Por Marta Watanabe, Valor — São Paulo
07/01/2024 08h20 Atualizado há 18 horas
A exportação brasileira rumo à China passou da centena de bilhões em 2023 e o superávit do comércio bilateral com o país asiático alcançou recorde de US$ 51,1 bilhões. O valor foi equivalente a mais que a metade do saldo comercial total brasileiro em 2023, que alcançou também marca histórica de US$ 98,8 bilhões.
Em 2024, o cenário esperado é de desaceleração do país asiático. Mesmo assim, a China deve se manter como grande parceira comercial do Brasil, apontam especialistas.
O resultado do comércio sino-brasileiro no ano passado superou de longe o saldo de US$ 28,68 bilhões em 2022.
O avanço do superávit com os chineses resultou de aumento das exportações ao país asiático, mas também de queda na importação brasileira. Os embarques rumo à China cresceram 16,6% em 2023 ante o ano anterior e somaram US$ 104,31 bilhões. O desempenho ficou bem acima da alta de 1,7% do total das vendas externas brasileiras, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) divulgados hoje (5). Com isso a fatia da China na exportação avançou de 26,8% em 2022 para 30,7% no ano passado.
As importações brasileiras de produtos chineses totalizaram US$ 53,18 bilhões em 2023, com recuo de 12,5% em relação ao ano anterior, em variação próxima à dos desembarques totais, que caíram 11,7%, segundo a Secex. A China ainda se mantém como o principal fornecedor brasileiro, com 22,1% das importações.
Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, chama a atenção para a evolução recente dos embarques à China. As exportações, compara, saíram de US$ 63,4 bi em 2019, somaram US$ 89,4 bilhões em 2022 e em 2023 ficaram acima dos US$ 100 bilhões. “A tendência é de alta, e não só por efeito preço derivado dos choques da pandemia e dos conflitos geopolíticos. O Brasil exporta um volume cada vez maior para China e numa pauta mais diversa do que há alguns anos. Soja, petróleo e minério de ferro devem seguir liderando a pauta e respondendo por mais de 70% do total exportado, mas alguns itens se destacaram nos últimos anos”, diz Barbosa, citando as proteínas animais, incluindo bovino, suíno e aves, e o milho.
Para Silvio Campos Neto, economista da Tendências, a China tem usado “instrumentos” para suavizar o processo de desaceleração estrutural. “Não vejo uma queda relevante de demanda. Quando se fala de alimentos, isso nem deve acontecer porque o processo de urbanização na China continua. Nas commodities metálicas, diria que o efeito é mais como limitador para preços do que uma redução importante em termos de quantidades. A desaceleração da China a princípio não deve ter efeitos relevantes para a exportação brasileira. De forma geral não vemos queda abrupta vindo da demanda chinesa.”
A expectativa da Tendências, diz Silvio Campos Neto, é que o PIB chinês cresça um pouco mais de 5% em 2023 com perda de ritmo para 4,5% neste ano. “Sempre que possível, quando sente uma piora mais aguda, o governo chinês atua, como fez no segundo semestre de 2023, abrindo um pouco mais a torneira de investimentos, ajudando governos regionais também a gastarem mais, com medidas para manter o crescimento adequado e aderente às suas metas”, observa.
Para Juliano Condi, economista internacional da AZ Quest, o governo chinês deve manter a meta de crescimento ao redor de 5%, o que leva a crer que o país trabalhará para chegar nesse número. Os desafios, diz, devem ser os mesmos para 2023: continuar a transição de uma economia menos dependente do setor de “Real Estate” e, ao mesmo tempo, amparar o setor para uma transição suave, sem quebradeiras e efeitos cascata. Outros desafios, menciona, são a menor demanda global pelos produtos chineses, em razão de desaceleração na atividade global e retaliações geopolíticas vindas principalmente dos Estados Unidos.
Campos Neto, da Tendências, cita também, entre os esafios para a economia chinesa em 2024, alguns setores com excesso de capacidade. “A questão das siderúrgicas, por exemplo, mexe com o comércio global porque tem gerado todo uma onda protecionista em algumas regiões.”
“A questão central é que estamos chegando em um ponto de virada da capacidade de crescimento potencial da economia chinesa. Ou eles têm um grande choque de produtividade que permita aceleração de crescimento no curto prazo para algo perto de 5% a 5,5% ou a economia naturalmente, por questões estruturais, perderá velocidade”, avalia Livio Ribeiro, economista e sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). A BRCG projeta crescimento entre 4,3% e 4,4% para a China em 2024.
Ribeiro destaca que quando se fala em China não se deve pensar apenas em delta de crescimento do PIB. “O que importa é a absorção versus tamanho. A China é muito maior do que no passado. Então a China crescer 4,5% hoje é uma realidade completamente diferente em termos de absorção do que seria há dez anos.”
Ribeiro avalia que o desempenho agro exportador brasileiro em 2024 se manterá relevante, embora menor que a de 2023. “No setor extrativo, de minério de ferro e de petróleo, não vejo grandes mudanças em termos de volume relação a este ano, mesmo com os problemas enfrentados pela China”, diz.
Fonte: Valor Econômico

