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Goolsbee, do Fed Chicago, diz que juro não está ‘extremamente’ restritivo — Foto: Vincent Alban/Bloomberg
O processo de desaceleração da economia dos EUA, que acionou um sinal vermelho nos mercados financeiros, levanta questionamentos sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed, banco central) na condução da política monetária. As apostas em um corte de 0,5 ponto nos juros americanos em setembro se tornaram majoritárias e, diante do estresse, alguns agentes passaram a cogitar, até mesmo, uma reunião extraordinária do banco central americano caso a aversão a risco nos ativos financeiros se intensifique.
Dados do CME Group apontam que, no início da noite de ontem, o mercado precificava 83% de chance de uma redução de 0,5 ponto percentual nos juros, para a faixa de 4,75% a 5%, e de 17% de possibilidade de um corte de 0,25 ponto.
“O Fed, agora, verá um risco assimétrico em relação ao emprego e ao crescimento, tornando os cortes de 0,5 ponto prováveis em setembro e em novembro e deixando os riscos mais inclinados para cortes ainda mais rápidos e profundos”, avalia o economista-chefe para EUA do Citi, Andrew Hollenhorst, em nota enviada a clientes. Para ele, uma reunião extraordinária do Fed “é possível, caso a liquidação dos ativos de risco continue, mas não é nosso cenário base”.
O Citi foi um dos primeiros bancos a projetar um corte maior nos juros americanos, de 0,5 ponto, já em setembro. Hollenhorst lembra que, nas projeções do Fed de junho, o banco central projetava a taxa de desemprego atingindo o pico de 4,2% neste ano. Assim, o aumento do desemprego, que subiu para 4,3% em julho, começa a desafiar o cenário base do próprio Fed, o que pode ser entendido como um sinal para um “ritmo acelerado de cortes nos juros”.
“Qualquer indicação adicional de uma economia em desaceleração [incluindo a taxa de desemprego permanecendo no nível atual ou subindo ainda mais em agosto] não apenas irá garantir um corte de 0,5 ponto nos juros em setembro, mas provavelmente aumentará o risco de que os dirigentes do Fed queiram prosseguir ainda mais rápido em direção a uma taxa de juros neutra”, enfatiza o economista do Citi, ao apontar que um aperto das condições financeiras, derivado de uma piora nos mercados, também pode provocar maior rapidez nos cortes.
Na tentativa de acalmar os mercados, o presidente da distrital de Chicago do Fed, Austan Goolsbee, concordou que há em curso um enfraquecimento do mercado de trabalho nos EUA, mas não ao ponto de se considerar que os EUA estão entrando em recessão. Para ele, embora a política monetária esteja no campo restritivo, ela não está “extremamente restritiva”. “Temos que ter cuidado em tirar conclusões.”
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As declarações de Goolsbee foram dadas em entrevista à “CNBC”. De acordo com o dirigente, apesar dos números mais fracos do emprego, é preciso olhar para a economia como um todo para que o Fed tome as decisões. Ele citou, como exemplo, a resiliência dos gastos dos consumidores americanos.
O Citi não foi o único banco a alterar seu cenário básico para projetar um corte maior dos juros americanos a partir de setembro. Em revisão de cenário publicada ainda no domingo à noite, o economista-chefe do Wells Fargo, Jay Bryson, revelou que o banco agora espera duas reduções de 0,5 ponto nas taxas – em setembro e em novembro -, ao avaliar que a missão do Fed em colocar a inflação em direção à meta de 2% foi bem-sucedida e ao lembrar que a política monetária segue bastante restritiva.
“Dados recentes sugerem que os riscos para a parte do ‘pleno emprego’ do mandato duplo do Fed estão aumentando”, diz Bryson. “Conforme medido pela taxa real dos Fed funds, a postura da política monetária está bastante restritiva no momento. Em nossa opinião, o Fed precisa retornar a uma postura ‘neutra’ rapidamente ou então corre o risco de um círculo vicioso de fraqueza do mercado de trabalho levar a um consumo menor, o que levaria a mais fraqueza no mercado de trabalho”, afirma.
Ontem, a taxa da T-note de dois anos apagou parte da queda vista no fim da semana passada e voltou a subir, ao passar de 3,890% para 3,937%. Já nos juros mais longos, o retorno do papel de dez anos seguiu abaixo do nível simbólico de 4%, ao ficar em 3,798%. Vale notar que, durante alguns momentos do dia, os juros curtos voltaram a ficar abaixo das taxas longas, em uma “desinversão” da curva de juros. O movimento é relevante, mas não se sustentou até o fim do dia.
Na avaliação do Wells Fargo, o Fed deve reduzir os juros até o intervalo entre 3,25% e 3,50% em meados do ano que vem, “o que está próximo do que muitos observadores, incluindo nós e vários membros do Fed, consideram neutro”. O banco ainda espera que a economia americana continue em expansão diante da flexibilização monetária agressiva prevista.
Parte do mercado, porém, acredita que ainda é cedo para embarcar em um corte mais agressivo nos juros americanos já no início de um ciclo de flexibilização. Em relatório enviado a clientes, os economistas do Morgan Stanley avaliam que, “embora haja evidências claras de arrefecimento” do mercado de trabalho, ainda é muito ruidoso para justificar um corte de 0,5 ponto nos juros em setembro.
“E se a leitura do ‘payroll’ do próximo mês ficar abaixo de 100 mil empregos criados e a taxa de desemprego permanecer em 4,3% ou subir mais? Certamente isso colocaria um corte de 0,5 ponto na mesa, assumindo que não haja surpresas na frente inflacionária, mas não levaria o Fed a um corte entre reuniões”, dizem. Para eles, seria preciso um estresse nos mercados de crédito “e não há sinais disso”.
Fonte: Valor Econômico

