Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo
04/04/2023 18h28 Atualizado há 10 horas
Faros e Messem, duas operações que originalmente eram escritórios de assessoria de investimentos (os antigos agentes autônomos) ligados à XP, assinaram a combinação dos seus negócios numa nova corretora. A instituição financeira, quando estiver operacional, já nasce como uma das maiores independentes do país. As duas companhias juntas detêm ativos de clientes da ordem de R$ 65 bilhões, 50 mil investidores, com presença em dez estados brasileiros, além de um exército de 450 assessores, e 700 profissionais no total. O plano é chegar ao fim de 2024 com R$ 100 bilhões.
Na transação, a XP, que já tinha um acordo para formar duas operações financeiras separadas com as empresas, vai ficar com 42% do negócio, enquanto os sócios de Faros e Messem ficam com 58% da nova holding que está sendo criada, conforme antecipam os executivos ao Valor. No acerto anterior, em meados de 2021, a Faros ficaria com 72% do projeto conjunto de corretora “light”, com a XP com 28%. No caso da Messem, a fatia da XP seria de 49,9%.
Haverá injeção de recursos pela plataforma de investimentos na constituição da estrutura de Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários (CCTVM), mas as duas empresas rodam com resultados operacionais positivos e têm caixa e condições de fazer investimentos, segundo Bruno Ballista, sócio da XP responsável por relacionamento com clientes. O “valuation” do negócio como um todo e as condições não foram abertos.
A Messem tem hoje cerca de R$ 30 bilhões, transita mais no segmento de alta renda e teve uma avaliação maior, enquanto a Faros, com foco no público com perfil de milionários do private banking, reúne R$ 35 bilhões.
As marcas das assessorias continuarão coexistindo e os executivos ainda estudam que nome dar à CCTVM. “Nos 20 anos que trabalhamos com distribuição, a gente sabe o quanto é difícil montar uma estrutura de corretora no Brasil, por causa da legislação, da carga tributária, já tinha conhecimento disso no sonho de montar isso lá em 2016 e agora se concretizou”, diz Samy Botsman, sócio-diretor da Faros Investimentos que criou o escritório em 2011 ao lado de Felipe Bichara, ambos vindos da estrutura do Banif no Brasil.
Botsman, que vai ser o presidente do conselho de administração da corretora, conta que se aproximou dos sócios da Messem com uma provocação num evento da XP nos Estados Unidos, sob o argumento do quão importante era estar muito forte para montar uma operação financeira. “A gente começou a avaliar se tinha realmente alguma sinergia, tanto de cultura quanto de região, e no processo percebemos que, de diversas formas, o negócio faria sentido”, diz. A XP, ela própria uma especialista em fusões e aquisições, participou das conversas ao longo do ano passado e apoiou a transação, prossegue. “Nossa operação, com a união de forças, vai ser a terceira maior corretora independente no país, não ligada a banco.”
Para Mauro Silveira, CEO da Messem, que assume agora esse papel na corretora, estar debaixo de uma estrutura que já nasce com R$ 65 bilhões traz uma robustez importante para o cliente investir. Com o modelo light, a empresa vai seguir usando os serviços de administração e custódia da XP e toda a retaguarda operacional, “não haverá impacto para o cliente”.
Dentro de um mercado cada vez mais competitivo, tamanho pode fazer diferença, acrescenta Felipe Scheffler, também sócio da Messem. O escritório foi fundado em 2007 como uma filial da XP em Caxias do Sul (RS), antes de a própria XP se tornar corretora.
Bichara estima que no segundo semestre, após os testes finais e aprovações do Banco Central, o grupo terá a autorização definitiva para começar a operar. Quando virar a chave para CCTVM, a base de clientes atualmente vinculada à XP passa para a nova empresa, conforme autorização dos investidores.
Uma listagem em bolsa — como os executivos da Faros cogitaram no passado — não está nos planos, mas, com a recente mudança na regulação que disciplina a atividade de assessorias de investimentos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), há a possibilidade de o grupo admitir um outro sócio estratégico.
