Por Valor, Com Agências Internacionais, Valor — Taipé e Pequim
05/06/2023 22h27 Atualizado há 11 horas
A Marinha dos EUA divulgou domingo um vídeo do que chamou de “interação insegura” no Estreito de Taiwan, em que um navio de guerra chinês cruzou na frente de um contratorpedeiro dos EUA no canal.
A aproximação ocorre no momento em que os dois países se culpam por não manterem negociações militares – com divergências entre os dois sobre tudo, desde comércio e Taiwan até a invasão da Ucrânia pela Rússia – e levanta o espectro de confrontos futuros que podem sair do controle.
A Casa Branca disse nesta segunda-feira que as manobras de interceptação militar por navios e aviões chineses sugerem uma “agressividade crescente” de Pequim e podem levar a um acidente que pode resultar em ferimentos. “Não vai demorar muito para que alguém se machuque”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, a repórteres na Casa Branca. “Essa é a preocupação com essas interceptações inseguras e não profissionais. Elas podem levar a mal-entendidos, podem levar a erros de cálculo.”
Os militares dos EUA disseram que o USS Chung-Hoon, um contratorpedeiro, e a fragata HMCS Montreal, do Canadá, estavam realizando um trânsito “rotineiro” no estreito no sábado, quando o navio chinês passou na frente do navio dos EUA, chegando a 150 jardas (137 metros).
No vídeo divulgado pela Marinha dos EUA, um navio de guerra chinês pode ser visto claramente navegando na direção do Chung-Hoon em águas calmas. O Chung-Hoon não muda de curso.
Uma voz pode ser ouvida em inglês, aparentemente enviando uma mensagem de rádio para o navio chinês, alertando contra “tentativas de limitar a liberdade de navegação”, embora o texto exato não esteja claro por causa do ruído do vento.
“As medidas tomadas pelos militares chineses são completamente razoáveis, legítimas, profissionais e seguras”, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
“Os EUA causaram problemas e provocações primeiro, enquanto a China lidou com isso de acordo com a lei e os regulamentos depois”, disse Wang em entrevista coletiva regular na segunda-feira, quando questionado sobre o vídeo divulgado pela Marinha dos EUA.
O Ministério da Defesa chinês não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Reuters na segunda-feira.
Na noite de sábado, os militares da China repreenderam os Estados Unidos e o Canadá por “provocarem riscos deliberadamente” com a rara navegação conjunta.
O comentarista militar chinês Song Zhongping disse à Reuters que essa “interceptação à queima-roupa” foi uma demonstração das capacidades e da “coragem” da Marinha chinesa.
“Quanto mais intensificada a provocação dos Estados Unidos, mais fortes as contramedidas da China”, disse Song.
Este foi a segunda interceptação do tipo nos últimos dias.
Em 26 de maio, um caça chinês realizou uma manobra “desnecessariamente agressiva” perto de um avião militar dos EUA sobre o Mar do Sul da China no espaço aéreo internacional, segundo os EUA.
“Parece-me que Pequim instruiu suas forças a responder de forma mais assertiva contra o que acredita estar invadindo as forças dos EUA e aliadas”, disse Derek Grossman, analista sênior de defesa da Rand Corporation, um think tank dos EUA.
“Ao fazer isso, a China está apenas aumentando as chances de erros de cálculo – ou seja, navios ou aeronaves colidindo acidentalmente – que poderiam levar a um conflito armado”, acrescentou.
Em 2001, um avião espião dos EUA fez um pouso de emergência na ilha chinesa de Hainan após uma colisão com um caça chinês, cujo piloto morreu.
O Ministério da Defesa de Taiwan chamou no domingo as ações da China com os navios dos EUA e do Canadá de “provocação” e disse que é responsabilidade comum dos países livres e democráticos manter a paz e a estabilidade no estreito.
“Qualquer ação para aumentar a tensão e o perigo não contribuirá para a segurança regional”, afirmou em comunicado.
O ministério pediu à China que respeite o direito à liberdade de navegação.
A China vê Taiwan como seu próprio território, uma afirmação que o governo de Taipé rejeita veementemente.
Pequim vem intensificando a pressão militar e política para tentar forçar Taiwan a aceitar sua soberania, incluindo manobras regulares perto da ilha.
Fonte: Valor Econômico

