Brazil Tue 06 Aug, 2024 – 09:34 ET
Fitch Ratings – São Paulo – 06 Aug 2024: A Fitch Ratings atribuiu, hoje, Rating Nacional de Longo Prazo ‘AAA(bra)’ à proposta de quarta emissão de debêntures quirografárias do Aché Laboratórios Farmacêuticos S.A. (Aché), que totalizará BRL200 milhões e terá vencimento em 2031. Os recursos serão utilizados na gestão ordinária dos negócios da companhia. A Fitch classifica o Aché com IDR (Issuer Default Rating – Rating de Inadimplência do Emissor) em Moeda Estrangeira ‘BB+’, Perspectiva Estável, IDR em Moeda Local ‘BBB’, Perspectiva Negativa, e Rating Nacional de Longo Prazo ‘AAA(bra)’, Perspectiva Estável.
O rating reflete a forte posição de negócios do Aché no defensivo mercado varejista farmacêutico brasileiro, com liderança no segmento de prescrições e marcas fortes e bem estabelecidas, para as quais aplica preços com altas margens. A natureza defensiva da indústria farmacêutica, que apresenta pouca volatilidade de fluxos de caixa, e o baixo risco do portfólio de produtos da empresa, que não tem exposição relevante a patentes e licenças, também foram incorporados à análise. A sustentável posição de mercado do Aché é reforçada por sua grande força de vendas, que lhe proporciona vantagem competitiva em termos de alcance na comunidade médica e de reconhecimento de marca.
O Aché tem crescentes desafios para fazer as margens retornarem para os níveis históricos e gerir estoques em meio a um ambiente mais competitivo, além de levar adiante a mudança de sua estratégia operacional.
A Perspectiva Estável do rating nacional considera o comprometimento da companhia com a preservação de uma estrutura de capital desalavancada e de sua robusta liquidez.
PRINCIPAIS FUNDAMENTOS DO RATING
Fundamentos Positivos do Setor: O setor farmacêutico tem fundamentos de longo prazo positivos, devido ao envelhecimento da população mundial, à crescente necessidade de medicamentos para doenças crônicas e ao maior acesso das pessoas aos sistemas de saúde. O setor tem superado consistentemente o crescimento da economia brasileira. Nos últimos cinco anos, o mercado farmacêutico brasileiro cresceu aproximadamente 12% ao ano, indicando uma demanda resiliente, mesmo em condições macroeconômicas adversas.
A maior incidência de doenças crônicas e os constantes investimentos em inovação para tratamentos especializados devem continuar impulsionando o consumo de medicamentos nos próximos anos. A capacidade de investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D), manter volume sustentável de lançamentos a cada ano, além de ampliar a capacidade de se beneficiar do esperado crescimento do setor, será fundamental para que o Aché mantenha sua posição competitiva.
Sólido Perfil de Negócios: O Aché detém marca sólida e reconhecida na indústria farmacêutica brasileira. Sua diversificada carteira de produtos, com liderança no segmento de medicamentos com prescrição, e sua presença em medicamentos isentos de prescrição (MIP), que tem apresentado rápido crescimento, além da participação em genéricos e dermocosméticos, sustentam seu forte perfil de negócios. O Aché é o quarto maior laboratório do Brasil em vendas para o varejo farmacêutico e conta com uma das maiores forças de vendas do mercado local, o que lhe confere vantagens competitivas frente a seus pares internacionais e amplo alcance da comunidade médica, o que é crucial para a demanda por medicamentos de prescrição.
Baixo Risco da Carteira de Produtos: O fluxo de caixa operacional do Aché não está significativamente exposto a renovações de licenças ou expirações de patentes. Como outras farmacêuticas de mercados emergentes, dispõe de um pipeline de projetos de P&D mais restrito do que o de seus concorrentes internacionais, além de uma carteira de produtos patenteados mais fraca. A carteira de medicamentos, madura e constantemente renovada, bem como a capacidade de manter um volume sustentável de lançamentos a cada ano e de aumentar a participação das inovações na carteira, são fatores-chave para preservar a posição competitiva da companhia.
Desafio de Recuperar Margens Operacionais: A Fitch acredita que as margens de EBITDA do Aché retornarão ao patamar de 25% a partir de 2025, em linha com a média de 2018-2022, após queda para 16% em 2023. A melhora se apoia na estratégia de defender sua posição no segmento de medicamentos com prescrição e aumentar sua presença em genéricos, MIP e cuidados especiais. A concorrência com as farmacêuticas locais permanece acirrada, com as concorrentes adquirindo marcas de multinacionais, expandindo o alcance de seus genéricos em vários segmentos ou classes terapêuticas e aplicando condições comerciais agressivas.
Recuperação da Geração de Caixa: O fluxo de caixa livre (FCF) antes do pagamento de dividendos do Aché deve permanecer forte. A expectativa é que a companhia gere EBITDA de BRL1,2 bilhão e fluxo de caixa das operações (CFFO) de BRL650 milhões em 2024 e BRL1,5 bilhão e BRL800 milhões, respectivamente, em 2025, em comparação com o EBITDA de BRL800 milhões e CFFO negativo em BRL150 milhões em 2023. A menor geração de caixa em 2023 refletiu um inverno mais ameno, que reduziu os surtos de gripes e resfriados, afetando a demanda por sua principal linha de medicamentos respiratórios, além de maiores necessidades de capital de giro, sobretudo pelo aumento de estoque.
