Os EUA estão se preparando para interceptar mais navios que transportam petróleo venezuelano após a apreensão de um petroleiro anunciada na quarta-feira, aumentando a pressão sobre o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Por meio de um comunicado do Departamento do Tesouro, o governo do presidente Donald Trump publicou sanções contra as embarcações e a três sobrinhos de Maduro.
Washington também defendeu a legalidade da abordagem do petroleiro Skipper, alegando que o navio, de bandeira declarada guianense, já era alvo de sanções por transportar petróleo iraniano – quando ainda tinha outro nome. A Casa Branca afirmou que a ação militar na costa venezuelana teve o respaldo de um mandado do Departamento de Justiça.
Questionada sobre se o governo Trump planejava novas apreensões, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse a repórteres que não comentaria sobre ações futuras, mas afirmou que os EUA continuariam a executar as políticas de sanções do presidente. “Não vamos ficar de braços cruzados enquanto navios não autorizados navegam pelos mares com petróleo do mercado paralelo, cuja receita financiará o narcoterrorismo de regimes autoritários e ilegítimos em todo o mundo”, disse ela.
Segundo uma pessoa familiarizada com o assunto, o Departamento de Justiça e o Departamento de Segurança Interna dos EUA vinham planejando as apreensões há meses. O governo Trump anunciou ainda que o navio apreendido e sua carga serão confiscados e levados a um porto americano – uma ação que Maduro qualificou de “roubo” e “pirataria”.
Não ficaremos de braços cruzados enquanto navios ilegais estão livres”
Uma redução ou paralisação das exportações de petróleo venezuelanas, principal fonte de receita do governo da Venezuela, pressionaria as finanças do governo Maduro. Estima-se que a Venezuela produza entre 500.000 e 900.000 barris de petróleo por dia – a maior parte para a China.
Não ficou claro o papel que os parentes de Maduro exerceram na indústria petrolífera do país.
A apreensão do petroleiro Skipper ocorreu após os EUA terem realizado, nos últimos meses, mais de 20 ataques contra o que alegam ser embarcações de narcotráfico no Caribe e no Pacífico, matando mais de 80 pessoas. Especialistas afirmam que os ataques podem ser extrajudiciais e ilegais, enquanto os EUA argumentam que estão protegendo cidadãos americanos de cartéis de drogas que classificam como organizações terroristas.
Das seis embarcações que entraram ontem na lista de sanções, quatro estão sediadas nas Ilhas Marshall – paraíso fiscal onde está registrada também a empresa controladora do petroleiro Skipper -, uma no Reino Unido e outra nas Ilhas Virgens Britânicas.
As medidas buscam bloquear o acesso das pessoas e empresas sancionadas a qualquer bem ou ativo financeiro mantido nos EUA, além de impedir que empresas e cidadãos americanos façam negócios com esses entes suspeitos. Bancos e instituições financeiras que desrespeitarem essas restrições poderão enfrentar sanções secundárias ou ações de fiscalização.
Trump vem levantando repetidamente a possibilidade de intervenção militar na Venezuela, acusando o país de enviar drogas para os EUA. E, em um documento estratégico divulgado na semana passada, ele destacou que a política externa de seu governo teria como foco reafirmar a influência dos EUA no Hemisfério Ocidental – uma denominação que, em geral, se refere à América Latina.
Maduro, por sua vez, alega que a presença reforçada de 15.000 soldados dos EUA na região visa a derrubá-lo para o controle das reservas de petróleo do país sul-americano.
O líder venezuelano tem reagido buscando o apoio de antigos aliados. Ontem, ele recebeu o apoio do presidente russo, Vladimir Putin, por meio de uma conversa por telefone. Maduro também recebeu a solidariedade do presidente de Belarus, Alexander Lukashenko – que está no poder por sete mandatos e se encontrou ontem com Jesús Rafael Salazar Velázquez, embaixador venezuelano em Moscou.
De acordo com o governo do Brasil, ele conversou por telefone também com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A chamada ocorreu na semana passada e foi a primeira entre os líderes em cerca de um ano (ver Lula e Maduro rompem silêncio e discutem possível ataque dos EUA).
Ainda ontem, uma comissão de investigação das Nações Unidas apresentou um relatório acusando a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) da Venezuela de cometer graves violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade ao longo de mais de uma década ao perseguir opositores políticos.
Fonte: Valor Econômico

