Por Pedro Borg e Suzi Katzumata, Valor — São Paulo
25/07/2023 10h33 Atualizado há 13 horas
A economia global continua se recuperando gradualmente dos impactos da pandemia de covid-19 e da invasão da Ucrânia pela Rússia, mas ainda tem “muitos desafios à frente e é muito cedo para comemorar”, afirmou ontem o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourincha, no lançamento do mais recente Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês).
Os “inegáveis” sinais de progresso no curto prazo, segundo Gourinchas, levaram o FMI a melhorar sua previsão de crescimento para a economia global neste ano para 3%, um aumento de 0,2 ponto percentual em relação ao estimado em abril. Vários desenvolvimentos nos últimos meses contribuíram para essa mudança na avaliação do do FMI, incluindo a resiliência do mercado de trabalho em economias avançadas como os EUA e a Europa, forte recuperação dos gastos em serviços como turismo no primeiro trimestre, diminuição dos riscos de estabilidade financeira e uma diminuição das interrupções na cadeia de suprimentos.
“Os preços da energia e dos alimentos caíram acentuadamente dos picos induzidos pela guerra, permitindo que as pressões inflacionárias globais diminuíssem mais rapidamente do que o esperado”, escreveu Gourinchas, em artigo no blog do FMI.
Apesar da revisão positiva, a nova projeção para a economia global segue bem abaixo do crescimento de 3,5% registrado em 2022. “O crescimento continua fraco pelos padrões históricos”, aponta o relatório do FMI. “As forças que impediram o crescimento em 2022 persistem.”
Os países avançados concentram a maior parte da desaceleração, devendo crescer apenas 1,5% neste ano, de 2,7% no ano passado. Já o crescimento nas economias de países emergentes e em desenvolvimento deve se manter relativamente estável em 4% neste ano, mesmo percentual de 2022.
“No longo prazo também vemos crescimento baixo e isso preocupa mais porque indica queda na produtividade. Não temos respostas para lidar com isso, achamos que isso é causado pelo envelhecimento da população”, disse o economista-chefe do FMI. “Impactos da covid-19 também são um fator, já que as medidas para conter os efeitos da pandemia deixaram os Estados com pouco espaço fiscal”.
Gourinchas observa que parte da desaceleração do crescimento reflete o impacto de políticas prejudiciais, como as que levam à fragmentação geoeconômica. Ele ressaltou que o movimento de fragmentação do comércio global e de mudanças nas cadeias globais tende a deslocar as cadeias de produção para próximo aos países mais ricos com grandes mercados consumidores, como EUA e Europa. Isso irá afetar a competitividade dos emergentes e em desenvolvimento, mais dependentes de medidas de cooperação.
Além disso, a falta de avanços na transição climática deixará os países mais pobres mais expostos a choques climáticos cada vez mais severos e ao aumento das temperaturas, mesmo que representem uma pequena fração das emissões globais. “Em todas essas questões, a cooperação multilateral é a melhor maneira de manter o crescimento”, disse Gourinchas.
O FMI estima que a inflação global continuará a desacelerar este ano, de 8,7% em 2022 para 6,8% — uma revisão para baixo de 0,2 ponto percentual em relação a abril. Mesmo assim, a inflação segue em níveis elevados, corroendo o poder de compra das famílias. As políticas de aperto monetário dos bancos centrais para combater a inflação elevam os custos de financiamento e pesam sobre a atividade econômica, aponta o Fundo.
Apesar do cenário de longo prazo mais fraco provocado pelo juro elevado, Gourinchas diz que o movimento de aperto da política monetária internacional foi essencial para a manutenção das expectativas de que a economia global se estabilizaria dos choques provocados pela pandemia e guerra da Ucrânia — situação que, caso ficasse fora de controle, afetaria fortemente os investimentos privados.
“A política monetária também afeta a atividade econômica e isso vai ajudar a trazer a inflação para as metas dos bancos centrais”, disse Gourinchas. “Com inflação diminuindo, entramos na última fase do ciclo de alta das taxas de juros […], mas a batalha contra a inflação ainda não foi vencida”.
Fonte: Valor Econômico

