Por Augusto Decker e Arthur Cagliari — De São Paulo
24/11/2023 05h03 Atualizado há 51 minutos
Após três meses consecutivos de saques, o investidor estrangeiro voltou a apostar na bolsa brasileira em novembro. Conforme os dados mais recentes divulgados pela B3, até o dia 21 deste mês a categoria registrou aportes líquidos de R$ 13,04 bilhões em ações já em circulação. Ainda que não represente o mês completo, esse volume é superior aos aportes registrados em qualquer outro mês cheio deste ano – em janeiro, que vinha até agora como o melhor mês de 2023, os não residentes tiveram saldo positivo de R$ 12,55 bilhões. Em novembro, até o dia 21, os investidores institucionais locais sacaram R$ 10,88 bilhões e os individuais retiraram R$ 5,52 bilhões.
O movimento dos estrangeiros se explica principalmente pelo fechamento na curva de juros dos Estados Unidos. Os títulos americanos são considerados o investimento mais seguro do mundo, portanto o rendimento de todas as outras aplicações é comparado com o dos Treasuries. Dessa forma, quando os juros longos nos Estados Unidos apresentam queda, outros ativos costumam receber mais recursos.
Os juros longos americanos recuaram recentemente porque o mercado passou a acreditar que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) não elevará mais os juros no atual ciclo de aperto, e que o corte das taxas pode começar antes do que se projetava anteriormente. A mudança de cenário aconteceu em razão de indicadores que sinalizaram desaceleração da economia americana. Este mês, os dados de inflação, mercado de trabalho e produção industrial nos EUA vieram piores do que as estimativas de consenso do mercado.
“O gráfico do Treasury é a resposta para isso [o aumento do fluxo estrangeiro para ações]. Caindo o rendimento dos Treasuries, o investidor tende a tomar mais risco”, afirma a estrategista de ações para Brasil e América Latina do J.P. Morgan, Emy Shayo Cherman. “Vejo isso como tendência porque os dados dos EUA apontam para um cenário mais benigno para o ano que vem.”
Os próximos dados dos EUA deverão definir se recursos do exterior continuarão vindo para a bolsa brasileira. “Podemos ter um novo ciclo muito bom para a bolsa se os próximos dados mostrarem números mais fracos de inflação e atividade, a ponto de sinalizar que não é mais preciso subir juros [nos EUA]. Entretanto, é importante que os indicadores não sejam fracos a ponto de sinalizarem que o país está em recessão”, afirma Tiago Cunha, gestor de renda variável da ACE Capital.
Cunha acredita que, caso os dados indiquem que os juros americanos poderão começar a cair, o Ibovespa ainda pode subir entre 10% e 15% até o fim deste ano. Para ele, os setores mais beneficiados com os recursos estrangeiros tendem a ser os papéis com maior peso no índice local, como as companhias de commodities e os bancos. “Quem faz macroalocação geralmente olha de cima para baixo e costuma comprar índice. Esse alocador não costuma comprar ‘no detalhe’, ele quer se posicionar rapidamente e sair rapidamente, então compra os papéis que tiverem mais liquidez.”
Jennie Li, estrategista de ações da XP, concorda que os próximos indicadores americanos serão fundamentais para a manutenção ou não da migração de recursos do exterior para as ações brasileiras. “Se continuarmos vendo um movimento positivo de Treasuries, de otimismo em relação ao aperto monetário, acho que isso pode continuar. Mas, por outro lado, se tivermos um tom mais duro do Fed, o apetite por risco pode piorar e podemos voltar a ver desaceleração no fluxo de capital estrangeiro para a bolsa”, diz ela.
A estrategista lembra que o BC americano ainda tem mais uma reunião de política monetária prevista para este ano, no dia 13 de dezembro. As apostas do mercado são quase unânimes no sentido de manutenção da taxa básica no atual patamar, entre 5,25% e 5,5%. No entanto, o presidente da autarquia, Jerome Powell, poderá dar sinais mais agressivos do que agentes esperam na entrevista coletiva após a reunião.
Por enquanto, porém, a perspectiva é positiva, o que levou os estrangeiros a aportarem mais recursos na B3. Com o fluxo adicional, o Ibovespa acumula alta de 11,87% no mês de novembro. Shayo, do J.P. Morgan, afirma: “Se continuar assim, teremos o fluxo estrangeiro ajudando a bolsa, chegando a níveis recordes.”
Ontem, o índice de referência da bolsa brasileira deu continuidade à tendência de alta vista nos últimos dias e fechou com avanço de 0,43%, aos 126.576 pontos. O dólar comercial teve leve avanço de 0,11%, a R$ 4,9068. A liquidez da sessão foi reduzida em razão do feriado de Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, que fechou os mercados no país.
Fonte: Valor Econômico

