Por Daniela Chiaretti — De São Paulo
08/11/2023 05h00 Atualizado há 35 minutos
A Fama Investimentos está lançando o que pode ser o primeiro fundo ativista socioambiental do país – o Latam Climate Turnaround FIA. A ideia é adquirir ações de empresas que são grandes emissoras de gases-estufa e listadas em bolsa. Depois, na condição de acionista, apresentar soluções de descarbonização que sejam baseadas na ciência e, ao mesmo tempo, um bom investimento.
Há várias novidades na iniciativa. A primeira é a estratégia de abordagem para promover a transformação climática dentro das empresas: será feita pelo engajamento. As soluções de descarbonização serão baseadas na ciência e validadas pelo climatologista Carlos Nobre, um dos nomes mais conhecidos globalmente.
Outro diferencial é que a remuneração do fundo será baseada no impacto climático do portfólio das empresas. “A taxa de performance é vinculada à curva de temperatura de todo o portfólio da empresa, em relação ao compromisso do Acordo de Paris de limitar o aquecimento em 1,5°C até o fim do século”, diz Fabio Alperowitch, fundador da Fama e gestor com 30 anos de experiência em investimentos responsáveis.
Isso será medido anualmente por meio da ferramenta “temperature rating” elaborada pelo WWF/CDP. As emissões das empresas serão medidas assim como portfólio que inclui todas as companhias do fundo. Caso registrem retorno financeiro mas não tenha havido impacto climático positivo, não haverá remuneração. “Temos que fazer, ao mesmo tempo, bons investimentos e gerar impacto”, diz a advogada Caroline Prolo, chefe de “stewardship” do novo fundo. Especialista em mudança climática, ela é co-fundadora da Laclima, uma rede de advogados especializados no tema, e atuou nas rodadas climáticas das Nações Unidas defendendo os direitos dos países mais vulneráveis.
“É um fundo ativista diferente das experiências internacionais”, diz ela. A abordagem não será de litigância climática ou de pressão em assembleia de acionistas, já que, no Brasil, grandes empresas costumam ter um controlador com maioria do capital e que toma decisões. “Aqui precisamos trabalhar em um processo de persuasão e fazer isso desde o pré-engajamento. Vamos abordar a empresa com uma proposta de parceria de fazermos juntos esse esforço de descarbonização”, diz ela. “O que estamos fazendo é prevenir riscos de litígio, que a empresa já sofre hoje”, prossegue Prolo.
“Da febre ESG, sobrou muito discurso e quase nenhuma ação” — Fabio Alperowitch
“Do jeito que as coisas estão caminhando, não vai dar certo, na questão climática”, diz Alperowitch. “Estamos indo para uma situação muito crítica, seja pela falta de comprometimento das grandes empresas emissoras, seja por ‘greenwashing’, seja pela falta de regulação”, continua o gestor. “A ideia do fundo surgiu dessa inquietação. Depois do biênio 2020-2021, quando vivemos a febre do ESG, tinha esperança que o mercado se comprometesse com alguma coisa mais concreta, mas foi muito discurso e quase nenhuma ação”, continua.
O alvo do fundo são as grandes emissoras de gases de efeito estufa, conhecidas internacionalmente como “carbon majors” – petroleiras, empresas de cimento e aço, mineradoras, geradoras de energia, indústrias de base, produtoras de commodities agrícolas e pecuária.
“Nosso objetivo é simples de entender e difícil de praticar: investir nas empresas mais poluentes da América Latina e promover um ‘turn aroud’ climático dentro delas. Bater na porta dessas companhias, dizer que temos uma solução para elas e fazê-las mudar.” O alvo podem ser varejistas que compram carne de áreas desmatadas e plásticos de uso único ou bancos, que fornecem créditos para quem emite muito.
O time do Latam Climate Turnaround FIA é multidisciplinar, com maioria de mulheres. O Estado mais representado é o Pará.
Fonte: Valor Econômico

