Por Joshua Franklin, Financial Times — Nova York
19/10/2022 12h27 Atualizado há 15 horas
Quando David Solomon começou a vender a ideia de sua mais nova reestruturação do Goldman Sachs para investidores na terça-feira, havia poucos sinais do poderoso alto executivo de língua afiada ou do extravagante “DJ D-Sol”, conhecido por participar de festivais de música. Em vez disso, Solomon parecia estar arrependido.
A segunda grande reestruturação desde que ele se tornou executivo-chefe, há quatro anos, foi, na prática, uma admissão de que o banco está sob pressão dos investidores, cada vez mais céticos em relação às ambições da instituição de lançar uma marca de varejo viável após anos de prejuízos e de alta rotatividade de funcionários.
“Agradeço os comentários de que os acionistas não se empolgaram com isso”, disse Solomon sobre a incursão no setor bancário voltado ao consumidor, em teleconferência com investidores. “E isso, certamente, afeta algumas de nossas tomadas de decisão.”
Descrevendo as mudanças como uma “evolução”, Solomon delineou planos para recuar na área de banco de varejo e se concentrar em seus pontos fortes tradicionais, o atendimento a grandes empresas e a investidores ricos, em vez de clientes comuns. A tão elogiada operação de varejo Marcus, do Goldman Sachs, será combinada a uma divisão unificada de gestão de ativos e de fortunas.
A reforma da instituição também coloca em evidência que Solomon ainda está à procura de uma resposta que atormenta o Goldman Sachs desde que ele assumiu o comando ou, mais possivelmente, desde que a empresa abriu seu capital: como persuadir os investidores a aferir um valor relativo mais alto a um banco que continua a ser a inveja de muitos dos rivais em Wall Street, mas que depende de fluxos de receita altamente imprevisíveis?
“Você não faz mudanças se tudo está saindo perfeitamente”, disse Christian Bolu, analista bancário da firma de análises Autonomous Research. “Portanto, o fato de eles estarem fazendo algumas mudanças indica que há certa necessidade de ajustar as expectativas iniciais.”
A remodelação do Goldman Sachs inclui o encolhimento de quatro para três divisões. Solomon fundiu a área de banco de investimentos — a joia da coroa da empresa — com a de corretagem, criando uma unidade que, dizem alguns veteranos, lembra o antigo Goldman Sachs que ele tentou desfazer. Depois de ter separado a gestão de ativos e a de fortunas em 2019, agora ele também está voltando a uni-las.
A recém-criada área de “Soluções de Plataforma” combinará a tecnologia que o Goldman Sachs usa nas operações de cartão de crédito para nomes como Apple e General Motors e um negócio de empréstimos on-line, chamado GreenSky, adquirido neste ano.
“Na verdade, isso é algo sobre o qual estamos conversando e trabalhando há quase um ano”, disse Solomon em entrevista ao “Financial Times”. “Dada a forma como estamos configurados — construímos plataformas e produtos digitais muito, muito bons —, percebemos que ser abrangentes e buscar um conjunto muito mais amplo de possíveis clientes não se encaixa bem com nossas forças”.
A expansão do banco de varejo do Goldman Sachs foi muito alardeada quando foi lançada em 2016 sob o executivo-chefe anterior, Lloyd Blankfein, mas toda a badalação também atraiu intensos questionamentos dos investidores e de executivos do próprio banco, à medida que as perdas e os custos aumentavam.
A unidade Marcus foi bem-sucedida como um mecanismo de financiamento de baixo custo para o Goldman Sachs, captando mais de US$ 100 bilhões em depósitos de clientes. Agora, contudo, em vez de aprofundar suas conexões com seus clientes de varejo, o Goldman Sachs reembalará a tecnologia da Marcus em seu negócio de gestão de grandes riquezas.
O mercado elogiou a reestruturação, anunciada juntamente com um balanço do terceiro trimestre que superou as expectativas dos analistas. As ações do Goldman Sachs fecharam em alta de 2,3% na terça-feira, superando o desempenho do mercado como um todo.
