Por Robert Fullem, Yvonne Yue Li e Mary Biekert — Bloomberg
13/07/2022 05h04 Atualizado há 4 horas

O euro chegou à paridade com o dólar em meio a temores sobre a questão energética e o risco de recessão, que afetam as perspectivas para a zona do euro, ao mesmo tempo em que a aversão ao risco alimentou uma alta generalizada da moeda americana. Negociado a US$ 1,0005 na manhã de ontem, o euro superou o seu pior nível da semana passada. A última vez em que a moeda comum europeia esteve tão baixa foi em 2002.
O movimento de queda do euro tem sido rápido e brutal, dado que em fevereiro ainda era negociado em torno de US$ 1,15. O dólar se valorizou com a série de aumentos cada vez maiores nas taxas de juros implementados pelo Federal Reserve (Fed), enquanto a invasão da Ucrânia pela Rússia piorou as perspectivas de crescimento na zona do euro e elevou o custo das importações de energia da região.
“O raciocínio predominante no mercado de câmbio e em todos os ativos continua o mesmo: ainda se considera que o Fed tem espaço para aumentar as taxas mais para a frente, também na esteira do forte relatório de empregos nos EUA de junho”, escreveram analistas do Unicredit em nota. “Por outro lado, outros bancos centrais, como o Banco Central Europeu (BCE) e o Banco da Inglaterra (BoE), podem ser obrigados a se tornarem mais prudentes, dada a exposição mais direta de suas respectivas economias à crise de gás e energia.”
Um euro fraco revelou um entrave importante para o BCE, já que a autoridade precisa tratar do risco de que o aumento dos juros eleve muito as taxas de retorno dos bônus na periferia da zona do euro, de acordo com Jennifer McKeown, da Capital Economics. Por causa disso, o foco do mercado está em saber se o banco central pode manter o estreitamento dos spreads dos bônus de países periféricos com o uso de uma nova ferramenta contra a “fragmentação” – a diferença nos custos das dívidas dos membros do bloco -, de modo a permitir que continue a aumentar as taxas em resposta à alta da inflação.
“Muitas vezes, as pessoas olham para um euro mais fraco e acham que isso é bom para as exportações”, disse McKeown. “Mas neste momento ele é visto como algo que está mais para o negativo. Isso aumenta a pressão inflacionária em termos de inflação importada, o que é uma coisa que o BCE não quer de jeito nenhum.”
As vendas a descoberto de euro – operação usada para lucrar com a queda do valor de um ativo – ficaram entre as transações mais populares entre os profissionais de câmbio na semana passada. Segundo relatório dos estrategistas do Scotiabank, Shaun Osborne e Juan Manuel Herrera Betancourt, a posição do euro teve sua maior mudança semanal em comparação com outras moedas importantes, com aumento de US$ 769 milhões em apostas líquidas de vendas a descoberto, que totalizaram US$ 2,2 bilhões, a maior movimentação desde o fim de novembro.
George Saravelos, chefe mundial de pesquisa de câmbio do Deutsche Bank, disse à “Bloomberg” que pode ver o euro rondando a paridade, em especial em um cenário de “interrupção completa de gás” do gasoduto Nord Stream 1. Ele disse que o banco estima que o preço do euro vá se mover em uma faixa entre US$ 0,95 e a paridade em relação ao dólar. “Eu de verdade não diria que US$ 0,95 seria despropositado”, afirmou Saravelos. “Mesmo que esse gás volte em termos de fluxo total depois do período de manutenção, é pouco provável que o prêmio [de risco] desapareça. E acho que isso é uma coisa crítica que mudou ao longo das últimas semanas”, diz.
O analista do Citigroup Tom Fitzpatrick disse que estava “apostando tudo” em vender o euro a descoberto em relação ao dólar, e precificou a opção de venda sobre o par euro-dólar em US$ 0,95.
Mesmo assim, alguns estrategistas mostram menos entusiasmo com o dólar e a trajetória de curto prazo do euro. “É difícil argumentar contra a posse de dólares com uma atitude tão agressiva do Fed e o monte de problemas na Europa”, diz Brad Bechtel, estrategista de câmbio da Jefferies. Mas não seria surpresa ver “uma recuperação de curto prazo”.
Fonte: Valor Econômico

