O acordo prevê a transferência tecnológica do Molnupiravir, medicamento antiviral de eficácia comprovada contra o agravamento da doença em pacientes infectados
Por Gabriel Vasconcelos, Valor — Rio
04/05/2022 18h17 Atualizado há 22 horas
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou um acordo de cooperação com a farmacêutica Merck Sharp & Dohme (MSD) para distribuir exclusivamente no Sistema Único de Saúde (SUS) e realizar a transferência tecnológica do Molnupiravir, medicamento antiviral de eficácia comprovada contra o agravamento da covid-19 em pacientes infectados.
Segundo o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, o acordo tem como objetivo levar o remédio para as unidades básicas de saúde até o fim do primeiro semestre — o que depende de decisões do Ministério da Saúde — e avançar em sua engenharia reversa, não só para ter produção local no futuro, como para explorar a plataforma, com grande potencial de eficiência contra outras arboviroses, como dengue e chikungunya.
O acordo vinha sendo costurado há um ano e dois meses e foi assinado na terça-feira (3). Nesta quarta (4), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do medicamento em caráter emergencial após reunião de diretoria colegiada.
Tratamento
Primeira droga oral contra a covid-19, o remédio já é utilizado em 30 países e, desde a primeira aprovação por uma agência sanitária, a do Reino Unido, em 14 de novembro do ano passado, já protagonizou mais de 5 milhões de tratamentos.
O regime de aplicação envolve oito comprimidos diários por cinco dias e deve ser iniciado até o quinto dia de sintomas. Testes clínicos comprovaram 89% de eficácia contra casos fatais.
Ao Valor, o presidente da MSD, Hugo Nisenbom, informou que, via de regra, o produto é reservado ao público infectado vulnerável a complicações, como idosos e pessoas com comorbidades, o que deve se repetir no Brasil. Ele informou, porém, que há estudos clínicos para aferir a eficiência preventiva do remédio, o que o elevaria ao uso prévio.
Ele informou que, em 2021, a MSD produziu 10 milhões de tratamentos completos — 400 milhões de comprimidos — em unidades da farmacêutica nos Estados Unidos, Europa, Índia e China. Em 2022, a previsão é produzir mais 20 milhões de tratamentos ou 800 milhões de comprimidos, parte dos quais a serem enviados ao Brasil.
O laboratório evita mencionar os valores a serem pagos pela Fiocruz sob o argumento de que eles podem variar conforme o grau de emergência sanitária e política de uso adotada pelo governo federal. Mas Marco Krieger garante que há bom custo-benefício para a União em todas as faixas previstas no acordo. Ele explica que, em países em desenvolvimento, cada tratamento custa ao governo US$ 700, e que, no Brasil, a princípio, esse valor deve ser rebaixado a um terço disso, portanto na casa dos US$ 230 dólares.
Fonte: Valor Econômico