O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) manteve sua taxa de juros de referência no intervalo entre 5,25% e 5,5% ao ano pela quinta vez consecutiva, no maior patamar em 22 anos. Com a manutenção dos juros amplamente esperada, a dúvida pairava sobre o novo Sumário de Projeções Econômicas (SEP), conjunto de perspectivas dos membros do banco central. Embora o documento tenha mantido a expectativa de três cortes de juros de 0,25 ponto percentual em 2024, num total de 0,75 ponto, as projeções para os anos seguintes sugeriram um ritmo mais lento de flexibilização da política monetária.
De acordo com o SEP, os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) elevaram a projeção mediana dos juros para 2025 — de 3,6% a 3,9% — e para 2026, de 2,9% a 3,1%. A projeção para os juros de longo prazo — a chamada “taxa neutra”, ou taxa de equilíbrio da economia — também aumentou, de 2,5% para 2,6%. Foi a primeira vez que o SEP registrou aumento da taxa neutra projetada pelo Fed desde meados de 2022, quando a inflação americana sofria impacto da guerra na Ucrânia.
Ainda assim, o mercado fez vista grossa às projeções para os próximos anos, já que o receio era que os recentes repiques inflacionários levassem o Fed a reduzir sua expectativa de três para dois cortes em 2024, o que não aconteceu.
No comunicado, o Fed informou que precisa ter maior confiança de que a inflação está caminhando de forma consistente para a meta de 2% para iniciar o afrouxamento monetário. O banco central reiterou que a economia segue em forte crescimento, com ganhos expressivos de emprego. A avaliação indica uma melhora em relação à declaração de janeiro, de que havia ocorrido uma moderação no mercado de trabalho. Foi a única mudança perceptível no comunicado da reunião desta quarta.
No SEP, o Fed surpreendeu ao elevar de forma expressiva a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2024, de 1,4% em dezembro para 2,1%. Ao mesmo tempo reduziu a expectativa de desemprego de 4,1% para 4%, revelando projeção de um cenário de crescimento com mercado de trabalho seguindo firme.
Na entrevista que se seguiu à decisão de juros, o presidente do Fed, Jerome Powell, reiterou que as taxas poderão cair ainda neste ano nos Estados Unidos se a economia americana evoluir como esperado, em especial se o progresso da inflação em direção à meta de 2% se sustentar. Ainda assim, ele ressaltou que a inflação segue alta e há incertezas e, por isso, o progresso dos preços não é algo assegurado. Segundo Powell, o aperto monetário provavelmente atingiu seu pico neste ano, e as decisões futuras continuarão sendo tomadas reunião a reunião. Ele destacou que o mercado de trabalho americano segue forte, com a demanda por trabalhadores ainda acima da oferta de mão de obra. No entanto, o número de trabalhadores disponíveis aumentou e foi a principal razão para as revisões positivas do crescimento do PIB nas projeções.
Powell também comentou que o comitê discutiu a desaceleração do processo de aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) do balanço de ativos do Fed. Segundo ele, nenhuma decisão foi tomada, mas o colegiado acredita que deverá reduzir o ritmo do em breve. Desde o início do QT, o balanço de ativos do Fed diminuiu em US$ 1,5 trilhão, destacou o presidente do Fed. Uma transição gradual da redução do balanço de ativos traz menos riscos à liquidez do sistema financeiro, afirmou. Para Powell, a meta de longo prazo é manter apenas Treasuries no balanço de ativos da instituição.
Embora Powell não enxergue um cenário de condições financeiras tão relaxadas, ele não considera que os dados fortes de inflação dos Estados Unidos em janeiro e fevereiro mudam o cenário de desinflação em curso. Assim, a perspectiva para a política monetária não teria mudado drasticamente desde o fim do ano passado. “Riscos apontam para os dois lados do mandato agora”, disse, com juros muito altos podendo pressionar demais a atividade ou cortes prematuros provocando uma potencial reaceleração da inflação.
Para ele, efeitos sazonais podem ter afetado os índices de preços de janeiro, e a força atual do mercado de trabalho não é uma razão para se preocupar com a possível volta da inflação. “Precisamos de mais tempo para avaliar se a alta da inflação recente representa mais do que acidentes de percurso”, ressaltou o presidente do banco central.
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Jerome Powell, presidente do Federal Reserve — Foto: Jacquelyn Martin/AP
Fonte: Valor Econômico

