Por Rafael Vazquez — De São Paulo
23/12/2022 05h01 Atualizado há 6 horas
Os nomes anunciados ontem para as secretarias do Ministério da Fazenda foram recebidos com neutralidade pelos agentes econômicos. Contudo, segundo economistas ouvidos pelo Valor, isso se deu mais pelo fato de já serem esperados do que por uma receptividade positiva. O sinal é que o foco principal será mais no aumento da arrecadação do que no controle dos gastos.
Rogério Ceron, que assumirá a Secretaria do Tesouro Nacional, Robinson Barreirinhas, que comandará a Secretaria da Receita Federal, e Marcos Barbosa Pinto, que assumirá a Secretaria de Reformas, foram vistos com mais simpatia do que Guilherme Mello, que será o secretário de Política Econômica. Isso porque Mello foi um dos propositores da PEC da Transição, que incomodou o mercado devido ao tamanho dos gastos incluídos para o ano que vem.
Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, faltou um nome na equipe do Ministério da Fazenda que tenha mais ligado à organização da estrutura de gastos ao longo do governo Lula. “Não tem um grande formulador de política econômica como se teve no passado. No próprio governo Lula em 2003 tinha o Marcos Lisboa. Está faltando esse nome”, disse.
“O que foi montado até agora não dá espaço para se pensar que vai haver uma coisa bem pensada em relação à estrutura de gastos. O foco central dessa equipe toda vai ser arrecadação. A tendência é que olhem como se pode aumentar a arrecadação sem necessariamente elevar a alíquota, pelo menos no primeiro momento”, acrescenta Vale.
Na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Bernard Appy, anteriormente anunciado como secretário especial para a reforma tributária, deve pensar a questão fiscal dentro da reforma para a qual foi designado, mas tampouco é a pessoa que vai ter um pensamento no ajuste fiscal do lado do gasto.
“Não me parece que alguma secretaria especial será criada para trabalhar essa questão de estrutura dos gastos. E essa pessoa tampouco virá pelo Ministério do Planejamento”, declarou Vale, enfatizando a ausência do nome que comandará o Planejamento faz pouca diferença a essa altura. “O mercado estava mais interessado na equipe da Fazenda que pensará o arcabouço fiscal no ano que vem. Isso virá da Fazenda, e não do Planejamento”, justifica.
Ao avaliar a composição de outros nomes anunciados ontem,, como o de Geraldo Alckmin, no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e Esther Dweck como ministra da Gestão, Valle acredita que tampouco muda a tendência de uma política econômica mais preocupada com a arrecadação e menos fiscalista.
“Não vejo o Alckmin sendo protagonista nessa questão fiscal, como se pensava no início da transição. Ele vai estar olhando outras questões mais relacionadas à política industrial e inovação e vai passar longe disso”, acredita Vale.
Por outro lado, elogiou a equipe formada por Aloizio Mercadante para as diretorias do BNDES. “Com a diretoria competente de um lado e Alckmin do outro no ministério, o banco estará blindado contra decisões ruins”, opina.
Já para Matheus Pizzani, economista da CM Capital, projeções mais precisas sobre a condução da política econômica do governo Lula ainda dependem do nome a ser colocado no Planejamento e principalmente a definição da âncora fiscal a partir do ano que vem.
“Os nomes em questão [no Ministério da Fazenda] refletem uma opção do futuro ministro [Haddad] por trabalhar não só com pessoas que são de sua confiança, mas que possuem experiência no setor público e devem ser capazes de contribuir já no curto prazo com as atividades do ministério tendo em vista que já possuem conhecimento prévio do funcionamento da máquina pública. São nomes não devem ser relacionados com eventuais movimentações bruscas no mercado, uma vez que não se tratam de figuras ligadas ao setor financeiro, tampouco ao mundo estritamente político”, disse.
Fonte: Valor Econômico

