Por Gabriel Caldeira, Valor — São Paulo
22/03/2023 18h08 Atualizado há 15 horas
Apesar de ter subido os juros em 0,25 ponto percentual (p.p.) nesta quarta-feira (22), à faixa de 4,75% a 5%, o Federal Reserve (Fed) e seu presidente, Jerome Powell, sinalizaram que o fim do ciclo de aperto monetário está próximo, segundo economistas ouvidos pelo Valor.
Economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro destaca a retirada da menção do comunicado à necessidade de “altas contínuas” de juros para a possibilidade de outra elevação “talvez ser apropriada”. O trecho foi apontado pelo próprio Powell, durante a entrevista coletiva após a decisão de política monetária.
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“Tanto no comunicado quanto na coletiva há uma forte indicação de fim de ciclo” de altas de juros, comentou Pinheiro, que, agora, vê o Fed em postura “dependente de dados” para as próximas decisões de juros.
Outro ponto relevante, segundo ela, foi o fato de Powell ter admitido que os dirigentes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) consideraram pausar o aperto monetário já na reunião concluída hoje.
Essa mudança na avaliação do cenário pelo Fed se dá pela recente crise em bancos regionais americanos, que apertou as condições de crédito e, segundo o próprio Powell, pode afetar as decisões monetárias á frente.
“Na coletiva, o foco mudou demais da discussão nas últimas aparições, quando o foco era a inflação. Dessa vez, ele [Powell] já começa falando do sistema bancário e a grande maioria das perguntas circulam ao redor deste tema”, ressalta o economista-chefe da WHG, Fernando Fenolio.
Para ele, a sinalização de que o aperto monetário está chegando ao fim faz com que a decisão de hoje possa ser considerada mais “dovish” – ou seja, menos agressiva – do que o mercado esperava.
Fenolio, contudo, destaca que o cenário ainda é incerto e diz que o Fed deixou um espaço aberto para subir mais os juros, caso seja necessário.
Tanto Pinheiro quanto Fenolio concordam com a avaliação do Fed de que, dado o cenário e as projeções atuais, não há perspectiva para corte de juros ainda em 2023.
Segundo a economista-chefe da Galapagos Capital, os dados de atividade, mercado de trabalho e inflação ainda estão muito fortes para o Fed pensar em cortar os juros, ainda que os mantenha no atual nível até o fim de 2023.
Ela destaca que a difusão da inflação americana indica que de 60% a 70% dos ítens que compõem os índices de preços mostram alta mensal no momento. Tal taxa é incompatível com a meta inflacionária de 2% do Fed, segundo Pinheiro.
Já Fenolio entende que a possibilidade de cortes nos Fed Funds vai depender muito da “intensidade” do processo de desaceleração do crédito cedido pelos bancos à economia.
Se os indicadores evoluírem diferente do que o Fed espera, com a taxa de desemprego aumentando acima da previsão de 4,6% em 2023, por exemplo, pode ser que haja espaço para acomodação monetária, mas o horizonte é “muito incerto”, conclui Fenolio.
Fonte: Valor Econômico

