Por Chris Giles, Financial Times — Londres
10/04/2023 12h44 Atualizado há 13 horas
As principais economias do mundo vêm mostrando uma resistência surpreendente apesar de se depararem com um momento perigoso, segundo uma pesquisa feita para o “Financial Times” cujos números sugerem que economia mundial pode evitar uma forte desaceleração neste ano.
China, EUA, zona do euro, Índia e Reino Unido cresceram mais do que se previa no fim de 2022, segundo o semestral índice Brookings-FT, com a confiança dos consumidores e das empresas tendo melhorado após a turbulência no fim do ano passado. Ainda em janeiro, bancos centrais e instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) se preparavam para uma forte contração.
Os dados chegam em um momento que as autoridades econômicas mundiais se reúnem em Washington para o encontro semestral do FMI e Banco Mundial. O FMI deverá confirmar que a economia mundial crescerá com mais força do que havia previsto no encontro anterior, realizado em outubro.
Há poucos sinais das recessões que alguns analistas temiam, apesar da inflação elevada e dos crescentes riscos financeiros e geopolíticos. Apesar disso, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, alertou para as perspectivas de médio prazo para a economia mundial, que são as piores desde 1990.
Eswar Prasad, pesquisador sênior da Brookings Institution, centro de estudos em Washington, disse que os recentes problemas no setor bancário da Europa e dos EUA expuseram as “fragilidades dos sistemas financeiros das grandes economias” e se somaram “às preocupações quanto ao crescimento de médio prazo”.
As autoridades econômicas, em especial as monetárias, “lutam com dificuldade” num ambiente de riscos que se multiplicam rapidamente, segundo Prasad.
Apesar disso, o índice Brookings-FT sugere que as duas maiores economias do mundo terão um desempenho melhor do que os analistas previam no fim de 2022.
A China deverá “registrar um forte crescimento em 2023”, de acordo com Prasad, enquanto a economia dos EUA mantém “um ritmo surpreendente, apesar dos numerosos ventos contrários”.
A recuperação chinesa será impulsionada pelo fim de sua política de tolerância zero à covid-19 e pela desaceleração da onda subsequente de casos da doença. O país provavelmente atingirá sua meta de crescimento de 5% em 2023, apesar de ter uma economia cada vez mais dominada pelo Estado.
Nos EUA, as tensões bancárias poderiam abalar a atual força do consumo e do crescimento do emprego. Mas ainda é possível que o país consiga uma aterrissagem suave, segundo Prasad, com perspectivas de redução da inflação.
A zona do euro e o Reino Unido já deixaram para trás a pior fase em 2022, com os preços do gás tendo recuado mais de 80% em comparação aos picos do verão europeu passado. Ainda assim, a alta inflação vai limitar o crescimento.
A Índia colhe os benefícios das reformas econômicas dos últimos anos e ruma para mais um ano de forte crescimento, de acordo com o índice.
O “Índice de Acompanhamento da Recuperação da Economia Mundial Brookings-FT” (Tiger, na sigla em inglês) compara dados de atividade real, dos mercados financeiros e de confiança com suas médias históricas, da economia mundial e de países individuais.
O principal índice composto mostrou condições econômicas próximas às médias históricas, nas economias avançadas e nas emergentes. Embora os dados concretos sobre a atividade econômica tenham se deteriorado desde o quarto trimestre, os dados de confiança melhoraram, assim como os financeiros, especialmente nas economias emergentes.
Prasad disse que, embora a atividade esteja acompanhando as médias históricas, a economia internacional depara-se com fortes ventos contrários. A pesquisa “ressalta um momento perigoso para a economia mundial, com inflação persistentemente alta, turbulência no setor bancário e riscos geopolíticos ameaçando o crescimento.”
Caso isso se materialize, “afetará confiança das famílias e das empresas e provavelmente impactará negativamente o crescimento de médio prazo”, alertou.
As principais economias emergentes vêm se beneficiando do dinamismo inerente e do aprimoramento de suas políticas econômicas, mas fora dessas economias a perspectiva é bem pior, de acordo com o índice Tiger.
As economias de baixa renda e de “fronteira” (de maior risco) foram as que mais sofreram como resultado do aumento dos custos do serviço da dívida, da fraca demanda por exportações e da capacidade limitada dos governos de estimular o crescimento e manter a confiança dos mercados financeiros internacionais.
Fonte: FT / Valor Econômico

