Por Adriana Cotias e Rita Azevedo — De São Paulo
15/12/2022 05h01 Atualizado há 5 horas
Na onda do crédito privado, algumas corretoras têm oferecido acesso a emissões fora do Brasil fazendo o “swap”, a troca do indexador, para reais, emulando o que os gestores de recursos fazem, destaca Alessandro Arlant, sócio da Dahlia Capital. Travam assim um retorno em dólar que, traduzido para reais, significa algo entre 2% e 4% acima do CDI.
O gestor frisa que “não dá para ser Poliana” e olhar só para o lado positivo dos prêmios, porque a política econômica local, com juros muito altos, pode significar um freio à atividade em 2023, com potencial de impactar a qualidade de crédito das empresas. “O importante é ir para a renda fixa tomar risco selecionando bem as empresas, privilegiando aquelas que têm um fluxo de caixa resiliente, liquidez no balanço e alavancagem razoável para conseguir atravessar um cenário de maior desafio que vai se materializar.” Exportadoras, que têm receita em dólar, e bancos, que até podem ter uma piora na inadimplência, mas dificilmente teriam problemas de solvência, são dois setores para ficar de olho.
Samy Podlubny, responsável pela área de emissão de dívida local e internacional do UBS BB, afirma que o spread entre emissões locais e no exterior já foi maior há quatro, seis meses, e que fez algumas operações de arbitragem, captando dinheiro local das empresas para recompras lá fora. “O que vejo agora é uma reversão. A oportunidade está indo embora. A tendência é que daqui até o primeiro trimestre o spread feche ainda mais e acabe a arbitragem.”
O principal fator para essa reversão é que o mercado lá fora, que estava arisco com a subida da taxa de juros, está trocando de sinal. Ele acredita que o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos seja encerrado no primeiro trimestre de 2023. “O mercado se antecipa e hoje há uma expectativa de curva de juros decrescente. Isso melhora o preço de captação para as empresas [no exterior], aí a arbitragem desaparece.”
A 051 Capital, que atua em gestão de patrimônio e tem fundos de alocação, investiu bastante em crédito doméstico neste ano, e nos últimos dois, três meses vem sendo provocada com a tese dos bônus de emissores brasileiros lá fora por gestoras dedicadas como Polo e Augme, afirma Luciano Brochmann, sócio da casa. “Empresas como XP, Itaú, Banrisul, Tupi e Cemig vêm sendo negociadas com taxas boas em dólar”, exemplifica.
Ele diz estudar um portfólio de dívida no exterior, com swap para reais. “O que está me segurando é o cenário lá fora muito volátil. Se [o Fed] subir muito os juros [para além do que já está nos preços], isso vai ser refletido nos bonds. Se carregar até o vencimento tudo bem, mas a marcação a mercado é um problema.”
Ele afirma que nem todo gestor opera bem a dinâmica dos papéis negociados no exterior e a do mercado local, mais estreito. “O produto de crédito requer toda a análise de garantia, de execução em caso de inadimplência, não é igual a uma dívida estruturada ou às debêntures no Brasil. Por isso a resistência, embora seja convidativo.”
Fonte: Valor Econômico

