O chairman do BTGCotação de BTG Pactual, André Esteves, afirmou que sanções internacionais não são novidade para o sistema financeiro brasileiro, que já lidou com centenas de casos similares. Sem citar especificamente o uso da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, ele disse que não prevê nenhuma “desarmonização” em relação às sanções.
“Existem centenas de indivíduos sancionados, os bancos estão preparados para isso, não vejo nenhuma desarmonização. Eles vão seguir caminhando com as regras locais e internacionais, como têm feito. Não prevejo nenhuma bagunça institucional vindo daí”, comentou em evento promovido pelo grupo Esfera em São Paulo.
Fontes do setor ouvidas pelo Valor nos últimos dias vêm dizendo acreditar que seja possível aos bancos cumprir as sanções e ao mesmo tempo não afrontar a decisão do ministro do STF Flavio Dino, que reforçou que leis internacionais não têm validade automática no Brasil. A visão, no entanto, não é unanimidade, e há quem tema uma escalada das sanções.
Para Esteves, o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não deve ter um impacto relevante para a economia brasileira. “Vivemos nossa angústia aqui, pode ter impacto em alguns setores, algumas empresas podem ter um efeito mais agudo, mas é um tema mais micro. O diálogo está aberto com diversos setores [do governo dos EUA] e espero que, ao longo do tempo, isso vá se amenizando.”
Para a política monetária doméstica, Esteves disse que o IPCA de agosto pode vir até negativo e que há espaço para o Banco Central (BC) cortar juros. “O BC está fazendo certinho, parte do trabalho é do Roberto [Campos Neto, ex-presidente da autoridade monetária], parte do [atual presidente, Gabriel] Galípolo. Tem uma diretoria bem coordenada.”
No painel anterior do mesmo evento estava Campos Neto, atual vice-chairman e chefe global de políticas públicas do Nubank. Ele comentou que as condições de curto prazo devem propiciar uma queda de juros. Ainda assim, ressaltou que, para ter um juro estruturalmente mais baixo, o Brasil precisaria de um quadro fiscal estruturalmente diferente.
“Não vejo capacidade de ter juros muito abaixo [do nível atual]. Com as condições de curto prazo, provavelmente poderão cair os juros, mas para ter um juro estruturalmente mais baixo, precisamos de um fiscal estruturalmente diferente”, disse. “Do jeito que está hoje, acho que se consegue melhorar um pouco [a questão fiscal], mas não muito, estruturalmente, a trajetória da dívida. Com as condições fiscais atuais, o juro pode cair para 13%, 12%. Ir para 11% já seria otimista.”
Fonte: Valor Econômico