“Como corretora, a empresa está nascendo com um caixa robusto e os custos vão ser revistos com o aproveitamento de sinergias, evitando sobreposições. Isso faz com que não tenha necessidade de ir a mercado, mas um bolso estratégico, que venha a agregar valor, não só financeiro, mas também intelectual, pode fazer sentido”, diz Botsman. Ele afirma que, pelo tamanho e avaliação da operação, teria acesso a grandes investidores, que por seu lado têm de pesar se faz sentido entrar como minoritário porque não há disposição do grupo de fundadores de abrir mão do controle.
Scheffler reitera que o grupo está aberto a oportunidades, mas sem pressa. “A XP fez um investimento de longo prazo, estamos há pouco tempo juntos como sócios e tem muita oportunidade para desbravar ainda porque o mercado segue concentrado em cinco grandes bancos. O cliente liga para uma plataforma independente, não paga nada mais por isso e consegue estruturar uma carteira de longo prazo alinhada aos objetivos dele. Esse negócio é para os próximos 10, 20 anos.” Por isso, a marca dos R$ 100 bilhões está no radar.
Ballista, da XP, diz que a instituição não se oporia à entrada de um novo sócio, que é um minoritário coadjuvante. “Do nosso lado, a estratégia se mantém. A união acontece porque há muita complementaridade e, assim como ocorria quando eram companhias independentes, a XP continua como sócia minoritária, com o papel de contribuir para o desenvolvimento das empresas combinadas”, afirma. “A gente oferece a plataforma tecnológica e de serviços, parte do capital intelectual e com o financiamento do negócio, para que seja uma das corretoras mais competitivas da indústria. A XP tem a convicção de que está participando de um negócio que tende a ganhar valor no tempo.”
Assim como a própria XP, a diversificação de receitas tem sido perseguida por Faros e Messem, diz Silveira. “A gente quer cada vez mais ser uma solução de produtos financeiros, não só de investimentos.” Ele cita que 20% das receitas já vêm de linhas complementares como seguros, crédito, câmbio e de operações com empresas. A Faros, por seu lado, vinha desenvolvendo uma operação de multi family office baseada em São Paulo e Miami, que já reúne cerca de R$ 10 bilhões. A asset do grupo vai ter como ponto de partida a recente aquisição de fatia relevante da Persevera, de Guilherme Abbud.
“A união entre a Faros e a Messem representa mais uma fase de sucesso na história dessas duas companhias, lideradas por empreendedores muito competentes. Estamos cada vez mais fortes, com um ecossistema mais completo e, principalmente, com total foco no cliente, que sempre foi e continuará sendo o nosso diferencial”, comenta Guilherme Benchimol, presidente do conselho de administração da XP, em nota.
Ballista diz não ter uma opinião se outras combinações de negócios dentro da rede XP vão ter sequência. “A gente apoia qualquer movimento que seja benéfico para o empresário, de companhias que sejam complementares”, afirma. “No momento, estamos vivendo consolidações, fusões acontecem em todos os setores e aqui não é diferente, é natural que algumas companhias busquem uma união ou ser consolidadas.”
Com a nova regulação, ele acha que as transações societárias agora tendem a se concentrar na atividade de assessoria de investimento mesmo, e não mais via corretoras ou distribuidoras de valores mobiliários. Antes da reforma, a legislação não permitia a organização dos escritórios em sociedades empresárias, apenas pelo modelo do Simples, e só admitia agentes autônomos certificados nas operações. Uma forma de capitalizar os negócios considerados mais promissores foi criando instituições financeiras, modelo adotado tanto por XP quanto pelo BTG Pactual.
O BTG entrou mais tarde nesse tipo de a distribuição por meio de assessores de investimentos e atraiu para a sua rede, com a proposta de corretora light, nomes como EQI, Lifetime e Acqua Vero. A XP fez ainda acordos com Monte Bravo, Blue3 e também selou sociedade com uma equipe saída do Credit Suisse para fundar a WHG.
Fonte: Valor Econômico
