as emissões globais de carbono relacionadas à energia aumentaram 0,9% no ano passado, para o recorde de 36,8 bilhões de toneladas, disse a AIE em março.
Birol também pediu às empresas petrolíferas nacionais e internacionais que direcionem mais de seus investimentos para as soluções energéticas de baixo carbono. Os investimentos totais da indústria de petróleo e gás em fontes de energia de baixas emissões são de menos de 5% do total aplicado na produção de combustíveis fósseis, segundo análise da AIE.
Fonte: Valor Econômico

