A história dos mercados financeiros é feita de padrões que, embora não se repitam com exatidão, costumam rimar. Um dos mais consistentes é a sequência de entrada de capital nos ciclos de valorização da bolsa brasileira: primeiro os investidores estrangeiros, depois os institucionais locais e, por fim, o investidor pessoa física. Essa dinâmica, observada ao longo das últimas décadas, parece mais uma vez estar em curso.
O capital estrangeiro, tipicamente o primeiro a se mover, é impulsionado por mandatos globais de alocação em mercados emergentes. Se mostra sensível quando detecta mudanças de “valuation”, dinâmicas cambiais e expectativas macroeconômicas. Sua atuação costuma antecipar movimentos mais amplos de rotação de ativos, mesmo em contextos locais de instabilidade política ou fragilidade fiscal.
No primeiro semestre de 2025, por exemplo, os estrangeiros ingressaram com mais de R$ 25 bilhões na bolsa brasileira, apesar de um cenário doméstico ainda desafiador – com juros em dois dígitos e embates políticos constantes. Ainda que nas últimas semanas o número tenha reduzido, a perspectiva segue de entradas.
Esse comportamento antecipatório tem precedentes claros. No ciclo de alta da bolsa entre 2016 e 2021, os estrangeiros protagonizaram a primeira onda de fluxo positivo, com R$ 553 bilhões investidos entre dezembro de 2015 e dezembro de 2017. Essa movimentação coincidiu com um momento de grande incerteza no Brasil: crise política, impeachment e recessão. Ainda assim, o Ibovespa se valorizou 49% nesse intervalo.
Já os investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, tendem a agir com mais cautela. Sua atuação está condicionada à confirmação de melhorias no cenário macroeconômico e à redução do risco fiscal. Antecipam menos, aguardando um cenário mais solidificado. No mesmo ciclo citado, eles intensificaram sua exposição à renda variável apenas entre 2017 e 2019, quando as taxas de juros começaram a cair de forma sustentada. Nesse período, a alocação institucional somou R$ 426 bilhões, acompanhando de perto os estrangeiros.
Por fim, o investidor pessoa física, influenciado por campanhas de marketing, redes sociais e narrativas otimistas, costuma entrar no ciclo quando os ativos já acumularam fortes valorizações. Entre o fim de 2019 e meados de 2021, os investidores de varejo foram os principais compradores de ações, com R$ 200 bilhões em aportes, justamente quando estrangeiros estavam reduzindo exposição. A entrada tardia do varejo frequentemente coincide com picos de complacência no mercado e precede correções.
O ciclo atual parece repetir essa lógica. O “valuation” da bolsa brasileira continua comprimido – o Ibovespa negocia a cerca de 8,7 vezes lucros – e o dólar perdeu força globalmente, favorecendo os mercados emergentes. Enquanto isso, os investidores institucionais locais permanecem posicionados em títulos públicos de longo prazo, como as NTN-Bs, atraídos por um retorno real próximo de 10%, mas alheios ao potencial de valorização da bolsa.
Esse desequilíbrio entre os diferentes tipos de investidores é, historicamente, um sinal de que o ciclo de valorização ainda está em sua fase inicial. Além disso, a distorção entre os juros nominais e reais indica uma oportunidade para aqueles dispostos a anteciparem o movimento. As NTN-Bs de vencimento em 2050, por exemplo, voltaram a oferecer taxas acima de IPCA + 7%, algo raro na série histórica. Sempre que isso ocorreu, os retornos subsequentes – em janelas de 6, 12 e 18 meses – foram expressivos.
Paralelamente, o mercado de crédito privado vive um momento de forte captação, mas também de riscos crescentes. A demanda elevada estreitou os spreads e comprimiu o retorno desses títulos, mesmo diante de um ambiente de maior deterioração fiscal e de crédito. Esse cenário pode se reverter com uma eventual rotação dos investidores para ativos de risco, o que deve pressionar os preços desses papéis e reabrir os spreads.
A assimetria atual entre risco e retorno aponta para uma janela estratégica: os fundamentos ainda não melhoraram de forma significativa, mas os fluxos já começaram a se mover. A história mostra que as grandes oportunidades surgem justamente nesse momento – quando há desalinhamento entre percepção e preço.
A pergunta que se impõe, portanto, é: em que estágio do ciclo você pretende entrar? Os sinais indicam que o primeiro ato já começou. Para quem deseja capturar o potencial de valorização da bolsa brasileira, talvez seja a hora de olhar além do ruído e agir antes que o consenso se forme.
Luiz Fernando Araújo é sócio e gestor da Finacap
Felipe Moura é sócio e gestor da Finacap
E-mail: finacap@finacap.com.br
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Fonte: Valor Econômico

