Empresas japonesas do setor farmacêutico estão intensificando investimentos para construir uma cadeia de suprimentos nacional de antibióticos, impulsionadas por subsídios do governo com o objetivo de reduzir a dependência da China para medicamentos essenciais.
A Fujifilm Toyama Chemical, subsidiária da Fujifilm Holdings, investirá cerca de 10 bilhões de ienes (US$ 67,3 milhões) na expansão de sua fábrica na cidade de Toyama. Até 2028, a empresa pretende iniciar a produção em larga escala de ampicilina hidratada, um ingrediente farmacêutico ativo (IFA) fundamental para antibióticos à base de penicilina, além de ampliar a produção de outros IFAs.
Antibióticos à base de penicilina são essenciais para tratar infecções como pneumonia. Embora os medicamentos sejam fabricados no Japão, quase todos os ingredientes básicos ainda são importados, principalmente da China. A Fujifilm planeja ampliar sua capacidade em Toyama para atender à demanda doméstica.
Outras empresas também estão se movendo para estruturar uma cadeia de suprimentos 100% nacional. A Otsuka Chemical, do grupo Otsuka Holdings, planeja construir até 2030 uma nova unidade em sua fábrica na província de Tokushima para produzir outro IFA usado em antibióticos penicilínicos. Esse insumo será processado por farmacêuticas japonesas e fornecido a hospitais e clínicas.
A Meiji Seika Pharma, do grupo Meiji Holdings, retomará a produção em sua fábrica na província de Gifu — parada há cerca de 30 anos — para fabricar ácido 6-aminopenicilânico, um insumo para os IFAs produzidos pela Fujifilm e Otsuka. A Meiji prevê fabricar 200 toneladas por ano.
O Japão deixou de produzir ingredientes para antibióticos principalmente por razões de custo, já que China e outros países conseguem produzi-los mais barato.
No entanto, interrupções no fornecimento de insumos podem prejudicar tratamentos de infecções e cirurgias essenciais. Por exemplo, em 2019, atrasos na China forçaram o adiamento de cirurgias no Japão.
Em 2022, o governo japonês classificou os antibióticos como estratégicos para a segurança nacional, destinando 55,3 bilhões de ienes em subsídios para incentivar a produção local.
A Shionogi, outra beneficiária, está investindo em instalações para fabricar ingredientes usados em antibióticos administrados durante cirurgias para prevenir infecções.
Essa busca por cadeias de suprimento independentes da China tem se repetido em vários setores. A imposição de controles de exportação de terras raras pela China — essenciais para a indústria automobilística — afetou diversos países.
Também cresce o movimento global para fortalecer cadeias farmacêuticas nacionais. Em março, a Comissão Europeia propôs legislação para garantir o acesso a medicamentos essenciais dentro da União Europeia.
Já neste mês, o presidente dos EUA, Donald Trump, indicou que pode impor tarifas de até 200% sobre importações de medicamentos, após um período de carência de mais de um ano.
Apesar da importância estratégica da produção nacional de IFAs, a rentabilidade ainda é um desafio. “Vamos precisar de algum tipo de sistema, como compras governamentais”, afirmou o presidente da Meiji Seika Pharma, Toshiaki Nagasato.
Fonte: Valor Econômico