Médias empresas farmacêuticas que trabalham com cannabis medicinal crescem impulsionadas pela maior aceitação médica do produto e avanços regulatórios. O mercado brasileiro dos medicamentos à base da planta registrou um aumento de 22% no ano passado, movimentando R$ 852,6 milhões, segundo dados da consultoria Kaya Mind.
“Desde o início da comercialização dos nossos produtos em farmácias, em 2023, experimentamos um crescimento acelerado e sustentado. Houve um aumento superior a 300% na demanda no varejo”, afirma Gustavo Palhares, co-CEO da Ease Labs, fundada em 2018 em Belo Horizonte.
A empresa — que não abre faturamento atual, mas projeta passar dos R$ 200 milhões em 2027 — cuida de todas as etapas do processo produtivo do canabidiol, desde o cultivo da semente na Colômbia, até o processo de fabricação, em Minas Gerais, e distribuição nas farmácias do país.
O consumidor no Brasil tem três maneiras de conseguir o medicamento: por meio de associações, importação ou venda nas farmácias com prescrição médica. Com cadeias de suprimentos e tecnologias próprias, médias empresas como a Ease Labs concorrem nesse segmento com gigantes como Aché e Eurofarma.
Segundo Palhares, a taxa média de crescimento anual da Ease Labs entre 2022 e 2024 foi de 110%, reflexo da consolidação do mercado e da estratégia da companhia. “Enquanto o setor como um todo cresceu cerca de 25% no último trimestre de 2025, tivemos um salto de 80% no mesmo período. Projetamos até 2028 um crescimento médio de, pelo menos, 60%”, diz o co-CEO.
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A farmacêutica Health Meds, criada em 2020, fabrica seus produtos nos Estados Unidos, mas eles são importados pelo próprio paciente, mediante autorização sanitária emitida pela Anvisa. A Health Meds — que em 2024 faturou R$ 26 milhões — auxilia nos trâmites e entrega o medicamento diretamente na casa do comprador no Brasil.
Segundo Leandro Neto, sócio fundador e diretor de relações internacionais da empresa, de 2021 a 2024 a Health Meds teve um crescimento acumulado de 92% (CAGR). “Somos uma empresa que não está preocupada apenas com o crescimento rápido, mas, sim, com o crescimento orgânico e bem fundamentado. Acreditamos numa expectativa de crescimento de dois dígitos até o final deste ano.”
Para ele, apesar da maior disseminação do conhecimento sobre produtos derivados de cannabis nos últimos anos, muita informação errada ainda circula pela internet. “As pessoas acham que qualquer produto vindo da cannabis serve para tudo. Por isso, nosso trabalho começou com a informação dos médicos. Somente eles podem prescrever corretamente a cannabis medicinal”, diz Neto.
Os estudos sobre uso da cannabis em tratamentos médicos se concentram nos dois dos principais componentes da planta, o CBD, canabidiol, e o THC, tetrahidrocanabinol. O último componente, responsável pelos efeitos psicoativos na chamada cannabis recreativa, vem em dose muito baixa e segura em medicamentos. O Conselho Federal de Medicina indica a medicação para dores em adultos, espasticidade na esclerose múltipla, náuseas e vômitos com o uso de quimioterápicos e epilepsias – e também há estudos que mostram o benefício em relação à ansiedade, insônia, depressão e fibromialgia.
Thiago Dessena Cardoso, chefe de Inteligência e cofundador da Kaya, detalha o avanço do uso medicinal da cannabis no Brasil. “Quando falamos do tamanho do mercado em 2024, que foi de R$ 852,6 milhões, não incluímos, por exemplo, o faturamento de empresas de serviço, escritórios de advocacia, empresas de marketing ou de logística. Esse valor é referente somente às vendas. Há todo um ecossistema sendo gerado e crescendo, gerando empregos”. Para 2025, a Kaya Mind tem expectativa de nova alta e estima que o setor deva movimentar R$ 1 bilhão.
Os números do mercado de cannabis medicinal podem ser ainda mais pujantes, a depender de aberturas regulatórias que estão no horizonte, segundo Palhares. Estão em revisão as RDC 327 (principal normativa da Anvisa que regula a venda em farmácias) e da RDC 660, que trata das importações.
Há também movimentações do Ministério da Agricultura e do Supremo Tribunal de Justiça no sentido de abrir caminho para o cultivo nacional de cannabis medicinal, o que pode mudar significativamente a lógica de importações e custos no médio prazo.
Fonte: Valor Econômico