Por Martin Arnold, Claire Jones e Mary McDougall, Valor — Financial Times, de Frankfurt, Washington e Londres
10/03/2024 17h17 Atualizado há 13 horas
Os principais dirigentes de bancos centrais da Europa e dos EUA estão mais perto de declarar vitória contra a maior disparada da inflação em uma geração, com novos dados que dão a eles confiança de que poderão cortar as taxas de juro no próximo verão no Hemisfério Norte.
Na sexta-feira, os números sobre o crescimento do emprego em dezembro e janeiro nos EUA foram revisados fortemente para baixo, o que consolidou a expectativa de investidores de que haverá corte de juros em junho, enquanto dados da zona do euro mostraram desaceleração de salários e lucros.
Um dia antes, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, disse que a instituição “não estava longe” de ter confiança suficiente para começar a baixar o custo do crédito.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou que os dirigentes tinham “começado a discutir a possibilidade de recuar da nossa posição restritiva” e comemoraram a “evolução positiva na direção de nossa meta de inflação”, mesmo que “ainda não tenhamos chegado lá”.
“Achei-os muito sincronizados nessa posição mais ‘dovish’ [suave]”, disse Ludovic Subran, economista-chefe da seguradora Allianz, em referência a Powell e Lagarde. “A questão agora é se o Fed vai esperar até setembro para cortar taxas.”
Os dados dos EUA divulgados na sexta-feira mostram que a economia criou 275 mil vagas em fevereiro, superando as previsões, mas a forte revisão para baixo dos números anteriores reforçou a expectativa de que o primeiro corte de juros poderia ocorrer por volta de junho.
Na zona do euro, dados do quarto trimestre mostraram que o custo do trabalho por unidade produzida e a margem de lucro cresceram em ritmo mais lento, o que acalmou temores de que empresas estariam alimentando a inflação com repasse de custo trabalhista mais alto elevando preços de modo agressivo.
Os mercados diminuíram suas apostas em uma série de cortes nas taxas de juros em 2024, já que a inflação europeia provou ser mais persistente do que se esperava e o mercado de trabalho dos EUA segue surpreendentemente robusto.
Mas a situação virou recentemente. Agora os mercados estão embutindo nos preços a estimativa de até quatro cortes de 0,25 ponto porcentual nas taxas neste ano, tanto por parte do Fed como do BCE, em comparação com a previsão de três cortes do início do mês. A expectativa é que o Banco de Inglaterra faça seu primeiro corte no verão, já que seu presidente, Andrew Bailey, aponta “sinais encorajadores” da inflação.
“Agora você tem o BCE dizendo que abril é o momento provável para um corte e, se não, com certeza até junho”, disse William Vaughan, gerente associado de carteira da Brandywine Global. “É uma mudança de tom nítida com relação às mensagens do mês passado, e os dados salariais mais fracos de hoje [sexta-feira] dão suporte a essa posição mais dovish.”
Na sexta-feira, três responsáveis pela definição das taxas do BCE reforçaram essa leitura. O presidente do banco central francês, François Villeroy de Galhau, disse que um corte era provável em abril ou junho. Olli Rehn, do BC da Finlândia, afirmou que os riscos de cortar cedo demais “diminuíram de modo significativo”. Até o agressivo chefe do BC da Áustria, Robert Holzmann, disse que uma mudança nas taxas “pode estar em preparação”.
“O que mudou é que parece que eles começaram a recuperar a confiança nos seus modelos e previsões, o que os aproxima do primeiro corte”, disse Frederik Ducrozet, chefe de pesquisa macroeconômica da Pictet Wealth Management.
Nem todos os “hawkish” (pró-aperto) estão convencidos. Nos EUA, Neel Kashkari, presidente do Fed de Minneapolis, e Raphael Bostic, que comanda o Fed de Atlanta, acreditam que a força da economia americana significa que o Fed não precisa cortar as taxas tanto quanto os responsáveis pela política monetária consideravam necessário em dezembro, quando previam três cortes ao longo de 2024.
Joachim Nagel, presidente do Bundesbank da Alemanha, reconheceu que “cresce a probabilidade de que tenhamos cortes nas taxas de juro antes das férias de verão”, mas alertou para o risco de cair na “euforia cedo demais”. (Colaborou Sam Fleming, de Londres)
Fonte: FT / Valor Econômico

