A recuperação estelar do mercado de ações estancou quando o calendário virou para 2024. Algumas das ações das grandes empresas de tecnologia que impulsionaram o avanço das bolsas em Nova York no ano passado parecem ter perdido o gás, as taxas de retorno dos bônus do governo dos EUA subiram e é possível que a inflação americana não esteja esfriando de maneira tão rápida como alguns investidores esperavam. Depois de um começo de mês acidentado, o S&P acumula uma leve queda de 0,08% em janeiro.
Investidores dizem que uma baixa no entusiasmo é normal depois de um período de ganhos robustos como os que encerraram 2023. Eles também afirmam ter muitas dúvidas sobre o curso da economia e das taxas de juro, que serão fundamentais para compreender a trajetória do mercado este ano.
Estas são algumas das questões mais importantes:
A recuperação das ações pode se estender além das ‘magníficas’?
As ações deram um salto fora da curva no ano passado, para surpresa de quase todo mundo. Qual o problema disso? Apenas sete ações das grandes da tecnologia — Apple, Microsoft, Alphabet, Amazon, Nvidia, Tesla e Meta Platforms — foram responsáveis pela maioria dos ganhos do S&P 500. Isso provocou temores sobre a saúde da recuperação e se o mercado ficaria vulnerável a uma recessão se alguns desses pesos pesados fraquejassem.
Este ano, a expectativa de muitos investidores é de uma revitalização das ações em áreas deprimidas do mercado, um sinal de otimismo entre os estrategistas que consideram o crescimento da amplitude do mercado como uma indicação de que uma recuperação tem força para continuar.
Os investidores têm motivos para sentirem-se esperançosos. Desde a baixa recente do mercado de ações em 27 de outubro, o Russell 2000, que se concentra em pequenas empresas, ganhou 19%, e o S&P 500 de ponderação equitativa, que dá o mesmo peso às menores e às maiores empresas do índice, teve um acréscimo de 17%. Os dois índices ultrapassaram o avanço de 16% do S&P 500 tradicional.
Os setores do S&P 500 que tiveram o começo mais forte em janeiro são os de serviços de saúde, de serviços de comunicação e de bens de primeira necessidade, todos em alta de pelo menos 1,2%.
As ações seguirão em alta quando o Fed começar a cortar juros?
As ações tiveram um início turbulento em janeiro, depois de encerrar 2023 de maneira estrondosa. Isso levou a dúvidas sobre se os mercados tinham ido longe demais e rápido demais, e se os cortes esperados nas taxas de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) já estavam embutidos nos preços.
Em um ciclo de relaxamento monetário, as ações costumam ter dificuldades para estabelecer uma posição forte antes do primeiro corte nas taxas de juros. De acordo com a Ned Davis Research (NDR), desde os anos 1970 o S&P 500 observa um declínio médio de 1,8% nos três meses que antecedem um primeiro corte de taxas. A NDR ressalva que o quadro melhora depois disso, e as ações ganham cerca de 20%, em média, ao longo de um ciclo de afrouxamento.
“Parece que o que fizemos em dezembro teve como resultado um cenário tremendamente bom para um pouso suave”, disse Joe Kalish, estrategista-chefe global de macro da NDR. “Não digo que não seja possível, mas pode ser difícil conseguir isso e ao mesmo tempo manter a taxa de desemprego baixa e fazer a inflação cair.”
Ainda há possibilidade de recessão nos Estados Unidos?
Muitos economistas baixaram suas estimativas sobre a probabilidade de uma recessão nos EUA. Isso se deve principalmente a uma queda da inflação, à força do mercado de trabalho, a um esfriamento do crescimento salarial e a gastos de consumo fortes.
Mas a expectativa dos dirigentes do Fed é a de que a economia cresça a um ritmo mais lento este ano, em comparação com o ano anterior, e a taxa de desemprego suba para 4,1% até o quarto trimestre. À medida que suas poupanças da época da pandemia se esgotam, os consumidores também podem reduzir os gastos.
Normalmente, os efeitos do aperto da política monetária demoram algum tempo para serem sentidos por toda a economia. Segundo Jeff Schulze, chefe de estratégia econômica e de mercado da ClearBridge Investments, desde o fim dos anos 1950, em média 23 meses separam a primeira elevação das taxas de um ciclo de alta do início de uma recessão econômica. O atual ciclo de elevação das taxas começou há 21 meses.
“Nossa, fomos precipitados ao achar que, como este ciclo de elevação das taxas de juros foi o mais rápido e com as maiores altas de nossa história recente, ele levaria à recessão mais rápida e profunda”, disse Jeff Klingelhofer, codiretor de investimentos da Thornburg Investment Gerenciamento. “Isso não aconteceu. Mas só porque não aconteceu não significa que não estamos mais no rumo de uma retração.” (Colaborou Alana Pipe)
Fonte: Valor Econômico

