Por Stella Yifan Xie, Dow Jones
31/07/2023 17h48 · Atualizado
Os indicadores de atividade industrial e de serviços na China continuaram fracos em julho, uma prova de que a segunda maior economia do mundo perde impulso,
apesar das autoridades mostrarem alguma disposição para tentar reverter essas tendências.
Uma série de desafios econômicos tem afetado as perspectivas da China, entre eles o desemprego entre os jovens, as pressões deflacionárias e uma desaceleração prolongada do mercado de imóveis. A economia chinesa como um todo mal cresceu no segundo trimestre.
Dados divulgados ontem sugerem que a debilidade prosseguiu em julho. O Departamento Nacional de Estatísticas informou que seu índice de atividade industrial se manteve em território de contração pelo quarto mês consecutivo, enquanto uma medida da atividade do setor de serviços caiu para seu nível mais baixo neste ano. Também apontaram números decepcionantes sobre emprego, construção e exportações.
Esses são os primeiros dados sobre o segundo semestre e os mais recentes a mostrarem como o impulso pós-pandemia do consumo vem se dissipando diante de desafios como o desemprego entre os jovens, que chega a 21%, e mais sinais de fraqueza nos setores de construção e compra de imóveis.
Mas as autoridades chinesas parecem relutantes em intervir de modo significativo, mesmo diante de um padrão de fragilidade que reduz a confiança das pessoas e das empresas de maneira que ameaça a piorar a crise.
Para economistas, o plano de 31 pontos divulgado no início de julho com o objetivo de fortalecer o setor privado e melhorar o sentimento das empresas era limitado em seu escopo. Também consideraram tímidas as medidas anunciadas ontem pela agência estatal de planejamento da China para construir mais shopping centers em áreas remotas, promover a revitalização de bairros e pressionar os governos locais para que incentivem as vendas de automóveis.
Essas ações visam estimular o investimento quando a dívida é um problema, em contraposição a medidas como cortes de impostos ou subsídios que poderiam colocar dinheiro diretamente nas mãos dos consumidores e estimular uma atividade de consumo mais imediata.
“Pensando para o futuro, o apoio político é necessário para evitar que a economia da China caia em recessão”, escreveram economistas da Capital Economics.
O principal dado de ontem, o índice oficial de atividade industrial da China, subiu de 49 em junho para 49,3 em julho — mas continuou abaixo da marca de 50 que separa expansão de contração pelo quarto mês seguido.
Mais do que um contraste com o desempenho dos EUA depois da pandemia da covid, a fraqueza econômica da China representa riscos dentro e fora de suas fronteiras. Isso é especialmente verdadeiro à medida que as pressões deflacionárias se tornam mais visíveis.
Preços em queda empurrariam a economia da China ainda mais para baixo, pois levaria as empresas a perder dinheiro, os clientes a adiar encomendas e à necessidade de reduzir o número de funcionários. E embora os produtos mais baratos da China possam atrair consumidores ao redor do mundo, a deflação também significaria menos poder de compra chinês para bens produzidos no exterior.
As autoridades chinesas e alguns economistas rejeitam a ideia de que a economia está à beira da deflação. Afinal, Pequim ainda projeta um crescimento de 5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, o que superaria a maioria das grandes nações — algumas das quais próximas a uma recessão.
Ainda assim, a série de dados econômicos decepcionantes da China e os sinais de declínio da confiança em todas as áreas, de valores das residências até as perspectivas de emprego, sugerem a outros economistas que, depois de décadas de expansão constante, o país pode estar diante de uma estagnação prolongada, como a do Japão nos anos 1990.
As dívidas alimentaram boa parte do crescimento da China nos últimos anos, com a economia impulsionada por investimentos que possibilitaram ao governo a construção de pontes, ferrovias, residências e outras obras. As autoridades não implementaram políticas vistas como necessárias para criar um mercado consumidor que poderia colocar a expansão na economia, de US$ 18 trilhões, num caminho mais sustentável.
O índice de atividade é considerado um indicador antecedente da economia e os subíndices de julho apontaram para o quinto mês consecutivo de contração do nível de emprego e para o menor grau de atividade econômica no setor de serviços desde dezembro, quando Pequim abandonou sua política de covid-zero que havia estrangulado o setor de viagens e de restaurantes por três anos. Um subíndice de construção civil caiu para 51,2 pontos em julho — o menor patamar desde fevereiro de 2020.
A Capital Economics prevê que a demanda global por bens chineses vai desaquecer ainda mais e enfraquecer as exportações do país. Os dados de ontem chamaram a atenção para esse risco, já que um subíndice de novas encomendas por produtos de exportação caiu para seu nível mais baixo em seis meses, embora o total de novas encomendas tenha melhorado um pouco.
Robert Carnell, economista do ING, prevê que mais uma queda acentuada na atividade de serviços, que também perdeu força em julho, poderá empurrá-lo para níveis próximos à zona de contração, o que neutralizaria os efeitos de qualquer melhoria registrada pela indústria de transformação.
Economistas dizem que Pequim está sinalizando a possível chegada, no curto prazo, de maior apoio da parte das políticas públicas, embora esse tipo de ação tenha se mostrado fragmentada. “Até agora, isso não se traduziu no tipo de estímulo de política fiscal considerável que muitos no mercado se acostumaram a esperar”, disse Carnell. “Achamos que não virá.”
“A não ser que seja distribuído apoio concreto em breve, a recente desaceleração da demanda corre o risco de se autorreforçar”, observou a Capital Economics.
O Politburo, o principal órgão de tomada de decisões da China, reconheceu na semana passada que as políticas habitacionais têm de ser corrigidas, e muitas cidades abrandaram as restrições a compras de imóveis que foram impostas durante os anos de surto de crescimento imobiliário. A empresa privada de dados China Real Estate Information disse ontem que as 100 maiores construtoras do país venderam US$ 49 bilhões em unidades residenciais particulares em julho, 33% menos do que em junho e o total mensal mais baixo dos últimos três anos.
Fonte: Valor Econômico

