Esta ‘superquarta’ de decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos promete fortes emoções, e os mercados devem manter a cautela até que elas sejam anunciadas. Os dois bancos centrais devem tomar caminhos opostos.
Às 15h (de Brasília), investidores de todo o mundo estarão de olho no Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que deve cortar os chamados Fed Funds, atualmente na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, pela primeira vez desde 2020.
Após o fechamento dos mercados, por volta das 18h30, será a vez do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central revelar o novo nível da Selic, que agora está em 10,50% ao ano. As apostas majoritárias são de uma alta da taxa básica de juros, em meio à deterioração das expectativas de inflação, IPCA (o índice oficial de inflação) acima da meta de 3% ao ano, dados fortes de atividade, câmbio depreciado e mercado de trabalho aquecido.
De 126 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor na semana passada, 108 esperam um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic nesta semana, para 10,75%, enquanto outras seis casas veem uma alta mais agressiva, de 0,5 ponto. Outras 12 instituições esperam manutenção da taxa básica de juros.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, havia sinalizado ao fim de agosto que, se e quando houvesse um ciclo de ajuste nos juros, ele seria gradual, o que levou o mercado a interpretar que a Selic seria elevada em 0,25 ponto percentual na reunião que acaba hoje.
Poucos dias depois da fala de Campos Neto, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo semestre acima das expectativas elevou as apostas de uma alta maior, de 0,50 ponto percentual, mas a deflação do IPCA de agosto, a primeira taxa negativa em 2024, tirou um pouco da pressão sobre o BC e consolidou as previsões majoritárias de aumento de 0,25 ponto percentual.
Nos Estados Unidos, o cenário é mais nublado. Os futuros dos Fed Funds, compilados pelo CME Group, mostravam nesta quarta-feira 63% de chance de corte de 0,50 ponto percentual, para entre 4,75% e 5,00% ao ano, e 37% de probabilidade de redução de 0,25 ponto, para entre 5,00% e 5,25%.
Em 23 de agosto, o presidente do Fed, Jerome Powell, ratificou as expectativas por um corte de juros na reunião de setembro, mas sem se comprometer com sua magnitude. Em seu aguardado discurso durante o Simpósio de Jackson Hole, a autoridade máxima do principal banco central do mundo disse que “chegou a hora de ajustar a política monetária” dos Estados Unidos. Segundo Powell, “os riscos de alta para a inflação diminuíram, e os riscos negativos para o emprego aumentaram”.
Dados de inflação ao consumidor e ao produtor nos EUA de agosto, divulgados na semana passada, vieram em linha com as expectativas, mas os núcleos – que excluem itens voláteis como energia e alimentos – ficaram ligeiramente acima do esperado. Nesta terça-feira, indicadores de produção industrial e de vendas no varejo também superaram as projeções. Entretanto, analistas acreditam que esses indicadores são insuficientes para impedir um corte de 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira.
Outros profissionais, porém, defendem que o banco central americano faça um corte menor, de 0,25 ponto percentual, como indicou o diretor do Fed Christopher Waller, uma das vozes mais influentes do atual Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc). Waller afirmou no último dia 6 que um corte de juros na reunião deste mês será adequado em meio a um mercado de trabalho em desaquecimento e uma inflação americana cada vez mais próxima da meta de 2%.
Ou seja, o suspense se manterá até a hora do anúncio da decisão do Fed. Preparem a pipoca.
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Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) — Foto: Al Drago/Bloomberg
Fonte: Valor Econômico

