Os principais bancos centrais dos países desenvolvidos devem começar seu ciclo de afrouxamento monetário em junho, projetam economistas do Citi em seu Cenário Econômico Global, divulgado hoje. “Elevada inflação de serviços e grande volatilidade nos dados deixarão os bancos centrais cautelosos nos próximos meses”, diz o estudo assinado pelo economista Nathan Sheets e equipe. Segundo ele, a expectativa é de que a maioria dos bancos centrais desenvolvidos comece a cortar os juros no meio do ano, com o Federal Reserve (Fed), Banco Central Europeu (BCE) e Banco da Inglaterra (Boe) devendo realizar o primeiro corte em junho. Porém, Sheets alerta para riscos neste cenário. “Este é um ano que irá recompensar mais a flexibilidade tática do que a profunda convicção”, afirma.
Segundo ele, os riscos para os bancos centrais estão bifurcados. De um lado, a inflação pode se mostrar mais resiliente que o esperado, principalmente considerando a falta de progresso recente na inflação de serviços. Do outro, quando mais os juros de longo prazo permanecem elevados, mais os bancos centrais correm o risco de manter os juros elevados demais por muito tempo, o que pode levar a quedas maiores no crescimento e nas metas de inflação. “Calibrar esses riscos é ainda mais complicado devido a volatilidade nos dados nessa época do ano, quando ajustes sazonais são complicados por mudanças no comportamento de gastos nas férias e por práticas de preços”, explica.
“Com estas considerações em mente, esperamos que os bancos centrais façam a flexibilização da política com cautela e com maior peso colocado no risco ascendente de uma inflação resiliente”, destaca o estudo que espera um total de cinco cortes em 2024, num total de 1,25 ponto percentual caso ocorra uma recessão no meio do ano. Sem uma recessão, o Fed provavelmente não terá pressa em flexibilizar e apenas fará alguns cortes, com as próprias projeções do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed.
Para outros bancos centrais dos países desenvolvidos, a expectativa do Citi é de que o BoE e o BCE também realizem cortes em junho, enquanto o Banco Central da Austrália (RBA) e o Banco do Canadá (BoC) provavelmente começarão um pouco mais tarde, no terceiro trimestre. O Citi também espera que o Banco Central da Suíça corte os juros em 0,25 ponto amanhã, em um esforço para proteger o franco suíço.
O estudo também aponta que os mercados emergentes aumentaram as taxas de forma agressiva durante a pandemia, o que proporcionou margem para cortes nos juros mais cedo do que nos países desenvolvidos. “Brasil, Chile, Peru e Polônia cortaram no ano passado e esperamos que o México comece a afrouxar ainda esta semana. São prováveis mais cortes, embora haja um debate crescente em muitos destes países sobre quão acentuado deverá ser o ciclo de flexibilização no futuro. A trajetória das taxas diretoras dos países desenvolvidos provavelmente será um fator restritivo para as funções de reação dos bancos centrais dos mercados emergentes.
O Citi projeta um crescimento global de apenas 2,1% em 2024 – um desempenho que não deve ser classificado como “recessão global”, mas que revela um ano fraco. “A nossa previsão de crescimento global, no entanto, já aumentou 0,2 ponto nos últimos dois meses, uma vez que os dados para o primeiro trimestre foram melhores do que o esperado. Ainda assim, continuamos pessimistas, dada uma série de desafios persistentes, como os juros elevados que irão afetar cada vez mais, a diminuição do dinamismo nas despesas com serviços, a política fiscal menos favorável e a atual fraqueza nos setores da indústria transformadora”.
Fonte: Valor Econômico

