Por Colby Smith — Financial Times, de Washington
24/04/2023 05h04 Atualizado há 4 horas
Os membros do BC dos Estados Unidos enfrentam um complicado ponto de equilíbrio enquanto se preparam para entregar mais um aumento das taxas de juros no mês que vem, pesando as evidências de que a inflação ainda continua muito alta, contra uma retração nos empréstimos depois das recentes turbulências no setor bancário.
Antes do período de silêncio que antecede a próxima reunião de política monetária do começo de maio, autoridades do Federal Reserve endossaram tacitamente outro aumento de juro, numa decisão que elevaria a taxa dos Fed funds para mais de 5% pela primeira vez desde a metade de 2007.
Além desse ponto, porém, as autoridades do banco central americano não se comprometeram sobre quanto mais eles terão de fazer para controlar a inflação. Isso reflete um desejo de manter todas as opções na mesa, mas também a incerteza sobre o quanto um aperto de crédito vai desacelerar uma economia que permanece vigorosa.
John Williams, presidente do Fed de Nova York e aliado próximo do presidente da instituição, Jerome Powell, articulou esse dilema dias antes do chamado “apagão” das comunicações. “Há muitos fatores me dizendo que a economia está se saindo melhor e pode surpreender ainda mais, mas há também, obviamente, as preocupações com os riscos em torno do aperto das condições de crédito”, disse ele a jornalistas na semana passada. “É apenas uma questão de ter uma visão correta sobre o equilíbrio disso e a política monetária correta.” E acrescentou: “A incerteza pode ir para os dois lados”.
A economia ainda demonstra sinais de boa saúde. A maior parte das autoridades do Fed caracteriza o mercado de trabalho como “apertado”, mesmo com o crescimento mensal no número de empregos ter diminuído. O aumento dos salários, embora menor, continua acima do nível consistente com a inflação de volta à meta de 2% do Fed. Embora o ritmo da inflação tenha caído significativamente, medidas mensais das pressões sobre os preços continuam preocupantemente elevadas.
Falando no último dia antes do período de silêncio, Lisa Cook, uma presidente regional do Fed, enfatizou o foco do BC nos dados que estão sendo recebidos para guiar as decisões futuras. “Se as condições financeiras mais apertadas são um obstáculo significativo à economia, o caminho apropriado da taxa básica poderá ser menor do que seria na ausência dessas condições”, disse ela, acrescentando que “se os dados mostrarem que a economia continua forte e uma desinflação mais lenta, poderemos ter mais trabalho a fazer”.
Autoridades do Federal Reserve continuam minimizando a probabilidade de uma contração econômica
Ao justificar sua posição a favor de pelo menos mais uma elevação das taxas, Christopher Waller, um influente presidente regional do Fed, chegou a dizer que os dados recentes indicam “que não progredimos muito em nossa meta de inflação”.
No entanto, as opiniões divergem sobre o quão significativamente os bancos regionais recuaram nos empréstimos na esteira da falência do Silicon Valley Bank (SVB) no mês passado e o grau com que a disponibilidade de crédito na economia está agora prejudicada. Powell e outras autoridades reconhecem que o aperto de crédito agirá como um substituto para aumentos adicionais das taxas de juros pelo Fed. Mas como o impacto total ainda não é conhecido, “no momento, a questão é a administração dos riscos”, disse Matthew Luzzetti, economista-chefe do Deutsche Bank para os EUA.
De acordo com o último Livro Bege do Fed, que compila evidências casuais das empresas de todo o país, já houve um aperto generalizado nos padrões de empréstimos e uma queda acentuada nos volumes de financiamento aos consumidores e empresas em uma série de distritos. A questão agora é o quanto isso pode piorar, o que alimenta temores de que o banco central esteja prestes a levar sua campanha de aperto monetário longe demais.
“Mesmo nos melhores momentos, a política monetária é uma incumbência propensa a erros”, disse David Wilcox, que liderou a divisão de pesquisas e estatísticas do Fed e hoje está associado ao Peterson Institute for International Economics e à Bloomberg Economics. “Essa contração bancária provavelmente torna o cálculo um pouco mais complicado no momento.”
Desde a derrocada do SVB, autoridades do Fed mudaram sua opinião sobre uma recessão no país, concluindo que uma “recessão leve” poderá ocorrer este ano, de acordo com a ata da reunião de março do BC dos EUA. As autoridades continuam minimizando a probabilidade de uma contração econômica, mas várias delas adotaram uma postura mais cautelosa sobre o caminho para a política monetária.
“A esta altura, não vejo por que continuaríamos a subir, subir, subir e então, ‘opa’, e aí cortar rapidamente as taxas de juros”, disse recentemente Patrick Harker, presidente do Fed de Filadélfia e membro votante do Comitê de Mercado Aberto do Fed, o Fomc. Austan Goolsbee, o novo presidente do Fed de Chicago, também membro votante do Fomc, pediu “prudência e paciência” após o que foi a mais agressiva campanha de aperto da política monetária em décadas.
Tim Duy, economista-chefe da SGH Macro Advisers, disse: “Com os juros subindo, tem-se esse conflito entre as pessoas que realmente estão focadas nos dados e aquelas que estão sendo mais cautelosas devido ao potencial de defasagem política, que foi exacerbado pela situação bancária”.
Duy acredita que o Fed sinalizará em sua reunião que poderá aumentar os juros novamente em junho, a fim de obter o máximo de flexibilidade possível. Isso poderia ser feito mantendo a linguagem da última declaração de política monetária, que foi adaptada para uma postura mais “não comprometida” de que “uma solidificação adicional da política pode ser apropriada”.
Em março, a maioria das autoridades previa que os Fed funds atingiriam o pico entre 5% e 5,25% e que esse nível seria mantido até 2024. Duy disse: “É muito difícil para um banco central com meta de inflação abandonar os aumentos dos juros quando a inflação não demonstra um progresso consistente em direção à sua meta”.
Fonte: Valor Econômico

