O time da UBS Global Wealth Management está otimista com a América Latina e destaca o Brasil como uma das oportunidades mais atrativas entre os emergentes. A região deve se beneficiar da perspectiva de um dólar mais fraco e a avaliação é que o pêndulo político está se movendo em direção ao centro, o que tende a favorecer governos com postura mais responsável do ponto de vista fiscal.
Em entrevista ao Valor na sede do UBS em Nova York, o diretor de investimentos (CIO) de mercados emergentes nas Américas do grupo suíço, Alejo Czerwonko, apontou o desequilíbrio das contas públicas como o “calcanhar de Aquiles” do Brasil. Embora o país não desperte tanto entusiasmo em parte do mercado, ele destaca pontos positivos, ao ver o câmbio a R$ 5,30 por dólar no fim deste ano.
Czerwonko acredita que, ao contrário da última década, em que a América Latina perdeu relevância, os próximos dez anos serão melhores para a região. Para o estrategista, isso se deve principalmente a um cenário externo mais favorável, de dólar fraco. No momento, a tese do “excepcionalismo” americano está sendo testada, o que faz investidores de outras regiões se questionarem sobre ter uma parcela tão alta de suas alocações nos Estados Unidos – um debate que deve se estender por um bom tempo.
“Isso significa que cada dólar a ser investido a partir dessas outras regiões será alocado de maneira mais criteriosa, e não irá automaticamente para os EUA, como tem acontecido ao longo dos últimos anos”, afirma. Czerwonko também destaca que o dólar teve seu pior início de ano desde 1973, fazendo com que praticamente todas as moedas de mercados emergentes e desenvolvidos tenham se valorizado até o momento neste ano. “Na nossa visão, o portfólio principal deve, sim, estar alocado nos EUA, mas será que faz sentido ter de 80% a 90% de concentração lá? Acreditamos que isso é excessivo.”
O executivo acredita que o dólar seguirá em queda, mesmo após ter se desvalorizado em mais de 10% neste ano. Os economistas do UBS avaliam que o elevado déficit fiscal dos EUA e a perspectiva de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) nos próximos 12 meses vão continuar pressionando a moeda americana, inclusive em relação ao real. Diante disso, a visão da casa é a de que os mercados emergentes vão ser os grandes beneficiários da tendência global de diversificação de portfólios.
Embora Czerwonko reconheça que deve haver volatilidade no curto prazo, ele e sua equipe veem um potencial de valorização de 5% a 7% para as ações de mercados emergentes nos próximos 12 meses. A classificação é neutra para a maior parte dos países, mas o Brasil é um destaque. “Recomendamos uma abordagem seletiva, com preferência por histórias de crescimento estrutural em Taiwan e na Índia. Também gostamos do setor de tecnologia na China continental, devido à resiliência nos lucros e ao potencial de monetização, além do Brasil, dados seus ‘valuations’ e crescimento econômico sólido.”
Já no cenário para a América Latina, Czerwonko destaca que grande parte dos países da região terá eleições em breve e vê o pêndulo político na região se deslocando para o centro, o que tende a ser bem visto pelos participantes do mercado. “Há uma probabilidade de que novos líderes assumam com uma missão diferente, com maior apreço pela participação do setor privado na economia, e talvez uma abordagem fiscal mais responsável, que é urgentemente necessária na região”, afirma.
“Esse é um dos motivos pelos quais acredito que a América Latina tem uma boa oportunidade pela frente. Não dá para garantir que a região vá aproveitá-la, mas acho que há uma chance razoável de um desfecho positivo”, enfatiza.
No Brasil, mais especificamente, ele acredita que o principal motor por trás do rali do Ibovespa e do real neste ano vem do cenário externo. “Eu argumentaria que o Brasil está indo bem por causa do dólar fraco. Tem pontos positivos domésticos, mas o principal motivador é externo”, afirma. Ainda assim, a UBS Wealth destaca o país como um mercado de ações atraente, que deve se beneficiar do efeito de reformas domésticas implementadas anos atrás e da possibilidade de uma liderança política disposta a buscar mais reformas.
“O Brasil não tem sido visto como superempolgante recentemente, como muitos têm me lembrado, mas os fundamentos e o contexto sugerem um otimismo cauteloso”, afirma. No cenário doméstico, ele observa que a Selic parece ter atingido seu pico, o que tende a favorecer os ativos. “O próximo movimento será uma redução. Ninguém sabe exatamente quando, mas essa é a direção mais provável, e isso é bom.”
“Acho que, mesmo se o Fed não cortar os juros, os bancos centrais na América Latina vão. Provavelmente com limites – porque se o Fed cortar torna tudo mais fácil -, mas vão”, afirma o executivo.
Quanto às eleições, ele reconhece que as notícias mais recentes sobre pesquisas de popularidade e possíveis candidatos têm estado no centro das atenções dos investidores, mas argumenta que isso não é o mais relevante no momento, ainda mais considerando que falta mais de um ano para a votação no Brasil. “Acho que os investidores começaram a processar qualquer desenvolvimento político com base no que isso significa para a próxima eleição, mas ainda é cedo e, se você for olhar para isso todos os dias, vai acabar enlouquecendo.”
“Não podemos nos esquecer que existem forças maiores do que isso, que são a fraqueza do dólar no cenário externo; a geopolítica; e a própria resiliência da economia brasileira diante de choques econômicos”, enfatiza Czerwonko, para quem o fator mais importante de avaliação no Brasil continua a ser a condução da política fiscal.
“É o calcanhar de Aquiles de tudo o que envolve o Brasil”, diz. “Vez ou outra, isso volta para nos assombrar. Vai exigir muito trabalho duro para mitigar essa vulnerabilidade, seja lá qual for o governo que entrar, seja de esquerda, centro ou direita”, diz Czerwonko. “Se o que está sendo dito ou decidido piora o quadro fiscal, isso tende a contribuir para um ambiente de aversão a risco, mas se o que estiver feito for neutro ou positivo, tende a tornar a adesão a risco mais atrativa. É assim que vemos a política.”
O anúncio de tarifas de 50% sobre o Brasil pelo presidente americano, Donald Trump, não muda sua tese e a UBS Wealth avalia que o impacto econômico sobre o país será pouco expressivo. “Reiteramos nossa visão positiva para as ações brasileiras e acreditamos que os mercados acionários emergentes, de forma geral, devem continuar a apresentar bom desempenho, em meio a um cenário macroeconômico favorável”, ressalta.
Para ele, o impacto sobre a economia brasileira parece “administrável” e o efeito sobre o lucro das empresas deve ser limitado.
Fonte: Valor Econômico

