Por Demetri Sevastopulo, Financial Times — Washington
30/01/2023 21h26 Atualizado há 12 horas
O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, parou de conceder licenças às empresas americanas para exportar produtos para a Huawei, enquanto se prepara para impor um veto total à venda de tecnologia americana para a gigante chinesa de equipamentos de telecomunicações.
Várias fontes a par das discussões no governo disseram que o Departamento de Comércio já comunicou algumas empresas de que não concederia mais licenças a quem quiser exportar tecnologia americana para a Huawei.
A decisão marca a mais nova faceta da campanha de Washington para cercear a empresa de tecnologia de Shenzhen, que as autoridades de segurança dos EUA acreditam que ajuda Pequim a fazer espionagem. A Huawei nega envolvimento com espionagem.
Em 2019, o governo Donald Trump impôs duras restrições à exportação de tecnologia americana para a Huawei, ao incluí-la na chamada de “lista de entidades”. A medida fazia parte de uma estratégia de repressão à empresas chinesas que Washington considerava que representavam um risco à segurança nacional dos EUA.
Mas o Departamento de Comércio continuou a conceder licenças de exportação para algumas empresas, como a Qualcomm e a Intel, para que fornecessem à Huawei tecnologia não relacionada a redes de telecomunicações de alta velocidade 5G.
Nos últimos dois anos, o presidente Joe Biden assumiu uma atitude ainda mais dura do que a de Trump em relação à China, principalmente na área de tecnologias de ponta. Em outubro, ele impôs restrições abrangentes ao fornecimento de semicondutores avançados e equipamentos de fabricação de chips para grupos chineses.
O subsecretário de Comércio para Indústria e Segurança, Alan Estevez, está à frente da revisão da política relacionada à China, em um esforço para determinar que medidas adicionais o governo deve tomar para dificultar ainda mais o uso de tecnologia americana pelos militares chineses para o desenvolvimento de armas.
Entre as autoridades que revisam a política para a China está Thea Kendler, ex-promotora que participou do processo criminal que os EUA abriram contra Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei. Meng ficou detida no Canadá por três anos a pedido de Washington, mas depois ela chegou a um acordo com os promotores americanos que lhe permitiu voltar para a China.
Em dezembro, o governo Biden incluiu mais várias dezenas de empresas chinesas na lista de entidades. Uma delas é a fabricante de memória flash Yangtze Memory Technologies (YMTC), que tem despontado como uma das empresas líderes da China.
O “Financial Times” informou no ano passado que o governo Biden investiga acusações de que a YMTC infringiu os controles americanos sobre as exportações ao fornecer à Huawei chips com tecnologia americana para seus smartphones mais avançados.
Os republicanos do Congresso, liderados por Michael McCaul, que recentemente se tornou presidente da comissão de assuntos externos da Câmara dos Deputados, defendem que o governo Biden deixe de conceder licenças de exportação para a Huawei.
O fato novo ocorre num momento em que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, se prepara para viajar, na semana que vem, para a China, na primeira visita de um membro do Gabinete de Biden ao país.
A mais recente medida envolvendo a Huawei ocorre num momento em que os EUA intensificam seus esforços com os aliados para desacelerar o impulso da China em desenvolver tecnologia de ponta, como semicondutores usados para quase tudo, desde inteligência artificial e sistemas de modelagem de armas nucleares até o desenvolvimento de armas hipersônicas.
Washington fechou um acordo, na semana passada, com o Japão e a Holanda, para que os aliados dos EUA imponham restrições às empresas operantes nos seus países, para evitar que elas exportem determinados equipamentos para a produção de chips para a China. Em outubro os EUA impuseram restrições unilaterais a empresas americanas, para evitar que exportassem equipamentos para a produção de semicondutores.
Estevez sugeriu, no fim do ano passado, que os EUA estavam analisando uma série de outras áreas. Questionado sobre notícias de que o governo Biden considerava adotar restrições sobre tecnologia quântica e biotecnologia, ele disse ao instituto de análise e pesquisa CNAS: “Se eu fosse de apostar, apostaria nisso”.
O Departamento de Comércio preferiu não comentar a suspensão de licenças para exportar à Huawei. A empresa, com sede em Shenzhen, fez o mesmo.
Fonte: FT / Valor Econômico

