Por Eduardo Magossi — De São Paulo
15/12/2022 05h02 Atualizado há 5 horas
O Federal Reserve (Fed) anunciou ontem uma alta de 0,50 ponto percentual na taxa referencial de juros dos Estados Unidos, reduzindo o ritmo do avanço em relação às quatro altas consecutivas de 0,75 ponto efetivadas desde o início do ano. Com a alta de ontem, os juros americanos estão entre 4,25% e 4,5%, o maior nível desde 2007.
Porém, embora tenha reduzido o ritmo, o presidente do Fed, Jerome Powell, deixou claro na coletiva de imprensa que o caminho a percorrer no combate à inflação ainda é longo e novas altas serão necessárias. Powell novamente afirmou que o combate à inflação é a prioridade do Fed e que o banco central americano precisa de mais evidências para considerar que os índices de preços estão realmente recuando para a meta de 2%. Assim, ele disse que a política monetária terá que ficar em terreno suficientemente restritivo por mais tempo.
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Ontem também foram divulgadas as projeções do Fed para a economia em 2023. O Sumário de Projeções Econômicas (SEP) indicou uma taxa final entre 5% e 5,50%, um patamar mais elevado que o sinalizado na projeção anterior, divulgada em setembro, de 4%. Os membros do Fed também elevaram as expectativas de inflação e desemprego.
Durante a coletiva, Powell destacou que não há nenhuma intenção do Fed começar a cortar os juros em 2023. “Não pensamos em corte de juros antes de termos evidências de que a inflação está voltando para meta”, disse. Ele também disse que dados recentes de inflação mostram redução no ritmo da alta de preços, principalmente na inflação de bens. “Mas a inflação de serviços segue firme e ela não vai cair rapidamente”, afirmou.
Além disso, segundo Powell, o mercado de trabalho segue firme, com o desemprego perto das mínimas históricas e os salários com forte alta. Powell voltou a insistir que, para levar a inflação para meta, o crescimento econômicos terá que ser menor do que o normal.
Questionado se os Estados Unidos entrarão em recessão, Powell respondeu que não existe meio indolor de o Fed trazer de volta a estabilidade de preços, mas que acredita que um “pouso suave” ainda é possível se a inflação recuar sem elevar muito o desemprego. Sobre a redução do ritmo das altas, o chefe do Fed disse que agora que já se está em terreno restritivo, a rapidez para subir os juros adotada inicialmente não é mais necessária.
O mercado inicialmente reagiu positivamente à decisão do Fed, mas com Powell reiterando que o caminho a seguir ainda é longo o mau humor ressurgiu e as bolsas fecharam em queda. O índice Dow Jones caiu 0,42%, a 33.966,35 pontos, enquanto o S&P 500 perdeu 0,61%, a 3.995,32 pontos, e o Nasdaq recuou 0,76%, a 11.170,88 pontos. Já o rendimento da T-note de dez anos terminou com recuo, a 3,482%, de 3,508% do dia anterior.
“‘Nós ainda temos um longo caminho’ foi a parte mais importante dos comentários de Powell”, disse o estrategista chefe de investimento para a América Latina da BlackRock, Axel Christensen. Para ele, Powell e as projeções mostraram claramente que o Fed poderá errar por não desistir cedo do objetivo de derrubar a inflação e provocar uma recessão moderada em 2023.
O economista-chefe do UBS Wealth Management, Paul Donovan, diz acreditar que Powell foi “hawkish” (inclinado ao aperto) em seus comentários e não passou uma mensagem clara aos investidores. “A desaceleração das pressões inflacionárias e a moderação do crescimento significam que o aperto implacável do Fed não é necessário. O Federal Reserve deve interromper seus aumentos no primeiro trimestre de 2023 com uma taxa de 5%”, disse ele, que espera um corte nos juros ainda em 2023.
Já o economista-chefe do Citi para os Estados Unidos, Andrew Hollenhorst, prevê uma recessão no segundo semestre de 2023. “Infelizmente os dados históricos mostram que é difícil reduzir a inflação sem turbulências”, disse ele, que estima uma taxa entre 5,25% a 5,50%, acima das projeções do Fed. Para o economista, apesar de reduzir o ritmo das altas dos juros, Powell está focado em levar as taxas para um terreno mais restritivo.

