Por Bloomberg — São Paulo
16/05/2023 15h44 Atualizado há 18 horas
A recuperação econômica da China perde força após um salto inicial do consumo e da atividade de negócios no começo do ano, o que leva a pedidos de mais estímulos para impulsionar o crescimento.
Dados oficiais divulgados nesta terça-feira mostraram que a produção industrial, as vendas no varejo e o investimento fixo cresceram em um ritmo muito mais lento do que o esperado em abril. Os números foram decepcionantes, embora a fraca base de comparação do ano passado, quando Xangai estava em confinamento, tenha influenciado os dados.
Uma grande preocupação foi o aumento da taxa de desemprego entre jovens para um recorde de 20,4%, um sinal de que a recuperação pós-pandemia não é forte o suficiente para absorver os milhões de novos trabalhadores.
Os dados confirmam pistas de outros indicadores recentes que mostraram uma recuperação frágil. O mercado imobiliário continua fraco, apesar dos primeiros números de retomada das vendas de imóveis, a inflação está próxima de zero e consumidores relutam em tomar empréstimos.
Economistas dizem que mais políticas serão necessárias para dar continuidade à recuperação, embora as medidas do banco central por si só não sejam suficientes para aumentar a confiança de consumidores e empresas.
“O apoio de políticas é importante, mas a questão é qual estímulo de política é mais importante”, disse Haibin Zhu, economista-chefe para a China do JPMorgan Chase, em entrevista à Bloomberg TV. “A política industrial provavelmente terá um papel mais importante do que o estímulo fiscal, principalmente no estímulo ao consumo.”
“A política monetária pode desempenhar um papel complementar, mas honestamente, um corte de juros não é a resposta mais urgente”, avalia.
Há vários alertas nos dados desta terça-feira que apontam para uma recuperação inconsistente. O investimento imobiliário caiu 16,2% em abril em relação ao ano anterior, embora as vendas de imóveis tenham crescido, de acordo com cálculos da Bloomberg com base em dados oficiais. A construção de casas segue em queda.
A produção das principais commodities usadas na construção, como alumínio e aço, caiu em abril na comparação mensal.
O Banco Popular da China (BPC) deu a entender na segunda-feira que vai manter uma política de apoio, o que levou alguns economistas a prever que poderia tomar medidas mais fortes nos próximos meses, o que incluiria a redução do nível de compulsório ou corte das taxas de juros. Os dados desta terça-feira reforçaram essas previsões.
“O consumo permaneceu sólido, mas o aumento do desemprego juvenil para um recorde levanta questões sobre a sustentabilidade dessa recuperação”, disse Michelle Lam, economista para a Grande China no Société Générale. “Os dados de hoje abrem as portas para novos cortes na taxa de compulsório e nas taxas de juros, possivelmente em junho.”
O BPC preferiu não aplicar cortes agressivos nos juros nos últimos anos, preferindo medidas de estímulo direcionadas. Em uma seção especial de seu relatório na segunda-feira, o BPC disse que se ateve ao chamado “princípio de atenuação” ao tomar decisões sobre as taxas, o que significa escolher um meio-termo ou uma abordagem relativamente cautelosa em relação às decisões de política monetária.
Uma economia global enfraquecida também agrava os problemas da China. A alta inflação e juros crescentes nos principais mercados do país reduziram a demanda de consumidores por produtos chineses. Exportadores da maior feira comercial da China relataram recentemente uma queda nos pedidos do exterior, enquanto pesquisas com gerentes de compras também sinalizaram desaquecimento no setor manufatureiro.
Investimento mais fraco
Com base em uma taxa média de crescimento de dois anos, as vendas de bens relacionados a imóveis, como materiais de construção e móveis, encolheram 11,5% e 5,7%, respectivamente, segundo estimativas de Bruce Pang, economista-chefe para a Grande China da Jones Lang LaSalle.
Economistas do Goldman Sachs minimizaram o receio de que a recuperação começou a perder o rumo e manteve sua previsão de crescimento anual de 6% para este ano.
“Não vemos os dados de atividade de abril como um ponto de virada para o crescimento”, escreveram os economistas, incluindo Lisheng Wang, em nota após a divulgação do relatório. “Acreditamos que a recuperação pós-reabertura liderada pelo consumo da China ainda está no caminho certo, mas algumas fragilidades persistentes na economia podem exigir um apoio de políticas mais direcionado para neutralizá-las.”
Fonte: Valor Econômico
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