O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve sua taxa de juros de referência no intervalo entre 5,25% e 5,50% anuais pela terceira vez consecutiva, em seu maior patamar dos últimos 22 anos. A decisão era amplamente esperada pelo mercado, mas a autoridade monetária deu sinais que mexeram com os ativos, ao fortalecer a sensação de que o ciclo de aperto iniciado em 2022 chegou ao fim e que o próximo passo será o esperado início de cortes nas taxas. Em Wall Street, o índice Dow Jones bateu recorde de pontuação.
As novas projeções econômicas do Fed chamaram a atenção do mercado, em especial para os juros. A expectativa mediana dos dirigentes do Fed para a taxa referencial em 2024 caiu de 5,1%, na projeção trimestral anterior, para 4,6%. O gráfico de pontos divulgado mostra que a maioria dos dirigentes do Fed espera três ou quatro cortes de juros, de 0,25 ponto percentual, em 2024. Com a previsão mais “dovish” (favorável ao afrouxamento), um dos dirigentes apontou juros entre 3,75% e 4%.
Jerome Powell, presidente do Fed, disse que o BC está preparado para apertar adicionalmente a política monetária caso seja necessário, mas ressaltou que os dirigentes do banco central acreditam que os juros estão no pico ou perto desse nível. “Nossas ações levaram a taxa de juros a um território bem restritivo, mas os efeitos totais do aperto ainda não foram sentidos.”
Ele reforçou na coletiva após a reunião que o banco central irá manter a política monetária no campo restritivo até ter confiança de que a inflação irá retornar à meta de 2%, mas ressaltou que o Fed está ciente dos riscos de manter os juros parados por um longo período. “Estamos muito focados em não cometer esse erro”, disse o dirigente, ao se referir a segurar as taxas de juros estacionadas por um longo período.
As novas projeções do Fed também mostraram a previsão de índices inflacionários melhores. As autoridades agora esperam que o núcleo dos preços, que exclui produtos alimentares e energéticos voláteis, suba 3,2% no quarto trimestre deste ano em relação ao mesmo período anterior, abaixo da projeção de 3,7% em setembro. E preveem uma inflação subjacente de 2,4% no fim do próximo ano, abaixo dos 2,6% em setembro.
Powell, porém, ponderou que uma recessão econômica nos EUA pesaria na decisão de flexibilizar a política monetária.
“Os ‘doves’ venceram”, disseram os economistas Jay Bryson, Sarah House e Michael Pugliesi, do Wells Fargo, em nota, destacando que a ala mais alinhada aos cortes nos juros no comitê do Fed venceu a batalha na reunião de ontem. “O novo comunicado observou que a inflação ‘diminuiu’ ao longo do ano, embora ainda permaneça elevada. A porta foi deixada entreaberta para um aperto adicional, mas o gráfico de pontos sinaliza que isso não é o cenário-base para a maioria dos participantes”, notam. O banco projeta, em seu cenário básico, que o ciclo de flexibilização monetária do Fed deve ter início em junho de 2024.
Após a decisão do Fed e com base em projeções melhores sobre o cenário inflacionário, o J.P. Morgan antecipou a expectativa de início dos cortes nos juros para o segundo trimestre, em junho, e vê as taxas entre 4% e 4,25% no fim do próximo ano.
O reconhecimento de que a inflação perdeu força nos EUA e a adoção de um balanço de riscos mais equilibrado em torno das perspectivas para a inflação conferiu à decisão do Fed um tom mais “dovish”, avaliam os economistas do Morgan Stanley em nota enviada a clientes. Para eles, as revisões baixistas das projeções de inflação do Fed também ajudaram a dar força a essa visão.
“A consideração dessas alterações nas projeções explica a eliminação do aumento final nos juros previsto para este ano anteriormente e a adição de outro corte nos juros no próximo ano”, dizem os economistas. O Morgan Stanley, inclusive, espera que o Fed efetue três reduções de 0,25 ponto nas taxas em 2024, a partir do segundo trimestre.
Fonte: Valor Econômico

