15 Jun 2023
A Americanas afirmou ontem que a fraude descrita em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na terça-feira ajudou a incrementar os resultados da companhia ao longo do tempo em R$ 25,3 bilhões até o dia 30 de setembro de 2022.
Segundo a varejista, contratos de VPC (verbas de propaganda cooperada), que são recursos publicitários tradicionalmente negociados entre a indústria e o varejo, atingiram o saldo de R$ 21,7 bilhões, enquanto a ausência de lançamento de juros sobre operações financeiras totalizaram o saldo de R$ 3,6 bilhões.
Como as verbas publicitárias inexistentes melhoravam os resultados operacionais da companhia, mas não apareciam no caixa, a empresa teve de descontá-las de alguma forma, e os números foram lançados majoritariamente na forma de “redutores da conta de fornecedores”, linha que indica o quanto a empresa paga para os fabricantes.
Na terça-feira, a empresa divulgou relatório elaborado por uma comissão independente nomeada em janeiro, logo após Sérgio Rial, então presidente que estava havia 9 dias no cargo, divulgar o que ele chamou de “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões no caixa da varejista. No documento, a empresa admitiu que houve fraude e culpou a antiga diretoria pelo desfalque, que, recalculado, seria de pelo menos R$ 42 bilhões.
O incremento fraudulento dos contratos de VPC tinham o objetivo de abater a rubrica de “contas a pagar” aos fornecedores da contabilidade da empresa. Conforme o documento entregue à CVM, com os acordos formais falsos somaram R$ 21,7 bilhões – número aferido em 30 de setembro de 2022. A empresa não informou durante quanto tempo a fraude ocorreu. Disse apenas no documento que foi durante um período “significativo”.
Ainda de acordo com as investigações internas, a direção anterior da empresa não lançou nos balanços da empresa juros acumulados sobre as operações financeiras, de R$ 3,6 bilhões. A soma dos valores – dos contratos fraudulentos e dos juros – equivale ao resultado positivo de R$ 25, 3 bilhões.
RISCO SACADO. De acordo com informações da comissão independente da companhia, os contratos VPC serviam para esconder o valor do crédito tomado de bancos na modalidade de risco sacado. Por esse sistema, há uma triangulação entre as companhias, bancos e fornecedores. As instituições financeiras pagam as fabricantes e os valores se transformam em empréstimos da companhia.
O documento informou que essas operações somaram R$ 18,4 bilhões e teriam de constar nos balanços como dívidas, o que não ocorreu. A simulação dos contratos de publicidade ocorreu para que os valores do risco sacado não fossem lançados na contabilidade e pudessem alertar o mercado sobre a real situação da empresa. Além do risco sacado, a empresa, apontou o relatório, também lançou de forma indevida valores de R$ 2,2 bilhões em capital de giro. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