A Fitch acredita que o FCF discricionário permanecerá forte, considerando a forte esteira de lançamentos dos anos anteriores e a nova estratégia, de foco em inovação. O cenário-base incorpora investimentos anuais entre BRL250 milhões e BRL300 milhões durante 2024-2026, relacionados principalmente à expansão da nova fábrica de Pernambuco, e dividendos médios anuais de BRL500 milhões a BRL650 milhões, correspondendo a aproximadamente 8% a 10% da receita líquida. Isto resulta em um FCF ligeiramente negativo em BRL50 milhões em 2024 e 2025. O Aché tem flexibilidade para reduzir dividendos para administrar suas necessidades de caixa.
Estrutura de Capital Desalavancada: O Aché tem mantido baixos índices de alavancagem e fortes indicadores de crédito. A expectativa é que o índice dívida líquida/EBITDA retorne para cerca de 1,0 vez até 2025, após aumento para 2,0 vezes em 2023, à medida que as margens operacionais melhorem. Nos últimos quatro anos, a média do índice dívida líquida/EBITDA da companhia foi de 0,9 vez.
SENSIBILIDADE DOS RATINGS
Fatores Que Podem, Individual ou Coletivamente, Levar a Uma Ação de Rating Positiva/Elevação:
— Com relação aos IDRs em Moedas Estrangeira e Local, as ações de rating positivas estão limitadas ao Teto-país do Brasil, ‘BB+’, e ao rating soberano, ‘BB’.
— Uma ação de rating positiva no rating nacional não é possível, uma vez que se encontra no topo da escala.
Fatores Que Podem, Individual ou Coletivamente, Levar a Uma Ação de Rating Negativa/Rebaixamento:
— O índice dívida líquida/EBITDA superior a 2,0 vezes, em bases recorrentes, pode levar a uma ação de rating negativa no IDR em Moeda Local;
— Deterioração significativa da participação de mercado ou da marca;
— Ações negativas nos ratings soberanos do Brasil e no Teto-país podem resultar em ações semelhantes nos IDRs em Moedas Estrangeira e Local do Aché.
PRINCIPAIS PREMISSAS
As principais premissas da Fitch para o cenário de rating do Aché incluem:
— Crescimento médio de volume de 9% ao ano de 2024 a 2028;
— Crescimento médio de receita de 13% ao ano de 2024 a 2028;
— Investimentos de 4,5% da receita líquida;
— Pagamento de dividendos de 8% a 10% da receita líquida ao ano.
RESUMO DA ANÁLISE
A ausência de diversificação geográfica, a menor escala de negócios e a limitada carteira de pesquisas frente às principais farmacêuticas do mundo restringem o IDR em Moeda Local do Aché a ‘BBB’, enquanto a concentração de receitas no Brasil e a falta de ativos operacionais e financeiros no exterior limitam o IDR em Moeda Estrangeira ao Teto-país, ‘BB+’. O Aché está bem posicionado, em termos de alavancagem, frente aos principais emissores farmacêuticos globais, classificados pela Fitch nas categorias ‘A’/‘AA’, com alavancagem líquida média de 1,0 vez.
O Rating Nacional de Longo Prazo do Aché está na mesma categoria do da Eurofarma Laboratórios S.A. (AAA(bra)/Estável). Ambos estão bem posicionados no mercado farmacêutico brasileiro, mas a Eurofarma possui uma estrutura de capital mais alavancada. O Aché é classificado um grau acima da Blau Farmacêutica S.A. (Blau, Rating Nacional de Longo Prazo AA+(bra)/Estável), que possui escala operacional limitada e concentração de receita em poucos produtos, com foco no segmento não varejista. Ambos apresentam fortes métricas de crédito.
O rating do Aché está dois graus acima do da União Química Farmacêutica Nacional S.A. (União Química, Rating Nacional de Longo Prazo AA(bra)/Estável), que possui boa escala operacional e diversificação, mas a estrutura de capital e a flexibilidade financeira do primeiro são mais fortes.
LIQUIDEZ E ESTRUTURA DA DÍVIDA
Forte Liquidez: O Aché mantém histórico de robusta liquidez. Em 31 de março de 2024, reportou caixa e aplicações financeiras de BRL355 milhões e dívida total de BRL1,8 bilhão. A companhia possui BRL500 milhões em dívidas vencendo até dezembro de 2025. A liquidez é ainda fortalecida por uma linha de crédito rotativo de BRL300 milhões não sacados, por forte geração de FCF antes dos dividendos e pela flexibilidade de reduzir dividendos para administrar as necessidades de caixa, caso necessário.
A dívida do Aché consistia em debêntures de longo prazo (45%), certificados de recebíveis imobiliários – CRIs (28%), transações de longo prazo junto a bancos de desenvolvimento como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (9%), Banco do Nordeste do Brasil S.A. e outros (17%).
PERFIL DO EMISSOR
O Aché é a quarta maior farmacêutica do mercado de varejo brasileiro e líder em medicamentos com prescrição. Sua marca é sólida e bem reconhecida e sua carteira de produtos, diversificada. Além disso, desenvolve, fabrica e comercializa produtos com patentes vencidas e não patenteados localmente.
Data do Comitê de Rating Relevante
17 January 2024
Fonte: Fitch Ratings