Por Sérgio Tauhata — De São Paulo
10/11/2023 05h04 Atualizado há 6 horas
As taxas de juros nos Estados Unidos podem permanecer no atual patamar de 5,5% até o fim de 2024, na avaliação do ex-vice-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e atual diretor e conselheiro econômico global da Pimco, Richard Clarida. O especialista participou ontem do Itaú BBA Macro Vision e reforçou ver como cenário-base que o BC dos EUA não deve mais subir os juros, mas vai manter as taxas altas por um tempo prolongado.
“Se a inflação daqui a um ano, ou daqui a seis meses, digamos em maio de 2024, estiver em 3,5%, ou acima de 3%, o Fed pode muito bem ter que se engajar novamente [retomar a alta de juros]. Mas os integrantes da autoridade, dos mais agressivos até os mais ‘dovish’ [inclinados a menos aperto], estão notavelmente unidos na opinião de que a inflação entrou em trajetória descendente e sustentada em direção a [meta de] 2%. O que eu chamaria de cenário-base, o mais provável, é que o Fed tenha terminado [o ciclo de alta].”
Conforme Clarida, “isso significa que a taxa dos ‘fed funds’ vão permanecer no topo da faixa, em 5,5%, durante a maior parte do próximo ano. Realmente vai depender dos dados por quanto tempo vão permanecer nesse nível. Se a inflação no fim do próximo ano estiver entre 2,7% e 2,9%, o Fed pode começar a considerar uma flexibilização antes do fim do ano. Mas se a inflação se revelar mais rígida e mais teimosa, o BC americano pode ficar em espera durante todo o próximo ano”.
O diretor da Pimco lembrou que a política monetária funciona com uma defasagem. Existe, na visão do especialista, a possibilidade de os efeitos da forte e rápida elevação de juros feita pelo Fed ainda não estarem totalmente presentes. “Acho que não vimos o [efeito] completo ainda das subidas de taxas sobre a atividade econômica”, ponderou.
Clarida explicou que “o consumidor tem sido muito resiliente”. O crescimento do PIB americano reflete consumo, investimento e compras governamentais, disse. “Nos dados do terceiro trimestre, houve um grande aumento no crescimento do consumo. Penso que isso reflete, em parte, o forte mercado de trabalho e as muitas transferências fiscais nos EUA, que chegaram a cerca de US$ 6 trilhões [durante a pandemia]. As famílias têm uma reserva de poupança excessiva, mas está diminuindo.”
O ex-Fed chamou atenção ainda para o fato de que as altas taxas têm impacto limitado sobre o setor imobiliário americano. “Na economia dos EUA, a maioria das famílias que possuem casas ou apartamentos têm uma hipoteca de taxa prefixada, portanto, as altas taxas de hipotecas de alto padrão não afetam realmente dois terços dos americanos”, afirmou.
Na visão dele, “acabamos de ver o pico de crescimento”. Conforme Clarida, os EUA terão uma redução de crescimento a partir do quarto trimestre de 2024.
O conselheiro da Pimco disse acreditar que o Fed precisa ver a inflação abaixo de 3% ao ano, preferencialmente na faixa entre 2,6% e 2,7%, antes de começar a sinalizar o início do ciclo de queda de juros. “Acho que o [presidente do Fed, Jerome] Powell não vai desistir da meta de inflação de 2%, mas o BC americano estará se aproximando dela a partir de cima. Na década anterior à pandemia, o Fed tentava se aproximar da meta a partir de baixo. Na maior parte dos próximos três anos, parece que a inflação vai ficar acima da meta, mas não acho que eles vão desistir da meta porque acham muito importante manter ancoradas as expectativas de inflação em horizontes mais longos.”
Sobre a possibilidade de o Fed revisar a meta de inflação para cima, Clarida afirmou que o presidente do Fed sempre foi contra esse tipo de iniciativa. “Essa pergunta já foi feita várias vezes e Powell sempre dá a mesma resposta: ele não apoiaria o aumento da meta de inflação”, disse o ex-integrante do BC americano.
Algo que o Fed poderia considerar é que a inflação seria mantida em um intervalo. Para ele, “vários bancos centrais têm alguma versão disso no seu quadro de metas de inflação”. Clarida disse acreditar que o Fed “pode considerar que a meta é de 2%, mas em uma política monetária bem-sucedida manteria a inflação entre 1,5% e 2,5% na maior parte do tempo.”
Fonte: Valor Econômico