O recuo do Goldman Sachs em sua “estratégia de varejo em massa” era o que os investidores esperavam, de acordo com Kush Goel, analista sênior da gestora de investimentos Neuberger Berman, dona de ações do banco. “Isso mostra que a equipe executiva está disposta a reavaliar e reajustar.”
A questão com a qual Solomon se depara agora é se sua nova estrutura conseguirá persuadir os investidores a atribuir um valor relativo mais alto ao banco. Atualmente, as ações do Goldman Sachs são negociadas um pouco abaixo de seu valor contábil, destoando de sua média nos últimos cinco anos, de 1,05. O Morgan Stanley, em comparação, é negociado a cerca de 1,4 vezes o valor contábil, com uma média de cinco anos de 1,32.
Os resultados mais recentes reiteraram o quanto o Goldman Sachs continua dependente das áreas de banco de investimento e de corretagem. Em razão da imprevisibilidade dessas frentes, elas não são tão apreciadas pelos investidores, que preferem, por exemplo, as receitas recorrentes dos serviços que cobram taxas dos clientes, como a gestão de riquezas.
No terceiro trimestre, as áreas de banco de investimento e de corretagem geraram 65% das receitas do Goldman Sachs. Em comparação, em 2021, a divisão de banco de investimento e de corretagem gerou 35% das receitas do J.P. Morgan e 44,8% do Morgan Stanley.
Alguns executivos de banco de investimento que conhecem bem Solomon dizem que ele está certo em tentar diversificar, mas questionam o quanto pode ser alcançado com outra reestruturação.
“Isso está apenas sacudindo uma grande parte da firma”, disse um ex-executivo do Goldman que trabalhou com Solomon depois que ele se tornou executivo-chefe. “Eles estão mudando de lugar as cadeiras no convés, mas não estão realmente gerenciando a empresa — apenas transferindo as coisas para diferentes baldes.”
No passado, Solomon citou a atividade de varejo como uma das quatro áreas de crescimento que diversificariam as receitas do Goldman Sachs. Agora, as atenções estarão voltadas às três outras áreas que tornariam o banco menos dependente da corretagem e da assessoria a fusões e aquisições: gestão de ativos, gestão de fortunas e serviços de transações bancárias.
Os investidores têm ficado impressionados com a capacidade das operações de gestão de ativos do Goldman Sachs para levantar recursos, em especial no caso de investimentos alternativos, como os de private equity, mas “o júri ainda não decidiu sobre as iniciativas de crescimento”, segundo Bolu, da Autonomous Research.
Para supervisionar as três novas divisões, Solomon selecionou auxiliares de sua atual equipe executiva, que prestarão contas ao presidente John Waldron.
Dan Dees e Jim Esposito, que administram a área de banco de investimento, e Ashok Varadhan, cochefe da divisão de corretagem, comandarão as operações combinadas. A nova unidade de Soluções de Plataforma será comandada por Stephanie Cohen, uma aliada próxima de Solomon e, mais recentemente, uma das chefes da divisão de gestão de riquezas e de varejo do Goldman Sachs, que em breve será extinta.
Um grande beneficiado na remodelação parece ser Marc Nachmann, que por meio de seu trabalho como cochefe da divisão de corretagem e de banco de investimento do Goldman Sachs amealhou uma reputação de controle de custos. Ele administrará o negócio combinado de gestão de ativos e de riquezas. Julian Salisbury, antes codiretor da divisão autônoma de gestão de ativos, se tornará o diretor de investimentos da unidade combinada de gestão de ativos e de riquezas.
“Marc é ‘o consertador’”, disse um executivo do Goldman Sachs. “A gestão de riquezas e de ativos está prestes a experimentar como é trabalhar com Marc, algo que eles, definitivamente, não experimentaram antes.”
Quanto a Solomon, muito dependerá do sucesso da nova reestruturação nas questões em que a anterior deixou a desejar. “Agora, infelizmente para David, o relógio está começando a correr”, disse o executivo do Goldman Sachs. (Colaborou Brook Masters)
Fonte: Valor Econômico

