Por Lucianne Carneiro — Do Rio
13/04/2023 05h01 Atualizado há 5 horas
Responsável por índices de preços que são referência no país, como o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e o Índice Geral de Preços (IGP), o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) lança agora em abril um novo índice experimental, para calcular a inflação brasileira a partir de uma cesta de consumo de bens e serviços com pesos que são atualizados todo mês.
O Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF) foi calculado de forma retroativa a partir de 2000 até dezembro de 2022. Até o fim de abril, será divulgado o resultado referente a janeiro. Os números são calculados a partir dos pesos de bens e serviços que aparecem no Sistema de Contas Nacionais Trimestrais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ajustados para a frequência mensal pela equipe do Monitor do PIB, do FGV Ibre. Com isso, há atualização constante dos pesos.
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O novo índice é inspirado no Personal Consumption Expenditures (o chamado PCE, que pode ser traduzido como despesas pessoais de consumo), usado desde 2012 pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para o acompanhamento das metas de inflação.
“A ideia foi buscar um indicador de preços com uma estrutura de pesos que é revista de forma mais rápida. A gente já conhecia o PCE da literatura internacional, que rivaliza com o Consumer Price Index (CPI), e sempre teve vontade de fazer um índice parecido”, afirma o coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, André Braz, um dos integrantes da equipe do FGV Ibre que trabalharam por mais de um ano na criação do índice.
“O Índice de Preços dos Gastos Familiares captura o efeito da mudança da cesta de consumo das famílias, este é o grande ganho”, diz o superintendente de Estatísticas Públicas do FGV Ibre, Aloísio Campelo Júnior.
Tradicionalmente, os pesos de produtos e serviços acompanhados pelos índices de inflação são calculados a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE. A pesquisa calcula quanto representa (em percentual) cada item no orçamento das famílias. Só que a POF tem sido atualizada, em média, a cada seis anos.
Braz explica que, com os dados compilados pela equipe de Contas Nacionais do FGV Ibre, é possível fazer a reponderação dos pesos dos produtos e serviços a cada mês, “sem esperar por períodos muito longos”. “É um índice mais ágil, no sentido de incorporar mudanças, do que o IPC e o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo]”, diz.
Com isso, o índice acompanha melhor, segundo os economistas, o chamado efeito substituição, que ocorre quando há redução do consumo de determinado alimento por causa da alta de preços. Um exemplo é quando a carne vermelha, porque subiu demais de preço, passa a ser trocada por frango ou ovo na mesa do consumidor.
“O índice revela melhor a cesta de consumo das famílias e, justamente por isso, não subestima o efeito substituição. Quando os preços começam a subir, você tende a trocar o produto que está subindo por outra coisa, que passa a ganhar mais peso. E o item que subiu de preço e foi substituído passa a pesar menos na inflação”, afirma o economista do FGV Ibre Matheus Peçanha.
Por isso, explica ele, o IPGF, que tem o peso atualizado mensalmente, tende a acumular menos inflação por levar em consideração essa troca de produtos pelo consumidor.
Os resultados da série histórica confirmam que a variação do IPGF tende a ser menor que a do IPCA ao longo do tempo. Entre 2000 e 2022, o IPCA acumulado alcançou 307,55%, enquanto o IPGF subiu 285,55%. Na média anual, as taxas são de 6,32% e 6,07%, respectivamente.
Peçanha reconhece, no entanto, que há desvantagens no IPGF, como o fato de não poder ser usado como indexador – já que as taxas podem ser atualizadas com as revisões dos dados das Contas Nacionais – e a defasagem na publicação, também em função da dependência das Contas Nacionais.
“É uma nova forma de acompanhar os preços. Da mesma forma que a gente acompanha os núcleos da inflação para revelar tendência, o IPGF é mais um índice nesse sentido”, aponta Braz.
Fonte: Valor Econômico

