Ainda que o fluxo de investidores estrangeiros para a bolsa tenha perdido um pouco de força após a postura mais dura adotada pelo presidente americano, Donald Trump, contra o Brasil, a avaliação da ARX Investimentos é de que ainda existe um interesse por parte desse perfil de alocar por aumentar a posição em Brasil, o que poderia servir como um “colchão” para o mercado acionário local.
“Achamos que o fluxo de estrangeiro vai continuar. Na semana passada, tivemos esse efeito [tarifa] do Donald Trump e a reação do mercado foi bem tranquila. Temos uma demanda por ativos brasileiros de investidores globais que tende a segurar os preços. Olhando para frente tem a precificação de uma transição de governo”, afirmou Rogério Poppe, CEO da gestora. O executivo participou ontem de evento organizado pela XP.
Com visão semelhante, o estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira, que também participou do evento, destaca que houve uma desaceleração recente dos fluxos estrangeiros para a bolsa, mas que isso foi impulsionado por uma retomada das “big techs” e das bolsas dos EUA, como um todo. Apesar disso, ele defende que a rotação para mercados fora dos Estados Unidos pode continuar, em meio a uma perspectiva de dólar global mais fraco, “valuations” atrativos na América Latina, migração para um regime de inflação e juros mais baixos no Brasil, além de uma chance de transição de poder em 2026.
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Ainda que a postura adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em resposta ao “tarifaço” de Trump possa ter ajudado a melhorar a popularidade do chefe do Executivo em pesquisas, a visão da Genoa Capital é que é cedo demais para precificar movimentos mais fortes com base nas eleições.
Embora alguns executivos tenham chamado a atenção de que o movimento mais negativo nos ativos domésticos visto recentemente possa ter sido potencializado por eventuais mudanças na popularidade do governo, José Luiz Torres, gestor da Genoa, que também participou do painel, avalia que o desempenho da bolsa local nos últimos dias foi motivado por uma procura maior por ações de tecnologia americanas.
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“Acho que pode ter algo [da questão eleitoral], mas uns 80% a 90% do movimento não têm nada a ver com eleição. É muito mais as techs americanas que andaram do que um call eleitoral. Se o [investidor] local realizar por isso, tem um fluxo gringo que segura”, acrescenta Junior.
O executivo da Genoa observa que, nos primeiros dias de queda da bolsa, as ações de companhias estatais, como Petrobras e Banco do Brasil, não apresentaram um desempenho muito abaixo ou acima da média de mercado, em momentos em que foram apresentadas novas pesquisas de popularidade do governo, o que parece enfraquecer essa hipótese do efeito da corrida eleitoral sobre o mercado acionário local.
“Entrou numa discussão meio ‘maluca’. Vamos para um cenário em que o mercado vai precificar que não é Lula [que vai ganhar] e o dólar cai pra R$ 5. A economia melhora, a inflação cai e é bom para o Lula. O que a gente faz? A gente volta o trade? Fica um negócio meio esquizofrênico agora”, pondera o gestor da Genoa.
Após a forte alta registrada pela bolsa no primeiro semestre deste ano, algumas gestoras realizaram ajustes nas carteiras. Poppe, da ARX, por exemplo, afirma que as alterações foram feitas porque há “menos oportunidades” para se investir agora. “A gente fez um movimento em junho onde voltamos a reduzir cíclicos domésticos e voltamos a ficar mais defensivos e a aumentar cíclicos globais, como Vale e Petrobras”, observa o executivo, que está mais conservador agora.
Em sua justificativa, Poppe aponta que as eleições ainda estão distantes e que as tarifas deverão ser monitoradas pelos seis próximos meses, o que exigirá cautela.
Fonte: Valor Econômico


