Os sinais emitidos pelo Federal Reserve na sua decisão de política monetária na quarta deram força às perspectivas de que os EUA podem ter taxas de juros um pouco mais baixas no ano que vem e, somados ao ambiente de melhora da inflação corrente e desaceleração da economia no Brasil, fizeram importantes participantes do mercado local reduzirem suas projeções para a taxa Selic ao fim do ciclo de afrouxamento monetário.
Foi o caso do BNP Paribas, que levou sua projeção de Selic em 2024 de 9,5% para 8,5%. Segundo Gustavo Arruda, chefe de pesquisa econômica para América Latina, e Laiz Carvalho, economista de Brasil do BNP Paribas, o ambiente global mais favorável e a melhora da inflação corrente devem permitir que o BC reduza as taxas mais do que as expectativas anteriores.
“Vemos agora que o Copom reduzirá as taxas em um ritmo de 0,5 ponto antes do provável corte final de 0,25 ponto em novembro de 2024, encerrando o ciclo de flexibilização em 8,5%. Há riscos de que as conversas sobre aceleração voltem à mesa, embora o estágio do ciclo possa limitar essa possibilidade, em nossa opinião”, afirmam os profissionais do BNP.
A projeção do BNP Paribas está abaixo da expectativa mediana observada no Focus, atualmente em 9,25%. Ontem, a precificação de mercado dos juros ao fim do ciclo chegou a flertar com os 9%, antes de fechar a sessão em níveis semelhantes ao do Focus.
Para além dos debates em torno do nível final da Selic, alguns participantes do mercado também seguem antevendo uma aceleração no ritmo de cortes no curto prazo. De acordo com o economista da ASA Investments, Leonardo Costa, ainda que o Banco Central tenha reforçado a sinalização de que vai manter o ritmo dos cortes de juros “para as próximas reuniões”, a possibilidade de uma aceleração ainda não está descartada, já que as condições podem mudar consideravelmente até a próxima reunião do Copom, que ocorrerá nos dias 30 e 31 de janeiro.
“A gente esperava que o Copom desamarrasse um pouco as mãos neste comunicado. Não foi o que aconteceu, mas ainda não jogamos a toalha de que o BC pode começar a acelerar o ritmo de cortes em janeiro. Notamos que a melhora externa e mesmo os dados de inflação corrente não foram tão celebrados assim no comunicado. A grande surpresa do dia ontem foi o Fed e até janeiro o BC vai ter mais tempo para apreciar a mudança no cenário externo”, afirma.
Ontem, o mercado de opções digitais de Copom passou a apontar uma probabilidade menor de aceleração no ritmo de cortes em janeiro. A chance de um corte de 0,75 ponto caiu de 25% para 14,5%.
Segundo Costa, até a próxima reunião do Copom, novos dados de inflação no Brasil e nos EUA serão conhecidos e números de atividade local devem continuar exibindo uma desaceleração da economia. “Por enquanto, nossa Selic segue de 9,5% para o fim do ciclo, mas o risco para a projeção está para baixo. Se o Fed começar a cortar os juros mais cedo, a taxa terminal pode ser menor do que estamos esperando hoje”, afirma o economista.
A gente esperava que o Copom desamarrasse um pouco as mãos neste comunicado”
Para o Citi, embora a mensagem delineada no comunicado de ontem continue a ser a de manutenção do ritmo de cortes de 0,5 ponto nas próximas reuniões, há uma chance cada vez maior de um aumento no ritmo dos cortes, “uma vez que realmente vejamos evidências suficientes de que o mercado de trabalho nos EUA está desacelerando no primeiro trimestre de 2024, o que facilitaria os cortes de juros por outros bancos centrais”.
Caso o Fed siga a precificação de mercado e inicie seu ciclo de afrouxamento monetário em março, existe a possibilidade de o Copom acelerar o ritmo de cortes na Selic no segundo trimestre de 2024, segundo o estrategista para América Latina da Emso Asset Management, Bret Rosen.
“Nos últimos meses, o mercado chegou a precificar uma taxa de juros final muito alta, dado que o juro de equilíbrio trabalhado pelo BC é de 4,5% em termos reais. Supondo que o juro nominal que o mercado precifica está em 9%, ele ainda estaria acima do neutro, mas vale notar que o BC está colocando em suas declarações que precisa manter os juros restritivos para levar a inflação à meta”, afirma.
Assim, segundo ele, a discussão sobre uma Selic abaixo dos 9% estaria condicionada à inflação, de desaceleração na atividade econômica e de uma melhora do cenário fiscal. “Pode fazer sentido uma taxa de juros terminal abaixo de 9%, mas, para isso, seria necessário ver o BC comunicando que talvez acelere o ciclo ou que indique um ciclo mais longo, o que poderia ser possível caso os dados de inflação continuem vindo bem, inclusive a inflação de serviços, e caso os dados de atividade mostrem desaceleração adicional. E, obviamente, que a discussão fiscal perca força”, diz.
O estrategista-chefe para América Latina do Mizuho, Luciano Rostagno, também relatou ao Valor que revisou para baixo sua estimativa de Selic, de 9,5% para 9%. O BTG Pactual, por sua vez, apontou em relatório que manteve sua projeção de juro terminal em 9,75%, mas que o número tem viés de baixa, “devido aos acontecimentos recentes e às perspectivas do cenário internacional”.
Fonte: Valor Econômico

